por Ceres Alves Araujo
Muitos são o fatores que causam estresse nas crianças. Fazem parte da vida diária delas as situações novas e desafiadoras, assim como os conflitos próprios à idade.
As crianças vão aprendendo progressivamente meios para administrar os aumentos de estresse oriundos da rotina diária, à qual são submetidas e, dessa maneira, se fortalecem. Porém, existem circunstâncias responsáveis por aumentos excessivos de estresse, que muitas vezes estão acima do nível que as crianças têm condições para lidar. Uma delas é viver em uma cidade grande e frequentar uma escola distante da moradia. Tal circunstância é prejudicial à qualidade de vida das crianças.
O conceito de qualidade de vida foi criado em 1958, pelo economista John Kennedy Galbraith, para nomear uma abordagem diversa das prioridades e efeitos econômicos, muitas vezes pensados apenas em termos de ganhos quantitativos.
Logo, esse conceito ganhou espaço entre as ciências humanas, principalmente entre as ciências da saúde, muito preocupadas com o aumento do nível de estresse das pessoas na atualidade.
Uma boa qualidade de vida é garantida por hábitos saudáveis, cuidados com a alimentação, com o corpo, manutenção de bons relacionamentos sociais, tempo para lazer, controle sobre o estresse, busca de sentido para a vida etc.
Nesse sentido, colocam-se os desafios de se morar em grandes centros urbanos. Questiona-se a qualidade de vida dos moradores das grandes cidades. Trânsito intenso de veículos, congestionamentos, aglomerações de pessoas, desperdício de tempo em locomoção, poluição, ausência de segurança, dentre outros, fazem com que a sociedade busque formas de contornar os problemas. Pode-se citar como exemplos, a instituição crescente do home office, as vídeoconferências, as equipes trabalhando à distância, permitidas pela Internet, que são algumas das soluções encontradas pelas empresas visando não só uma melhor qualidade de vida no trabalho para seus funcionários mas, também, garantir mais eficiência e mais produtividade.
Na maior cidade do País, o paulistano, segundo estudos recentes, gasta em média nos seus deslocamentos diários 2 horas e 49 minutos. Os congestionamentos nas cidades causam prejuízos ao País, acidentes e prejuízos no trabalho, determinando estresse considerável para os cidadãos, praticamente todos os dias.
Pois bem, a busca por uma melhor qualidade de vida no trabalho com os recursos da tecnologia tem ajudado muitos adultos. O ensino à distância tem trazido habilitações importantes para os profissionais nesse mundo corporativo tão competitivo.
Entretanto, para as crianças na pré-escola, no ensino fundamental e mesmo para os adolescentes do ensino médio, não existe ensino à distância na prática. Ainda que possam ser utilizadas tecnologias que permitem o e-learning, o ensino precisa ser presencial para que o papel de aluno possa ser adquirido, para que o treino das habilidades sociais possa ser realizado, além dos aprendizados acadêmicos.
Portanto, as crianças precisam se deslocar para ir e voltar à escola e sofrem no trânsito caótico das cidades, demorando muito tempo para chegar a seus destinos. O estresse infantil tem características próprias quanto aos efeitos físicos, emocionais e comportamentais. Menos estruturada que o adulto, do ponto de vista psicológico, a criança pode se mostrar mais vulnerável frente a fatores desencadeadores de tensão e apresentar transtornos de ansiedade, agressividade, irritabilidade e *distúrbios somatoformes dentre outros.
Pais escolhem com cuidado a escola para seus filhos, querendo garantir-lhes as melhores condições de aprendizagem. Mas, nem sempre se preocupam com a distância da escola de suas casas. Muitos resolvem essa questão procurando o serviço dos ônibus escolares. Nas cidades, nos horários de congestionamentos severos, é comum vermos esses ônibus se locomovendo lentamente, com crianças que não chegam às suas casas senão muito tarde, depois de horas no trânsito! Que qualidade de vida tem essas crianças?
A qualidade pedagógica da escola é um fator fundamental que deve ser considerado na escolha da escola para os filhos. Cumpre procurar uma escola que coincida com a filosofia de vida dos pais, para que a criança não viva a tensão entre princípios, normas e valores diferentes. Mas, esse não é o único fator. Faz-se necessário, nas grandes cidades, também escolher uma escola que seja perto da casa ou mudar para uma casa perto da escola escolhida.
Não se pode descuidar do estresse infantil! É preciso garantir ao filho a qualidade de vida que se almeja para toda a família.
* Transtornos somatoformes – quando os sintomas emocionais aparecem no corpo: alergias, dificuldades respiratórias, dores de cabeça, dores de estômago, dores no peito etc