por Samanta Obadia
Recentemente tive a dádiva de conhecer Aleksander Laks, um dos sobreviventes do Holocausto e autor do livro com o mesmo nome .
Tantas são as histórias lidas e os filmes assistidos sobre esse assunto, que por muitos anos, acreditamos saber a verdade em relação ao que aconteceu naqueles anos terríveis. Como psicanalista, sei que o contato com a realidade nos propõe movimentos únicos preciosos que, muitas vezes, nos levam à superação de sofrimentos inimagináveis; por isso conhecer a história de Aleksander Laks e as muitas formas que o levaram a ser um dos sobreviventes de uma família de sessenta pessoas, durante os cinco anos em que esteve nas mãos dos nazistas, é um desses encontros inenarráveis que desestruturam nossos conceitos, valores e princípios.
Olhar em seus olhos, ouvir de seus lábios suas palavras, participar de suas experiências intransferíveis é presenciar a realidade in loco, é estar diante da história viva.
Acostumamos-nos a discursar sobre o que lemos, como se pudéssemos verificar os fatos ocorridos. Todavia, nada se compara ao contato com a humanidade presente, com o relato de um indivíduo de carne e osso, olho no olho.
Testemunhar a vontade de vida de um homem que sofreu os horrores da maldade humana, que sobreviveu à tristeza, à solidão, à fome e ao ódio, é uma oportunidade singular de perceber a vida como uma graça suprema.
A consciência de histórias como essas, nos coloca diante do descaso crescente em relação à vida humana, desde o pouco valor que lhe é dado até a impunidade que insiste em não penalizar os que atentam contra esta. Contudo, não me conformo com a estagnação de uma maioria não pensante que evita o confronto com a realidade nua e crua do que há de ruim no humano. Como Ed Mota, dizia sabiamente, em sua música ‘Manoel’: ”O mundo é fabuloso. O ser humano é que não é legal”. Da mesma forma, que não é legal o preconceito, a ganância, a estupidez e o desafeto, seja ele qual for.
Aleksander reforçou o desejo de viver em condições desumanas, o que nos leva à percepção do quanto temos, do quanto somos e do quanto ainda podemos ser.
1. O termo Holocausto (com inicial maiúscula) foi utilizado especificamente para se referir ao extermínio de milhões de pessoas que faziam parte de grupos politicamente indesejados pelo então regime nazista fundado por Adolf Hitler. Havia judeus, militantes comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes motores, deficientes mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polaca, russa e de outros países do Leste Europeu, além de activistas políticos, Testemunhas de Jeová, alguns sacerdotes católicos, alguns membros mórmons e sindicalistas, pacientes psiquiátricos e criminosos de delito comum.
2. O Sobrevivente, livro de Aleksander Henrik Laks com Tova Sender, editora Record.