por Edson Toledo
Dizia o escritor argentino Jorge luis Borges (1899-1986), “A escrita nada mais é do que um sonho portador de conselhos”. É como escreveu Luigi Solano, da Universidade La Sapienza de Roma e autor do livro Scrivere per pensare – Escrever para Pensar (2007) ainda não publicado no Brasil – “Na clínica, o objetivo é ajudar o paciente a compreender melhor as questões que o inquietam, aproximar-se dos sintomas e da dor psíquica de forma protegida, traduzindo emoções em palavras”.
Para Solano, a escrita terapêutica ajuda a pessoa a descrever detalhes de experiências negativas, explicitar sentimentos, colocar os fatos em ordem cronológica e estabelecer nexos, diz também que falar e escrever não se contrapõem, mas, diferentemente do que se dá na comunicação verbal, na escrita o foco é mais definido.
Efeito positivo da escrita na saúde
A primeira demonstração de que escrever pode ter efeito positivo na saúde em geral, seja física ou psíquica, foi realizada no início da década de 1990 pelo diretor do Departamento de Psicologia da Universidade do Texas em Austin, James Pennebaker, com alguns de seus alunos. No estudo, ele solicitou que durante quatro dias cada participante escrevesse todos os dias por 15 minutos pensamentos suscitados por experiências traumáticas, sem se preocupar com a qualidade dos textos e sem se identificar.
Os resultados foram surpreendentes: os estudantes descreveram uma penosa lista de histórias trágicas. Os temas mais comuns foram: estupros, violência na família, tentativas de suicídio e problemas com drogas. Os participantes do estudo passaram a ser acompanhados ao longo de um ano com significativas melhoras.
Registrar metas de vida: benefícios psicológicos
Já Laura A. King, pesquisadora da Universidade Metodista Meridional, nos Estados Unidos, mostrou que registrar suas metas de vida pode trazer benefícios psicológicos. A pesquisa foi conduzida com 81 estudantes que deveriam dissertar sobre o evento mais traumático de suas vidas, o que esperavam de melhor sobre o futuro, uma mistura dos dois tópicos, ou algum tema não emocional. Após três semanas, a cientista observou que as pessoas que escreveram sobre seu futuro tiveram melhoras significativas no humor. Quando o experimento passou de cinco meses, pessoas que escreveram sobre os traumas também passaram a apresentar melhoras no humor.
Elizabeth Btoadbent coautora de um estudo conduzido na Nova Zelândia, comentou no site da revista Scientifc American, que escrever ajudava adultos a se curarem mais rapidamente de problemas físicos de saúde. A pesquisa foi conduzida com 49 adultos saudáveis, entre 64 e 97 anos, que tinham apenas uma ferida no braço.
Um grupo devia escrever durante 20 minutos, três vezes ao dia, tanto sobre acontecimentos que os irritavam quanto sobre atividades rotineiras. E o outro não deveria fazer nada. O resultado: após 11 dias, 76% dos que escreviam tiveram melhorias na ferida, enquanto o índice de recuperação do ferimento foi apenas de 42%entre os que não fizeram nada. A conclusão em que se chegou foi a de que escrever sobre eventos estressantes ajudaram os participantes a tomarem consciência desses acontecimentos e reduziram o estresse.
Um estudo publicado no The Oncologist, uma revista científica especializada na doença, mostrou que ao escrever de forma expressiva, pacientes com leucemia e linfoma mostraram melhorias. Quase metade deles (53,8%) afirmou que, após três semanas escrevendo 20 minutos ao dia, o hábito ajudou a mudar seus pensamentos sobre a doença. A mudança de pensamento foi associada a melhorias físicas.
Outro estudo, publicado no Academy of Management Journal, acompanhou 63 engenheiros que foram demitidos. Os pesquisadores os dividiram em três grupos: um primeiro que deveria escrever sobre temas não emocionais, como gestão de tempo; um segundo que não deveria fazer nada; e um último que escreveria sobre seus sentimentos.
Após três meses, apenas 5% dos engenheiros do primeiro e do segundo grupo foram recontratados. Já entre os que escreveram sobre seus sentimentos, 26% conseguiram retomar seus empregos. Após oito meses, a diferença foi ainda maior: 19% dos participantes dos primeiros grupos foram recontratados, contra 52% dos que estavam no último. Os que escreviam sobre seus sentimentos mostraram guardar menos remorso e raiva contra seus antigos empregadores. Eles não fizeram mais entrevistas que os outros, mas se saíram melhor nelas.
Por que escrever faz tão bem?
Estudos não faltam para testar a eficácia dos benefícios da escrita, mas afinal como o registro das experiências no papel causar tantos benefícios?
Solano reconhece que é muito difícil de ter uma única explicação para um fenômeno tão complexo e complementa dizendo que o fato é que, ao longo da vida, todos passamos por eventos mais ou menos traumáticos e, mesmo que estejamos bem e não apresentemos transtornos significativos, é provável que haja um elemento estranho em nossa mente que pode impedir o desenvolvimento máximo das potencialidades. Por isso, quando escrevemos regularmente sobre nossas emoções e trajetória, quase sempre vem à tona um evento que nos perturba; escrever ajudaria a reelaborar e superar essas vivências desagradáveis.
E levanta uma outra hipótese, que complementa à anterior, ele sustenta a hipótese de que a escrita “ensina” a mente a pensar de forma mais complexa e articulada. “É uma espécie de exercício mental que ajuda nas relações com os outros e consigo mesmo”, afirma o psicólogo. Certos estudos demonstraram que, após escreverem seguindo essa técnica, as pessoas se tornaram mais ativas nas relações com os outros.
Ele ainda diz que “Os experimentos mostram ativação de habilidades sociais, maior facilidade para se expressar afetivamente e, em alguns casos, a escrita ajudou a redefinir metas profissionais”, observa. É como se, ao serem colocados no papel, desejos, necessidades e emoções se tornassem mais claros.
Se você dúvida, veja o que disse o investidor bilionário Warren Buffet, que diz que escrever é o segredo para refinar seus pensamentos ou como o famoso empreendedor Richard Branson que tem uma fortuna avaliada em mais de US$ 5,6 bilhões e escreve posts em sites e redes sociais afirmando que “Minha posse mais essencial é um caderno escolar padrão”.