por Luís César Ebraico
Em minha recente contribuição para essa coluna, ousei afirmar que a máxima cristã "Amai-vos uns aos outros" – clique aqui e leia – tem algumas consequências bastante perniciosas. O argumento exposto compunha-se de quatro pontos principais:
1) O sentimento de amor não pode ser produzido por um comando de nossa vontade;
2) É totalmente incabível ordenar a um indivíduo que dê origem a algo que escapa a esse comando;
3) Ordens que o fazem geram indivíduos:
a. Que fingem ter cumprido o que não podem cumprir;
b. Que fazem tentativas pateticamente fadadas ao fracasso de conseguir o que não podem;
c. Que desperdiçam tempo e energia que poderiam ter sido empregados em tarefas desejáveis e POSSÍVEIS de serem realizadas.
4) Esses tempo e energia desperdiçados na tarefa inglória de se tentar estabelecer, à custa de vontade e esforço, o "amor universal" entre os homens seriam muitíssimo mais bem empregados se aplicados à tarefa POSSÍVEL E ALTAMENTE DESEJÁVEL de se estabelecer, não o amor, mas sim, o "respeito universal" entre os homens.
Uma frequentadora de minha clínica leu uma cópia do escrito em que expus originalmente essa argumentação. Quando encontrei-me com ela, travamos o seguinte diálogo:
LUÍS CÉSAR: – Então? Soube que você leu o rascunho do meu "Amai-vos uns aos outros". Que tal achou?
CATARINA: – Bem, primeiro, achei que sou meio assim mesmo, de achar que as pessoas devem amar uns aos outros; segundo, não pude discordar de sua argumentação de que, enquanto os indivíduos se dedicam a tentar fazer o impossível, deixam de fazer o possível; terceiro, vou continuar tentando fazer o impossível mesmo.
LUÍS CÉSAR (surpreso e curioso): – Ah, é! E por quê?
CATARINA: – Ora, se você coloca sua meta em algo que pode, em princípio, fazer e não consegue, a culpa é sua e você ainda vai se sentir pequeno diante dos que conseguem. Por outro lado, se coloca essa meta em algo impossível, a culpa de não conseguir não é sua – é impossível mesmo! – e como ninguém tampouco consegue, você não vai se sentir menor do que ninguém.
LUÍS CÉSAR (perplexo): – É, não deixa de ter a sua lógica…
As colocações de Catarina remeteram-me de imediato ao comentário sobre meu livro que mais me fez refletir e que em seguida transcrevo:
LUÍS CÉSAR: – Sua mulher me disse que você está lendo meu livro. Está gostando?
ALBERTO: – Só li umas trinta páginas e parei.
LUÍS CÉSAR (tão surpreso e curioso quanto fiquei com Catarina): – Ah, é! E por quê?
ALBERTO: – Estava tudo ficando tão claro que eu ia ter que fazer alguma coisa.