Por Alex Botsaris
Desde que os seres humanos apareceram na face da Terra e começaram a se organizar socialmente, que algum indivíduo do grupo assumia as funções de xamã ou feiticeiro. Durante milhares de anos, espírito e corpo eram vistos como uma unidade, e esses líderes espirituais ensinavam que cuidar do espírito era a parte mais importante do tratamento.
Por isso, sacerdotes egípcios, druidas europeus, monges budistas, pagés sul americanos, feiticeiros africanos, e tantos outros, aplicavam rezas e usavam rituais para purificação do espírito durante suas sessões de terapia. Até Hipócrates, considerado pai da medicina moderna, atribuía evoluções inexplicáveis, para melhora ou piora, aos deuses do Olimpo.
Eis que no fim do século XVIII começa a surgir a ciência médica, que cria uma divisão entre aquilo que chama de crendices e atividades ‘não científicas’ e as explicações racionais e puramente materialistas do novo conhecimento. À medida que a medicina evoluiu como ciência, nos 200 anos seguintes, procurou se distanciar progressivamente do seu passado comum com a espiritualidade. Descobertas da medicina, cada vez mais levavam o conhecimento na direção da genética e biologia molecular como a resposta de todas as perguntas. Eis que nos últimos 10 anos surgiram evidências, que os médicos primitivos estavam com a razão. Vários estudos científicos feitos por diferentes pesquisadores em hospitais e universidades americanas, inglesas, russas, canadenses e até no Paquistão mostram que muitos conceitos médicos precisam ser, no mínimo, revistos.
A maioria dos estudos tem mostrado que rezar pode ajudar a aliviar a ansiedade, melhorar depressão, aumentar o sucesso de fertilização in vitro, melhorar o curso clínico de doenças crônicas como diabetes e artrite reumatóide, ou auxiliar na recuperação de pacientes com dependência química, como em casos de alcoolismo. Mais de 100 estudos clínicos da influência de rezas e espiritualidade e seres humanos foram feitos e na sua maioria revelaram resultados positivos surpreendentes. Muitos autores atribuem isso a um efeito placebo, gerado por uma auto-sugestão que induz a uma sensação de melhora. Há controvérsia e a maior parte dos autores tem um comportamento cético sobre os reais potenciais da espiritualidade.
Entretanto existem resultados sugerem que os benefícios da reza, possam extrapolar essa concepção simplista, necessitando uma avaliação mais ampla e rigorosa dos conceitos atuais, de medicina, de consciência, causalidade, tempo e espaço. O médico americano Larry Dossey junto com o cardiologista Brian Olshansky da Universidade de Yowa fizeram uma grande revisão sobre estudos onde a reza afetou um ser vivo, sem que um vínculo que possa funcionar como “placebo” pudesse ser estabelecido. Os autores levantaram cerca de 130 estudos em humanos, animais, plantas e até microorganismos e na maioria alguma influência da reza e de outras formas de influência espiritual foi detectada nas estatísticas.
O que motivou a revisão de Dossey & Olshansky foi o resultado anda mais surpreendente de um estudo, que testou os efeitos retroativos da reza, ou seja, a sua capacidade de afetar a saúde no passado, publicado por Leibovici, pesquisador israelense ligado ao Centro Médico Rabin. O estudo de Leibovoci possui uma grande amostragem, 3393 pacientes com septicemia – ou seja infecção grave que atingiu o sangue – o que torna a sua estatísica muito precisa e confiável. Esses pacientes foram divididos em dois grupos, de forma aleatória, e metade dos pacientes recebeu uma reza feita por um grupo de 90 voluntários. A outra metade não recebeu a reza, sendo apenas usada como controle. Apesar de ambos os grupos exibirem a mesma taxa de mortalidade, o grupo que recebeu a reza ficou internado menos tempo, e teve menos sintomas, como febre e dor.
Os resultados de Leibovici causaram muito impacto em muitos pesquisadores, e houve uma enxurrada de críticas. Os céticos se recusam a admitir que uma hipótese como essa – a reza afeta a saúde no passado – possa ser feita ou validada pela ciência. Comentários questionaram na metodologia usada pelo autor e até a valorização de aspectos como sintomas e tempo de internação. Entretanto outros estudos, como mostram Dossey & Olshansky revelam resultados ainda não explicáveis pela ciência.
Num desses estudos, 990 pacientes internados numa unidade coronária, com graves problemas cardiológicos, divididos em dois grupos de forma aleatória, um recebendo reza, e o outro não, tiveram morbidade (gravidade de doença) e mortalidade com diferenças estatísticas significativas. O grupo dos pacientes que recebeu a reza foi o que apresentou melhores resultados. Considerando que os pacientes e médicos não sabiam quais receberam reza, e que as pessoas que rezaram estavam em locais distantes do hospital, os resultados são surpreendentes. Esse estudo também desencadeou uma onda de comentários de pesquisadores céticos, criticando-o de todas as formas.
Com certeza novos estudos serão feitos e muita novidade vai aparecer. Enquanto isso é importante não confundir os benefícios da espiritualidade com religião. É claro que a religião pode ser um caminho para espiritualidade e uma boa saúde, mas isso não é uma regra. Depende de muitos fatores, inclusive do nível cultural e da capacidade de se concentrar nas atividades espirituais. Um estudo epidemiológico feito em vários países da América Latina pela Organização Panamericana de Saúde, revelou que há uma correlação entre religiosidade e baixo nível de saúde e nível sócio econômico na região. Alguns fatores de baixa saúde e qualidade de vida – como a rejeição ao uso de anticoncepcional e preservativos; natalidade excessiva sem condições mínimas de suporte em famílias pobres, etc – foram associados à influência do catolicismo e outras religiões nessa região.