por Carlos Hilsdorf
Quem de nós já não sentiu uma dor que aperta o peito, comprime a mente, uma dor asfixiante, que nos deixa fracos e aparentemente sem ação?
A dor psíquica é a mais intensa de todas as dores, porque para ela não existe analgésico.
De tão intensa, a dor psíquica chega a tornar-se física, seja porque a sentimos doer como se doesse no corpo, seja porque somatiza algum tipo de enfermidade física. Basta lembrar que uma proporção enorme das queixas que chega aos ambulatórios e consultórios médicos contém elementos emocionais intensos que originam ou intensificam os sintomas apresentados pelos pacientes. São muito comuns os casos em que os exames clínicos e laboratoriais mais sofisticados não encontram absolutamente nada no corpo desses pacientes que, em verdade, padecem de enfermidades da alma, refletidas no espelho da mente e sentidas no ambiente corporal.
Pessoas afligidas por esse tipo de dor descrevem-se como corroídas por dentro, como se estivessem implodindo, desmoronando de dentro para fora e, normalmente, não têm vontade de fazer nada para sair da situação, escondem-se em si mesmas e fogem de qualquer possibilidade de encontrar as causas da dor.
Fugir do mundo e das pessoas jamais diminuirá sua dor, ela não está nas outras pessoas, está dentro de você e algo que está dentro de você irá com você para onde você for!
Fugir não é solução
Aqui reside a maior ilusão das pessoas acometidas por graves dores psíquicas, elas não percebem que não há para onde fugir. Nenhuma tentativa de fuga irá solucionar as nossas dores, mas todas elas podem agravá-las!
Somente a compreensão das origens da dor pode ajudar a atenuá-la. Compreender essas origens e agir sobre suas repercussões é a base de todo e qualquer tratamento psicoterapêutico e psicológico, nas suas mais variadas escolas e abordagens. A prescrição de “combate” às dores psíquicas começa com a busca consciente por autoconhecimento.
Dores psíquicas
No cardápio de dores psíquicas encontramos a dor da solidão, da decepção, da traição, da derrota, da abaixa autoestima, do luto, entre tantas outras.
Mas será que a solidão nos foi imposta ou nós a conquistamos com atitudes que afastaram as pessoas do nosso convívio?
Será que alguém nos decepcionou? Ou nós, com expectativas exageradas e não condizentes com a realidade, nos decepcionamos com as características humanas e naturalmente falíveis do outro?
Será que fomos traídos? Ou com nossa atitude distante e muitas vezes egoísta impusemos tanta fome psíquica ao outro, que fragilizado, buscou desesperadamente o alimento que lhe negamos?
E as nossas derrotas? Foram frutos de tentativas reais e coerentes, mas equivocadas na busca da obtenção do sucesso? Ou será que nos auto-sabotamos?
Não seria a nossa baixa autoestima uma desculpa nobre para justificar o nosso medo da felicidade, a nossa desculpa para justificar um comportamento de vítima?
E a nossa dor de luto, é a dor da saudade dos momentos felizes que vivemos ao lado de alguém ou a dor das nossas ausências agora impossíveis de reparar?
Há dores e “dores”. Amores e “amores”…
Comportamento gera comportamento, muitas vezes a dor que sentimos não é senão a dor que infligimos aos outros que retorna, às vezes maquiada e disfarçada, mas continua sendo nossa velha conhecida.
Dores recorrentes são consequência de estagnação em nosso processo de aprendizagem e evolução.
Dor: convite para reavaliar atitudes e valores
A dor é um convite. E não é um convite ao sofrimento, mas um convite para sair do sofrimento. Um convite que propõe reavaliar nossas crenças, nossos valores, pensamentos e, sobretudo, atitudes.
A dor é uma professora severa, mas muito eficaz!
Ela nos ensina muito mais e com muito maior velocidade que a felicidade. Quando estamos felizes nos distraímos da vida, de suas causas e efeitos e ficamos alienados achando que tudo será sempre um mar de rosas. As rosas também contêm espinhos para se proteger e, quando nos ferimos em um deles imediatamente percebemos que não abordamos a rosa pelos caminhos corretos…
As dores psíquicas causam cicatrizes na alma. Nenhum de nós atingirá a maturidade emocional na ausência dessas cicatrizes. As pessoas mais admiráveis que você conhecesse poderão lhe falar sobre suas cicatrizes. Você perceberá que não as admiraria tanto se elas não tivessem vivido tudo isso.
Aceite suas dores como convites para sair do sofrimento.
Aceite-as como professoras rígidas, mas sábias. Respeite suas dores, elas estão lhe mostrando o caminho. Não pense que isso é um convite para ter prazer em sofrer, não se trata de masoquismo, se trata de maturidade. Uma dor durará em sua vida apenas o tempo exato pra que você possa aprender a mensagem que ela contém, depois desaparece, algumas vezes imediatamente, outras gradualmente.
Mas uma coisa é certa: as dores que te acompanham hoje não estarão aí amanhã se você ouvir o que elas têm para te dizer. A dor é muito eloquente, cabe a nós aprendermos a ser bons ouvintes. Todas essas dores passarão, isto é uma certeza. Outra certeza é o que o tempo que demorarão a passar é influenciado por nós.
De hoje em diante quando uma dor visitar você pergunte imediatamente: “O que você está querendo me dizer?” E proponha: “Permaneceremos juntos até resolvermos a questão, depois você terá que partir!”
Lembre-se que mesmo os seres mais iluminados que passaram por este planeta não puderam cumprir suas missões na ausência da dor. Por que iríamos querer privilégios para nós, pessoas comuns? Sigamos o exemplo dessas pessoas iluminadas que a história da humanidade retrata tão bem. Tratemos nossas dores como passarinhos feridos que caíram do ninho, cuidemos de seus machucados com amor e dedicação. Assim que cicatrizarem o passarinho voltará a voar!