por Thaís Petroff
Assim como em outras linhas teóricas da psicologia, a TCC acredita que muitos dos comportamentos *disfuncionais têm sua origem na infância. Mas a elaboração e manutenção dos mesmos se perpetua na vida adulta.
Por exemplo, uma criança que não recebe atenção, afeto e cuidados dos pais pode começar a desenvolver uma maneira disfuncional de perceber o mundo, pensando, sentindo e agindo dentro dessa mesma maneira. Pode desenvolver um esquema de **privação emocional e quando adulta manter crenças exageradas de que não está sendo cuidada e compreendida pelas outras pessoas. Em função disso pode sentir-se muito sozinha e criar uma grande dependência em relação aos outros.
O que são esquemas?
São temas amplos e persistentes, relacionados a si mesmo, ao relacionamento com os outros e com a visão de mundo. Desenvolvem-se como resultado de experiências disfuncionais contínuas com os pais, irmãos, familiares e amigos e vão ganhando forma conforme a criança busca compreender essas experiências e evitar um sofrimento adicional. Os esquemas são, portanto, tentativas da criança de lidar da melhor maneira possível para ela com experiências doloridas de seu presente.
Esquemas foram definidos como: “elementos organizados de reações e experiências passadas que formam um corpo de conhecimento relativamente coeso e persistente, capaz de guiar a percepção e as avaliações subsequentes” (Segal, 1988, p. 147).
Para o psiquiatra americano Aaron Beck criador da TCC, “um esquema é uma estrutura (cognitiva) que filtra, codifica e avalia os estímulos que impingem sobre o organismo…”
O que os torna disfuncionais, é que são mantidos e perpetuados por toda a vida e em situações em que não necessariamente se “encaixam”. Transformam-se em padrões arraigados de pensamentos e crenças distorcidas. Em função de se autoperpetuarem durante a vida, tornam-se extremamente resistentes a mudanças e também por desenvolverem-se cedo (na infância), tornam-se familiares e confortáveis dificultando imensamente a modificação dos mesmos. Geralmente são centrados no autoconceito que a pessoa tem de si mesma e sobre sua concepção dos outros e do ambiente.
Um exemplo é um adulto com esquema de incompetência que mesmo recebendo repetidamente feedbacks de seu ótimo desempenho, continua a acreditar que deixa a desejar em sua atuação.
É criada uma forma de ser e enxergar as relações e o mundo, e essa estrutura (o esquema) é que define como as experiências futuras serão processadas e internalizadas.
Uma analogia é desenvolvermos uma ou algumas crenças como se fossem "caixas" as quais definem o que podemos “pegar do mundo”. Enfim, esse conteúdo que será “encaixado” são as crenças que temos.
O psicólogo americano Jeffrey Young desenvolveu 18 esquemas com suas descrições cognitivas, comportamentais e as experiências geradoras de cada um e uma terapia específica para tratá-los. Nos dois textos subsequentes, tratarei desses tópicos.
*Disfuncional (ou desadaptativo): o termo não possui uma tradução exata. Numa linguagem coloquial disfuncional é algo negativo, ruim para o sujeito.
** Privação emocional – ex: ser privado de afeto ou se sentir como se fosse.