“Você deve conversar com aqueles fumantes próximos a você e explicar o quanto ser ‘fumante passivo’ o está preocupando e o quanto eles podem colaborar. Mas isso de forma amistosa e amigável.”
Pergunta de um leitor:
“Eu não sou fumante. No entanto, tenho um irmão que fuma e a diarista também fuma. Eles fumam na varanda de casa, estando as portas fechadas, mas, mesmo assim, essa fumaça vaza para dentro de casa. Também, muitas vezes, quando chego da rua a pé, depois de subir um morro, estando ofegante, subo uma escada para acessar essa varanda, e muitas das vezes eles estão fumando… Isso sem contar as inúmeras baforadas na cara que você leva ao andar na rua. Gostaria de saber se essa situação me põe na condição de fumante passivo ou se esses contatos com a fumaça expelida do cigarro podem ser prejudiciais para mim? Qualquer tipo de esclarecimento será muito válido. Muito obrigado!”
Resposta: De uma forma ou de outra, muitos de nós somos fumantes passivos, no sentido mais amplo do termo. Abaixo, forneço alguns dados reportados pelo CDC (Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos da América) para melhor esclarecimento do tema.
A exposição ao fumo passivo ocorre quando pessoas que não fumam respiram a fumaça exalada por pessoas que fumam ou da queima dos produtos do tabaco. Essa fumaça contém mais de 7.000 produtos químicos; centenas são tóxicas e cerca de 70 podem causar câncer.
Infelizmente, não há nível seguro de exposição ao fumo passivo; mesmo uma breve exposição pode ser prejudicial tanto para adultos quanto para crianças.
Todos merecem uma oportunidade justa de respirar ar livre de fumo e ser o mais saudável possível. A exposição ao fumo passivo diminuiu nos EUA, mas o progresso não foi o mesmo para todos. A exposição ao fumo passivo parece ser mais comum entre crianças de 3 a 11 anos, pessoas com baixo nível socioeconômico e pessoas que alugam quartos em casas para hospedagem. Ainda há trabalho a ser feito para garantir um ar livre de fumo para todos.
Políticas e leis antifumo abrangentes em todos os locais de trabalho e locais públicos – sem exceção – e a adoção de regras antifumo para residências e veículos são a única maneira de proteger totalmente as pessoas da exposição ao fumo passivo. Leis e políticas antifumo abrangentes também podem ajudar as pessoas que fumam a parar de fumar e podem ajudar a evitar que os jovens comecem a fumar.
Fumante passivo: principais consequências para a saúde
Sistema cardiovascular
Estimativas apontam que, entre pessoas que não fumam (mas estão expostas ao fumo passivo em casa, no trabalho, em espaços públicos), o risco de desenvolver doenças cardíacas aumenta entre 25 e 30%. Outrossim, o fumo passivo aumenta o risco de acidente vascular cerebral entre 20 e 30%.
A exposição ao fumo passivo interfere no funcionamento normal do coração, sangue e sistema vascular de forma a aumentar o risco de ter uma acometida cardíaca. Mesmo uma breve exposição ao fumo passivo pode danificar o revestimento dos vasos sanguíneos e fazer com que as plaquetas se tornem mais “glutinosas”.
Um Programa de Controle do Tabaco da Califórnia, que enfatizou políticas antifumo, foi associado à prevenção de 59.000 mortes resultantes de doenças cardíacas entre 1989 e 1997. Uma avaliação de uma comunidade geograficamente isolada (Helena, Montana) mostrou que o número de internações hospitalares decorrentes de infarto agudo do miocárdio diminuiu após a implementação de uma lei que acabou com o tabagismo em locais públicos e locais de trabalho, efeito que foi parcialmente revertido quando a aplicação da lei foi suspensa por uma ação judicial.
É importante ressaltar aqui que algumas enzimas comumente utilizadas como marcadores do chamado “estresse oxidativo” que provocam danos ao DNA foram encontradas elevadas em fumantes passivos. Um estudo transversal descobriu que fumantes passivos têm níveis mais altos destas enzimas, tais como, da superóxido dismutase (SOD), da glutationa peroxidase (GPOX), da glutationa redutase (GR) e da catalase. Além disso, um marcador biológico de dano ao DNA, o chamado 8-hidroxi-2-desoxiguanosina (8-OHdG), mostrou-se elevado também entre fumantes passivos.
Outro efeito global do fumo passivo é a inibição da produção de energia pelas mitocôndrias (mitocôndrias são organelas intracelulares que estão relacionadas com o processo de respiração celular e são encontradas em maior número em células com notável atividade metabólica). Estudos em animais mostraram que o fumo passivo prejudica a capacidade do músculo cardíaco de converter o oxigênio na molécula de energia adenosina trifosfato, causando, então, danos diretos ao funcionamento cardíaco.
Outrossim, o dano mitocondrial em fumantes passivos inclui a diminuição da atividade do translocador de adenina nucleotídeo (ANT) e da superóxido dismutase mitocondrial (SOD2). Baixos níveis de ANT e SOD2 são marcadores de aumento do estresse oxidativo, altamente lesivos para os tecidos cardíaco e vasos sanguíneos.
Dado o aumento do estresse oxidativo e danos ao DNA nas mitocôndrias resultantes do tabagismo passivo, outras fontes de energia acabam por ser requisitadas pelo organismo. A via anaeróbica, outra fonte de energia do organismo, leva a um aumento do lactato no sangue venoso. Observou-se que os fumantes passivos apresentam níveis aumentados de lactato no sangue venoso. Esse achado clínico é consistente com a conclusão de que o tabagismo passivo leva a danos mitocondriais, afetando diretamente a capacidade do organismo de produzir energia para sustentar a atividade cardíaca.
Câncer de pulmão
Para adultos que nunca fumaram, a exposição ao fumo passivo pode estar associada com diferentes tipos de câncer de pulmão. Estimativas apontam que, entre pessoas que não fumam (mas estão expostas ao fumo passivo em casa ou no trabalho), o risco de desenvolver câncer de pulmão aumenta entre 20 e 30%.
De fato, as pessoas que não fumam, mas estão expostas ao fumo passivo, estão inalando muitas das mesmas substâncias cancerígenas e venenos que são inalados por pessoas que fumam.
Mesmo uma breve exposição ao fumo passivo pode danificar as células do corpo de maneira a ativar o processo do câncer (oncogenes). Assim como no tabagismo ativo, quanto maior a duração e maior o nível de exposição ao fumo passivo, maior o risco de desenvolver câncer de pulmão.
Gravidez e fumo passivo
Mulheres expostas ao fumo passivo durante a gravidez são mais propensas a ter recém-nascidos com menor peso ao nascer, aumentando o risco de complicações à saúde do infante.
Bebês expostos ao fumo passivo após o nascimento correm maior risco de Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI). Na verdade, estudos têm já mostrado que amostras de bebês que morreram de SMSI apresentaram concentrações mais altas de nicotina em seus pulmões e níveis mais altos de cotinina (um marcador biológico para exposição ao fumo) do que bebês que morreram por outras causas.
Crianças e o fumo passivo
Estudos têm já mostrado que crianças cujos pais fumam adoecem com mais frequência do que crianças cujos pais são abstinentes de tabaco. As crianças fumantes passivas obviamente apresentam maior risco de episódios de bronquite e pneumonia.
Outrossim, “chiado no peito”, tosse e falta de ar são mais comuns em crianças expostas ao fumo passivo.
O fumo passivo pode desencadear um ataque de asma em uma criança, e aquelas crianças já asmáticas que vivem perto de fumantes têm ataques de asma mais graves e mais frequentes.
O texto aqui seria longo demais para expor todas as consequências nocivas moleculares, celulares, genéticas e funcionais para o fumante passivo. Você deve conversar com aqueles fumantes próximos a você e explicar o quanto ser “fumante passivo” o está preocupando e o quanto eles podem colaborar. De forma amistosa e amigável, você pode convencê-los disso.
Seja assertivo!