por Ricardo Arida
O artigo anterior – clique aqui e leia – mostrou os efeitos benéficos da atividade física na epilepsia, assim como as indicações e contra-indicações de atividades esportivas. É importante ressaltar que além dos efeitos fisiológicos e psicológicos positivos da atividade física na epilepsia, consequências importantes na qualidade de vida desses indivíduos são observadas após uma atividade física regular.
Os efeitos negativos da epilepsia na qualidade de vida estão bem descrito na literatura. Vários fatores como, condições emocionais, cognitivas e comportamentais, estabilidade familiar, autoestima, estigma e controle das crises epilépticas parecem ser de fundamental importância para a qualidade de vida do indivíduo com epilepsia.
Alguns estudos têm mostrado um significante impacto das crises epilépticas em vários domínios da qualidade de vida, particularmente com grande efeito nos hábitos de atividade física. Neste sentido, as pesquisas têm mostrado um baixo grau de participação em atividades físicas entre pessoas com epilepsia. O grau de participação em atividades físicas de pessoas com epilepsia tem sido considerado baixo. Um estudo na Noruega mostrou que somente 23% das pessoas com epilepsia participavam regularmente de atividade física. Apesar de vários estudos epidemiológicos terem sido realizados a este respeito, estas amostras de pessoas com epilepsia não podem ser aplicáveis aos paises em desenvolvimento, devido a condições socioeconômicas, culturais e de assistência à saúde.
Neste sentido, um estudo realizado no Brasil *(Arida e colaboradores, 2003) analisou o grau de participação em atividades físicas entre brasileiros com epilepsia. Apesar de que somente 15% das pessoas com epilepsia serem qualificadas como ativas, isto é, exercitavam regularmente, mais da metade delas participava de alguma atividade física uma ou duas vezes por semana ou nos fins de semana.
Crise induzida pelo exercício físico é a maior preocupação
Enquanto que a principal preocupação das pessoas com epilepsia em relação ao exercício parece ser a crise induzida pelo exercício físico, outros fatores como a falta de facilidades para praticarem exercícios, problemas com transporte, baixa motivação, efeitos adversos das drogas antiepilépticas e falta de profissionais qualificados que sabem como lidar com esses problemas são vistos como importantes fatores justificáveis para uma baixa participação em atividades físicas ou esportivas.
Pessoas com epilepsia frequentemente apresentam doenças psiquiátricas, especialmente depressão e ansiedade, além de uma baixa auto-estima. Todos esses problemas de causa emocional prejudicam a qualidade de vida das pessoas com epilepsia. Na população geral, o exercício físico moderado tem sido mostrado em fornecer efeitos benéficos no humor, na melhora da depressão, atenuando o impacto dos eventos estressantes da vida diária.
Inúmeras pesquisas demonstram que as pessoas com epilepsia podem obter efeitos psicológicos positivos da atividade física. Por exemplo, **um estudo mostrou que os indivíduos ativos com epilepsia tinham níveis significantemente mais baixos de depressão e melhora psicossocial que as pessoas inativas. ***Outros estudos mostraram uma melhora da qualidade de vida, uma melhora no estado mental assim como uma melhor sociabilidade. ****Outro estudo mostrou que uma melhora no humor e qualidade de vida das pessoas com epilepsia que participavam de um programa de exercícios de 12 semanas.
Ao mesmo tempo em que o exercício físico modifica positivamente os aspectos fisiológicos e psicológicos de pessoas com epilepsia, restringi-los da participação de atividades físicas ou esportivas pode causar efeitos deletérios físicos e mentais. Restringir esses indivíduos do exercício físico pode causar um sentimento de inferioridade que pode levara depressão e ansiedade. Os riscos envolvidos na participação esportiva deveriam ser considerados em relação ao trauma psicológico resultante de restrição desnecessária de atividades físicas. Acredita-se que as alterações emocionais decorridas pela restrição da atividade esportiva nestes indivíduos são mais prejudiciais que as próprias crises epilépticas.
Dos vários fatores envolvidos na melhora da qualidade de vida de pessoas com epilepsia, a atividade física regular, programas de exercícios físicos ou atividades esportivas exercem importante papel neste contexto.
* Epilepsy & Behavior, 2003; 4: 507–510. Evaluation of physical exercise habits in Brazilian patients with epilepsy. Ricardo Mario Arida, Fulvio Alexandre Scorza, Marly de Albuquerque, Roberta Monterazzo Cysneiros, Ricardo Jaco de Oliveira and Esper Abrão Cavalheiro.
**Roth DL, Goode KT, Williams VL, Faught E. Physical exercise, stressful life experience, and depression in adults with epilepsy. Epilepsia,
35(6):1248-1255, 1994.
*** Eriksen HR, Ellertsen B, Gronningaeter H, Nakken KO, Loyning Y, Ursin H. Physical exercise in women with intractable epilepsy. Epilepsia,
35:1256-1264, 1994.
Nakken KO, Bjorholt PG, Johannesen SL, Loyning T, Lind E. Effect of physical training on aerobic capacity, seizure occurrence, and serum
level of antiepileptic drugs in adults with epilepsy. Epilepsia, 31:88-94, 1990.
****McAuley JW, Long L, Heise J, Kirby T, Buckworth J, Pitt C, Lehman KJ, Moore JL, Reeves AL. A Prospective Evaluation of the Effects of a
12-Week Outpatient Exercise Program on Clinical and Behavioral Outcomes in Patients with Epilepsy. Epilepsy Behav., 2(6):592-600, 2001.