Por Arlete Gavranic
Não existem relacionamentos totalmente estáveis, cor-de-rosa!
Mas alguns relacionamentos têm uma convivência doentia, pois pensamentos e sentimentos – positivos e negativos – existem simultaneamente alimentando sempre um quadro de insegurança e incertezas que podem adoecer uma ou ambas as partes.
Nesse tipo de relacionamento há sempre um lado dominante e um lado dependente; e lidam com um jogo de pensamentos de amor e raiva, satisfação e insatisfação, prazer e desprazer. A sensação ora de apoio ou de negativa do outro gera mais insegurança e uma incerteza doentia.
O lado dominante tende a ser manipulador, ele sabe (pensa) que deveria abandonar o relacionamento, mas não deseja perder alguns ganhos que identifica nessa convivência, seja sentir-se amado ou uma vida socialmente estável. No entanto, sente (deseja) que deveria romper.
Já o dependente, ao contrário, sente vontade de fazer de tudo para segurar esse 'amor', mas sua razão pensa que esse não é o melhor, pois percebe indiferenças e desinteresse por parte do outro, o que faz com que ele passe a ser mais submisso e, consequentemente, dependente e vulnerável frente o outro.
No dominante há desejos de viver outro amor, ou de ser livre, ou de encontrar alguém que o 'deixe de pernas bambas', que lhe interesse; no dependente as insatisfações vêm pelo desejo de sentir-se amado , desejado, de ter alguém que ouça suas ideias, vontades e queira viver isso junto. Ambos têm suas insatisfações. Ambos têm sentimentos positivos um pelo outro, mas não sabem se identificam isso como amor, e ai vivem a ambivalência. Na verdade há uma codependência que impede muitas vezes a clareza de enxergar o que o prende a uma relação que faz mal ou cria carências e fragilidades, pois alimenta a cômoda sensação de bem-estar com alguma condição boa que seja vivida com o outro e ajuda a mascarar esse vinculo 'de amor' ou a adiar a resolução do conflito.
Confesso a vocês que como terapeuta vejo em muitos dominantes o desejo de viver ou reviver sentimentos de paixão e conquista, e essa adrenalina não se faz presente em tanta intensidade nas relações longas. O dominante se esforça para ver o lado positivo da parceria, mas muitas vezes o 'contrato' e a rotina da vida geram desencantos. Mas pensar na atitude de romper gera medo (vou perder alguém que gosta de mim), sentimentalismos, culpa e de novo a indecisão.
Terapeuticamente podemos observar casais que nesse momento se aproximam, revivem um apaixonamento e o dominante desiste ou nem entende o porquê pensaria em romper esse relacionamento. Assim o casal foca no relacionamento com dedicação e desfrutam de uma alegria e prazer verdadeiro. Mas sabemos que na verdade esse recomeçar dependerá de muito amadurecimento do vinculo casal e da relação codependente; e também muito da estabilidade emocional do dominante, seja uma mulher ou um homem.
Se não houver um trabalho no sentido de amadurecer suas escolhas, e assumir seus desejos, ele retornará ciclicamente ao mesmo movimento de insatisfação.
A personalidade dominante exige muita atenção. A vaidade de conquistar, de sentir-se querido(a) desejado(a), de viver a aventura, e sentir a adrenalina que o faz sentir vivo faz com que este fique vulnerável a outras paqueras, oportunidades ou possibilidades que apareçam, dificultando o amadurecimento necessário para superar esse padrão do relacionamento ambivalente. O dependente pode se tornar uma eterna vítima à espera de amor e, inseguro, tende a desenvolver quadros de depressão e ansiedade.
Para finalizar precisamos amadurecer e refletir…
Não há paixões que durem para sempre no ímpeto da adrenalina, mas podem amadurecer e virar amor, consistente e duradouro. E se houver investimento do casal, pode haver entusiasmo em sair da monotonia de uma rotina.