por Renato Miranda
No mundo esportivo há um reconhecido preconceito que devido à falta de recursos financeiros em vários ambientes de prática de esporte infantil, não se exige profissionais de bom gabarito, pois os salários são baixos.
Ademais, acredita-se que um baixo nível de formação escolar não é impedimento para se trabalhar com crianças e jovens. Por outro lado, profissionais de gabarito se consideram valorizados somente quando trabalham com equipes de rendimento.
Já escrevemos sobre a importância do treinador de jovens atletas. Entre várias capacidades o treinador precisa saber equilibrar os objetivos de vitória, prazer e desenvolvimento das capacidades psicofísicas como concentração, motivação, controle do estresse, força, resistência, agilidade, relaxamento e outras.
O Brasil está diante uma agenda esportiva extensa em função os Jogos Olímpicos de 2016. É óbvio que não faremos atletas de um dia para o outro e tampouco nos tornaremos uma potência olímpica na maioria dos esportes, muito embora sejamos reconhecidos em algumas modalidades como o judô, iatismo, vôlei e futebol.
O desenvolvimento do esporte é muito mais amplo e diz respeito às oportunidades de vivências em um vasto repertório de modalidades, desenvolvimento da saúde e da cultura para resumir tudo aquilo que caminha ao lado dos possíveis talentos esportivos de alto nível.
É bom lembrar que até os Jogos Olímpicos de 1976 no Canadá, a Austrália não figurava entre os países de destaque olímpico e hoje é uma grande potência. Esse desenvolvimento não se deu como fato isolado. O incentivo da prática esportiva entre as crianças, o aperfeiçoamento de recursos humanos, o investimento na infraestrutura, trouxeram naturalmente a revelação de talentos e competências intelectuais no esporte.
Em uma análise mais cuidadosa vamos notar que o grande fator do desenvolvimento esportivo está na alta qualidade profissional que é formada, pelas boas condições de trabalho, salários atraentes e naturalmente valorização da profissão, que é seguida por critérios de excelência na seleção dos profissionais, tanto no mercado privado quanto público.
No Brasil ainda há muita discussão primária e ideológica sobre a atuação do profissional do esporte. Em outras palavras, os profissionais ficam discutindo se é certo falar treinador ou professor; se se deve ter esporte competitivo ou não na escola; se a criança deve ou não aprender a técnica de algum esporte ou apenas se manifestar como parte integrante do meio social. Tudo isso e outros assuntos não levam os profissionais (ou acadêmicos) a lugar nenhum, a não ser ao embotamento, à falta de cultura esportiva e à preguiça que esconde a incapacidade de ensinar esporte.
É preciso providenciar meios para que nossas crianças tenham condições de aprender várias modalidades esportivas e um fluxo natural de mecanismos para aqueles que queiram também se aperfeiçoar e se especializar.
Em consequência, poderemos ter uma geração mais sadia, com hábitos desejáveis de comportamento (por exemplo, comportamento ativo e motivante) e naturalmente uma geração com um maior número de atletas em modalidades diversas.
Um dos legados os Jogos Olímpicos podem nos oferecer é o despertar de uma consciência política de nossos líderes sobre a importância do esporte na vida das pessoas.
Enquanto a ideia de que qualquer lugar, qualquer quadra, campo ou piscina é suficiente para as crianças praticarem esportes e qualquer pessoa (mesmo sem qualificação profissional e pessoal) pode ser um treinador (professor, técnico ou qualquer outro termo relacionado ao esporte), estaremos batendo recordes em obesidade, diabetes, drogas e outros temas que assolam nosso país.