por Flávio Gikovate
Acredito que se possa entender o amor como um instinto. Uso este termo para determinar desejos que surgem espontaneamente em nós. Relaciono a existência deste desejo persistente em estabelecermos um elo intenso, estável, e se possível, permanente com outra pessoa, envolvendo nossas experiências originais.
Nossas primeiras sensações como seres vivos se deram durante a simbiose uterina. Nossa grande frustração e dor original provavelmente foi o ato de nascer, a ruptura da simbiose, a "expulsão do paraíso". Com a ruptura do elo dual, experimentamos terríveis sensações de dor, desamparo e mesmo desespero.
Buscamos desesperadamente reencontrar o equilíbrio e o bem-estar perdido, buscamos a reconstrução do elo. É evidente que no início, o objeto de nosso desejo de reconstrução é a mãe, a figura original da simbiose.
O bebê sente algo parecido com a paz original, quando vai para o colo da mãe, quando dela se alimenta. Se chorava desesperado, agora se apazigua e adormece.
O objetivo da reconstrução do vínculo dual é a recuperação da paz, da harmonia interior e da serenidade.
A sensação derivada de se perceber sozinho é terrível, e a palavra que utilizo para descrevê-la é desamparo.
Não são poucas as pessoas que experimentam essas sensações dolorosas de desamparo quando se reconhecem sem companhia na vida adulta. Nessas condições costumam utilizar o termo solidão. Isso, mesmo para aquele que aprende a viver bem consigo mesmo, a suportar a dor e o desamparo – que ao longo dos anos para ele se atenua. Sobra assim o desejo de reconstrução de um vínculo, de um elo especial com outra criatura.