por Patricia Gebrim
Tenho tido uma sensação estranha ultimamente. Ando tomada por uma urgência que brota de um lugar profundo dentro de mim, uma onda viva e cheia de verdade que me diz que já não há tempo para a mediocridade na vida.
Com ela vem um cansaço de termos que representar, dia após dia, para colher migalhas de aceitação.
A sociedade exige que sejamos peças perfeitamente adaptadas às suas necessidades de controle e manipulação. Experimente contrariar as instituições para ver o que acontece! Se somos absolutamente verdadeiros e dizemos, por exemplo, que não gostamos de aglomerações, somos imediatamente tachados de antissociais, de "gente que não gosta de gente". Se dizemos que apreciamos ficar sozinhos e amamos o silêncio, olham-nos como se fôssemos uma espécie alienígena. Se não nos dispomos a encontros superficiais onde a troca não penetra meio milímetro de nossa pele, julgam-nos arrogantes. Se dizemos que estamos em paz sozinhos, e que preferimos evitar o casamento (entendam bem, não estamos fazendo nenhuma apologia contra o casamento, apenas nos reservando o direito de escolher algo diferente), atiram em nossa direção pedras, como se fôssemos destruidores dos lares e dos bons costumes. E se tentamos simplesmente nos afastar para não incomodar ninguém com nossa existência, se ressentem e dizem que não os amamos.
Estamos cansados de ter de construir falsas imagens
Não é à toa que anda todo mundo cansado. Estamos cansados de termos que representar para sermos considerados "normais". De ter que construir falsas imagens para corresponder ao que esperam de nós. Há formas mais preciosas de empregar nossa energia do que nos tornarmos atores, enquanto traímos o que de mais verdadeiro existe em nós. Sinceramente, estamos cansados de nos obrigar a estar onde não queremos, conviver com pessoas que não conseguem enxergar nossa essência, ocultar nossa opinião porque talvez ela seja ameaçadora demais àqueles que ainda não aprenderam a conviver com as diferenças, o que se diria de respeitá-las?
Que exaustão… Por que não podemos simplesmente permitir que cada pessoa seja como é? Escolher como quer viver? O que está tão errado conosco? Por que esmagamos a existência alheia sem nem mesmo nos dar conta de que é isso o que fazemos?
Aos que se sentem dessa forma eu digo:
– Restam-nos duas opções:
1ª) Ou caprichamos na máscara, no sorriso artificial, e seguimos pelo mundo ostentando essa falsidade social, construída sobre os restos de nossas almas dilaceradas;
2ª) Ou nos afastamos, aceitamos a solidão necessária e nos permitimos SER e conviver com os pouquíssimos queridos que suportem nossa existência.
Me perdoem os que não forem capazes de compreender, mas escolho existir.