Escola faz falta aos filhos, diz psicóloga

A escola faz falta aos filhos por diversos fatores apontados neste post. Elas ficaram ficaram fechadas no Brasil durante 267 dias no ano passado. Isso pode fazer a educação regredir em duas décadas.

Segundo publicação recente da Unicef, o fechamento de escolas, em termos de ensino presencial na pandemia, fez o Brasil regredir duas décadas na educação. No ano passado, na pandemia, países com melhor educação fecharam as escolas por menos tempo. Em média, ficaram sem aulas presenciais por menos de 90 dias. A América Latina foi a região com o período médio mais longo de fechamento, 30 semanas. O Brasil teve 267 dias de escolas fechadas.

A expectativa era a volta gradual das aulas presenciais a partir de fevereiro, mas o agravamento da pandemia, impediu a reabertura. Existiram fases de diminuição do confinamento rígido, mas as escolas foram mantidas fechadas.

Os países com os melhores índices de educação têm dado prioridade à reabertura das salas de aula. Abrir e fechar as escolas diversas vezes tem sido uma necessidade em muitas regiões do mundo. Isso porque se está ainda num momento da pandemia, onde picos de contaminação e de mortes se sucedem. Independentemente deles, a escola deve permanecer como uma atividade essencial.

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Por que a escola faz falta aos filhos

A escola presencial é fundamental. Tal posição é justificada pelos prejuízos consideráveis que o afastamento das aulas presenciais estão causando aos nossos filhos de todas as idades.

As crianças bem jovens têm na escola o lugar privilegiado, principalmente para se socializarem, para desenvolverem a linguagem, para exercitar a coordenação motora, para aprenderem a lidar com os limites, com as normas da instituição escolar. Muitas dessas crianças confinadas às suas casas, apresentam atraso no desenvolvimento das habilidades motoras e da linguagem, permanecem mais regredidas pela falta do ambiente estruturado da escola e necessariamente diferente da casa.

As crianças matriculadas no Fundamenta I e II, longe da escola tiveram que enfrentar as aulas online, por períodos em geral muito longos, muito além da capacidade de sustentar a atenção de cada faixa etária. A grande maioria viveu uma situação de aumento de estresse que tendeu a ficar crônica, gerando tensão, ansiedade e, muitas vezes, negativismo e oposição. Além disso, as crianças ficaram demais dependentes da ajuda constante dos pais.

O paradoxo do tempo das crianças em frente às telas

O paradoxo nisso tudo, é o tempo que as crianças passaram a ficar na frente das telas. Antes, os adultos reclamavam do tempo excessivo que as crianças ficavam nos eletrônicos, jogando ou assistindo vídeos e agora exigem que fiquem 6, 8, 9 horas, às vezes mais de 12 horas, dadas as aulas de reforço da escola, as aulas particulares, as aulas de esportes, as aulas de música e ainda a necessidade de fazer as lições no computador ou no tablet!

Os pré-adolescentes e adolescentes, mais experientes no mundo dos eletrônicos, mais hábeis nas inúmeras plataformas, nem por isso se sentiram mais confortáveis no aprendizado à distância. Longe das aulas presenciais, eles perderam o tão importante contato com os colegas, necessário às experiências de relacionamentos exógenos. Permaneceram em suas casas, sempre juntos aos pais em uma época do desenvolvimento, que precisariam se afastar psicologicamente do mundo dos pais, para conseguirem exercitar movimentos de autonomia e de afirmação no mundo.

A volta à escola no mês de fevereiro trouxe alento aos pais, às crianças e aos adolescentes. Ainda que restrita a determinados dias apenas e sob as regras sanitárias necessárias, a volta à escola foi cercada de prazer e esperança. “Nunca pensei que fosse gostar tanto de voltar à escola” verbalizavam muitas crianças.

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No entanto, o período de abertura das escolas foi curto pelo recrudescimento da pandemia, mostrado pelo aumento da contaminação e pelo record diário do número de mortes. Por mais continentes e afetivos que foram os pais, muitas crianças viveram insegurança e terror, manifestados por diferentes sintomas de problemas psicológicos. E, além do mais, precisaram voltar às aulas online.

Ensino à distância gera pressão

Existem várias escolas mais sensíveis à situação das crianças e dos adolescentes submetidos à pressão do ensino à distância, nessa época de tanto medo de doença e de morte. Mas, não creio que elas sejam a maioria. O que se pode perceber, infelizmente, é que a pressão para o acompanhamento de muitas horas de atividades relacionadas às aulas online persiste, apesar dos quadros de ansiedade, de depressão, das ameaças e das tentativas de suicídio, que as crianças e adolescentes apresentam.

O ensino remoto, nos momentos de fechamento das escolas, não deveria ter o mesmo volume de atividades e de lições de casa que o ensino presencial. O modelo de ensino a distância apresenta como única alternativa para o aluno a tela do computador ou do tablet e o isolamento social. Já o ensino presencial propicia o equilíbrio, pois ele é mais híbrido em todos os sentidos. Portanto, são meios e formas diferentes. Urge, assim, refletir sobre o assunto, pois a pandemia não acabou e, infelizmente, existe a possibilidade de novos fechamentos das escolas.

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.

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