por Dulce Magalhães
Sabe o que é mais curioso? Quando as pessoas são questionadas, todas querem o melhor. Ninguém diz, mesmo o mais perigoso bandido, que deseja o mal, o fim da humanidade, o terror, a crueldade, a desigualdade ou a violência. Todos aspiram um mundo mais digno, justo, próspero, inclusivo e pacífico.
Se todos queremos isso, por que não estamos alcançando? Talvez porque estejamos abrindo muitas exceções, excluindo pessoas de nossos propósitos mais pacíficos e amorosos. Por vezes dizemos: eu quero a paz, mas com fulano não tem condições de conviver. Ou ainda: sou flexível, mas não dá para aceitar a visão bitolada do beltrano. E por aí vai.
Temos abertura, flexibilidade, disponibilidade… mas tem um monte de gente que acaba caindo na malha fina da intolerância. Tem coisas que achamos demais para aceitar e então as negamos. Simples, porém isso gera consequências que repercutem e geram a realidade em que estamos mergulhados.
Somos os criadores da realidade. Estamos o tempo todo gerando reações em cadeia a partir de nossas atitudes, pensamentos, emoções e ações. Não nos damos conta, mas vivemos a realidade exata das escolhas que fazemos.
Todos nós desejamos ardorosamente a paz. Queremos, oramos, pedimos, atuamos, educamos, participamos ou concordamos com movimentos e ideias que promovem a paz. Entendemos até o porquê da guerra, mas desejamos mesmo é um mundo pacífico e solidário. Percebemos e denunciamos as intolerâncias porque acreditamos que cada ser humano merece a dignidade da vida. Tudo isso é verdade.
Porém, nesse nosso tratado de paz com o mundo, será que não estamos excluindo gente demais? Quem é que você acha que deve ficar de fora do processo? Alcançaremos a paz em nossa própria vida se não fizermos alianças positivas com todo o mundo que nos rodeia?
Temos muitas justificativas para manter as intrigas, os conflitos e as rixas. Estamos cobertos de razão e, ainda por cima, a outra pessoa “não quer” viver em harmonia conosco. Então o que fazer? Esse raciocínio é o mais pernicioso em nosso processo de mudar o mundo que habitamos.
Somos seletivos para definir aqueles que merecem ou não nossa atitude pacífica, nossa amizade, nosso cuidado e gentileza e nem percebemos que qualquer exclusão não afeta só o universo que o outro se encontra, mas afeta de forma profunda a realidade que tecemos de segundo a segundo.
O mundo desequilibrado, desigual e violento não é apenas fruto da atitude alheia. Estamos todos inseridos no mesmo contexto; afinal, não somos alienígenas, nem vivemos em outro planeta. E se não estamos contribuindo, a cada instante, com a realização plena do mundo que sonhamos, então, certamente, estamos prejudicando o processo. Só tem essas duas posições para se ocupar.
Tudo é inter-relação e até mesmo a omissão é uma atitude e, portanto, gera reações e consequências. Não há como se eximir da existência enquanto existimos. Cada escolha coloca em marcha uma série de emoções, que geram pensamentos, atitudes e resultados. A questão é: que escolhas estamos fazendo?
Com um foco ainda mais definido, tendo em vista o que aspiramos para nossa vida, carreira, negócios, sociedade, família… O que estamos fazendo para incluir todas as pessoas que conhecemos em nossos propósitos de amorosidade, respeito, cuidado e progresso?
Confiamos na hipótese que cada ser humano carrega o potencial para o bem ou o mal e que nossa atitude pode despertar um ou outro aspecto? Ou acreditamos que os rótulos são insubstituíveis e que, portanto, tem gente que já está descartada da prosperidade coletiva por não merecer? Quem definirá o mérito? E quem o julgará?
Cuidado, com a mesma austeridade que julgar também será julgado. E não faça ou deixe de fazer por medo. Escolha realizar por propósitos. Afinal, todos queremos o melhor. E, se seus propósitos são positivos e benéficos, então ser orientado por eles será o maior bem que pode proporcionar à humanidade.