por Gilberto Coutinho
Terapêutica naturopática
No texto anterior, falei sobre as possíveis causas da esclerose múltipla – (clique aqui e leia). Agora irei falar sobre o tratamento dessa doença.
Para melhores resultados, o tratamento deve ser instituído o mais precoce possível, antes que as incapacitações se manifestem. O tratamento naturopático no combate da esclerose múltipla apresenta grandes vantagens, é atóxico, não causa efeitos colaterais e apresenta propriedades tônicas relevantes sobre o sistema nervoso; envolve:
(1) modificação do estilo de vida (combate do sedentarismo e adoção de atividade física moderada e regular para, inclusive, estimular determinadas áreas cerebrais);
(2) dietoterapia (regime alimentar saudável que diminua o risco da arterosclerose, de outras doenças degenerativas e de deficiências nutricionais que poderiam agravar ainda mais o quadro);
(3) suplementação nutricional (vitaminas, sais minerais, enzimas e antioxidantes que visam a proteger e fortalecer o cérebro e os nervos);
(4) fitomedicina (remédios botânicos com propriedades tônicas, que beneficiem a função imunológica, o funcionamento cerebral e dos nervos e melhorem a função hepática e metabólica do organismo);
(5) fisioterapia e prática regular do Yoga (pelo menos três vezes por semana, com sessões de 60 minutos de duração);
(6) Acupuntura Tradicional Chinesa (também pode muito auxiliar o paciente a superar, mais rapidamente, as crises). Embora a atividade física seja psicologicamente benéfica, o paciente deve evitar todo e qualquer esforço físico excessivo e a fadiga.
Atividade física passiva e a aplicação de massagens são indicadas para os membros enfraquecidos e acometidos por contrações involuntárias bruscas e transitórias (espasmos), tanto para proporcionar alívio e bem-estar, quanto para ativar a circulação sanguínea. Durante as crises, a aplicação terapêutica da massagem ayurvédica (abhyanga), da medicina indiana, pode ser de grande valia, pois visa a proporcionar conforto, bem-estar e equilíbrio emocional ao paciente, melhorar a vitalidade em geral e o tônus da pele e musculatura, ativar a circulação sanguínea e fortalecer os nervos. Deve ser aplicada, se possível, em dias alternados, com óleo medicado morno (contendo na sua formulação lecitina de soja, óleo de linhaça/ômega-3 e copaíba e ervas com propriedades tônicas). É importante que o paciente também evite: fadiga excessiva, estresse emocional e alterações marcantes na temperatura.
Em 1948, Dr. Roy Laver Swank, Professor de Neurologia, da Escola de Medicina da Universidade de Oregon, forneceu, graças aos estudos que realizou durante 34 anos, evidências convincentes de que uma dieta pobre em gordura saturada, mantida por um período maior de tempo, tende a retardar o avanço da esclerose múltipla e reduzir a intensidade e o número de crises.
Considerações dietéticas
• A dieta deve ser balanceada, à base de vegetais, frutas e cereais, rica em fibras dietéticas (encontradas nos legumes, nas verduras, nas leguminosas, nos tubérculos, nas frutas e nos cereais integrais), de natureza pura, saudável, fresca, nutritiva e livre de aditivos alimentares sintéticos. Os alimentos de natureza animal (com exceção do peixe) devem ser reduzidos, se não completamente eliminados.
• O consumo dietético de gordura saturada não deve ser maior do que 10 gramas por dia (o equivalente a duas colheres de chá). Uma dieta pobre em gorduras saturadas restringe muitas fontes animais de proteína. O ideal é obter a proteína de outras fontes: peixe (excelente conteúdo de proteína e ômega-3), legumes, grãos, vegetais, sementes e frutas; enquanto o consumo de carne bovina e suína é contraindicado. Os pacientes que reduziram, por um tempo prolongado, a ingestão de gordura saturada para menos de 20 gramas ao dia apresentaram uma deterioração muito menor do que os que consumiram uma quantidade maior de gordura saturada. A gordura de origem animal, proveniente de laticínios e carnes, pode em algumas enfermidades desencadear processos inflamatórios, como é o caso do ácido araquidônico.
• No primeiro ano de tratamento, suspenda a carne vermelha (inclusive, a carne escura de galinha e peru). Após esse período, não ultrapassar os 100 gramas de carne vermelha (a mais magra possível) por semana.
• Consuma apenas leite com 0% de gordura, queijo cottage com baixo teor de gordura, queijos com 99% sem gordura e iogurte desnatado. A gordura proveniente dos laticínios é a mais prejudicial, seguida pela gordura da carne; embora os portadores de esclerose múltipla necessitem de maior quantidade de gordura marinha do tipo ômega-3. Margarina, óleos de cadeia curta e hidrogenados devem ser abolidos.
• Consumir peixes de água fria (salmão, cavala, atum, arenque, sardinha, truta, etc.), três vezes ou mais por semana, pois tais alimentos são ricos em ômega-3 (importante na manutenção da função normal das células nervosas e da produção de mielina).
• Suplementação com ácido gama-linolênico (óleo de prímula, borragem, girassol, soja e linhaça), pelo menos 20 gramas por dia. Indicado na prevenção e no combate das doenças inflamatórias, autoimunes e cardiovasculares. O óleo de linhaça é rico em ácidos graxos poli-insaturados do tipo ômega-3 (ácido alfa-linolênico), possui também boas quantidades de ômega-6 e ômega-9. O óleo de oliva extravirgem é uma excelente fonte de ácidos graxos monoinsaturados, apresenta potente ação sobre as gorduras do sangue. Além disso, é rico em derivados da vitamina E com potente ação antioxidante e inibidora da síntese do colesterol. O óleo de gérmen de trigo e o octaconasol (gordura presente no óleo de gérmen de trigo, benéfico contra distrofias musculares e neuromusculares, dores musculares e baixo rendimento físico) também são recomendados.
• A terapia com enzimas tem apresentado resultados interessantes, visa ao restabelecimento da função imune, à normalização da reserva enzimática, à redução de complexos antígenos-anticorpos e da inflamação, e à restauração da capacidade metabólica.
• Devem ser também evitados os alimentos alergênicos (glúten e leite). A biópsia intestinal em um pequeno grupo de pacientes portadores de esclerose múltipla indicou maior frequência de dano intestinal significante, similar ao que ocorre na doença celíaca e nas alergias alimentares.
• A suplementação vitamínico-mineral é indispensável pelo fato de auxiliar no bom funcionamento do sistema nervoso (cérebro e nervos), da imunidade e de diversos outros órgãos e, principalmente, pela propriedade antioxidante, que combate os radicais livres capazes de agredirem ainda mais a bainha de mielina. Toda suplementação antioxidante pode oferecer bons resultados, pois auxilia no controle das crises: Vitaminas E e C; Betacaroteno; Selênio; Ácido lipóico (antioxidante com ação no sistema nervoso central); Vitamina B12 (apresenta ação direta sobre a síntese de mielina e auxilia na recuperação das crises e no estado geral dos pacientes); Vitamina B6 (sua deficiência pode predispor às crises); Ácido pantotênico; Ácidos graxos poliinsaturados (de linhaça, oliveira, girassol, etc.); Ácido gama-linolênico/ômega-6 (encontra-se deficiente no sangue da maioria dos portadores de esclerose múltipla); Aminoácidos de cadeia ramificada (podem auxiliar na recuperação da impotência muscular); e Treonina.
• Lecitina de soja, 1g, três vezes ao dia. Composto orgânico encontrado em alguns alimentos, sendo a soja uma de suas fontes mais ricas. A lecitina é utilizada pelo organismo para construir grande parte dos tecidos nervosos e cerebrais (compõe cerca de 1/3 do tecido cerebral e 1/5 dos nervos). No sistema nervoso, a lecitina é utilizada para produzir eletricidade. Sua deficiência no organismo leva à exaustão e ao enfraquecimento dos nervos, sendo recomendada como tônico nervoso, fortalece a memória e as funções cerebrais.
• Ácido alfa-linolênico (Ômega-3), 1 g, três vezes ao dia; e Ácido gama-linolênico (Ômega-6), 1 g, três vezes ao dia. Os peixes de água gelada são ricos em óleos benéficos, como o ômega-3 e o ácido eicosapentanoico, importantes na manutenção das funções das células nervosas e da produção de mielina, consequentemente, melhoram a transmissão neural. No entanto, como os óleos de peixes não contêm vitamina E, podem sofrer um processo de peroxidação (ransificação); e, por causa disso, recomenda-se que se faça a suplementação dessa vitamina, na proporção de 800 UI/dia.
• É importante também oferecer suporte terapêutico ao fígado (através do emprego de remédios botânicos – Taraxacum officinale, Silybum marianum, Cynara scolymus e Curcuma longa – e suplementos nutricionais que protejam e ampliem a função hepática, a base de colina, L-metionina e L-carnitina), pois tal órgão encontra-se envolvido no metabolismo dos carboidratos, gorduras e proteínas (é um importante órgão do metabolismo).
• Agentes anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina, indometacina (seu uso no combate da artrite é seguido de uma incidência bastante elevada de efeitos colaterais no sistema nervoso central) e ibuprofeno, devem ser evitados.
• Abolir, completamente, o consumo de bebidas alcoólicas que muito podem intoxicar o organismo, prejudicar e enfraquecer o funcionamento cerebral e dos nervos.
Automedicação
A automedicação é um hábito muito perigoso. Segundo a “Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)”, estima-se que, no Brasil, essa prática seja responsável por cerca de 30% dos casos de intoxicação. Além desse problema, utilizar medicamentos por conta própria pode causar dependência, efeitos colaterais graves, reações alérgicas e até morte; por isso, é preciso combater a automedicação e somente fazer uso de remédios e medicamentos sob a orientação e a prescrição de um profissional da área de saúde, após uma minuciosa avaliação clínica.