por Aurea Afonso Caetano
Sem a pretensão de que seja este um grande texto literário, penso que este artigo publicado aquí no Vya Estelar, amplia minha capacidade de conhecer a mim mesma e também ao outro, o leitor.
Embora muitas vezes o tema do texto estivesse claro desde o início, outras tantas sou atravessada por questões que mudam radicalmente seu caminho. É como se houvesse dois processos acontecendo ao mesmo tempo. Um, o mais consciente – o desejo claro de escrever sobre algo e outro, que podemos chamar de mais inconsciente ou – aquilo que está por aquí, à espreita, esperando o momento possível para sua erupção.
E o que fazer? Manter a fidelidade ao já pretendido, ao conhecido ou abrir-me para aquilo que surge de maneira espontânea, quase "mediúnica"?
Seria um caso de personalidade dupla, inconstância, indiscriminação ou insensatez?
Ou, ao contrário, seria a possibilidade de diálogo entre dentro e fora, conhecido e não tão conhecido assim?
E o que dizer de minha pretensão em ser lida e, mais ainda, ser bem avaliada?
Meu desejo, assim como o de todos que publicam seus textos – acredito eu – é poder atingir um grande número de pessoas, fazer diferença (como é costume dizer). A escolha do tema passa também por esse desejo. E, muitas vezes, isso é imperativo, escolho falar de algo que sei, ou imagino, que será bem avaliado, que tocará os supostos leitores. Ou, decido escrever "para mim mesma" e seguir aquele pedido interno que quase me atravessou.
Penso ainda que a grande maioria das decisões que temos de tomar na vida caminha também entre essas duas possibilidades e nos colocam uma questão ainda mais fundamental. Como dar conta de mim e do outro, de minhas expectativas e desejos e das expectativas e desejos do outro? Como dar conta desse dilema que já nasce interno, ou seja, eu e outro dentro de mim mesma? Porque, falar do outro lá fora é já, de início, falar de minha projeção acerca do que é o outro, é colocar nessa projeção e nessa expectativa muito do que é o meu desconhecido mundo interno. Ou será que ainda temos a esperança de encontrar um "ponto de arquimedes" fora de nós, um "fiel da balança" uma verdade única e inequívoca?
Quando penso na literatura como possibilidade de crescimento, a palavra escrita como agente transformador, penso que nesse diálogo da dupla eu e o leitor: exista a possibilidade de ampliar meu autoconhecimento e ouso pensar que ao fazer isso, posso provocar esse mesmo movimento em meu leitor. Movimento dialético de troca e transformação no qual a pessoa que começou a ler, ou escrever, o texto não é mais a mesma do início.
Essa parece ser, para mim, a única justificativa possível para o trabalho que trocamos aquí. Escrever e ser lido, ler e ser lido, ver e ser visto e neste movimento poder ampliar o conhecimento acerca de mim mesma. Apostando que essa ampliação é o que verdadeiramente importa.
Até a próxima!