por Elisa Kozasa
“Nossa já são 18 horas? Não é possível! Parece que estou aqui na frente do computador há muito menos tempo! Estou até atrasada agora!”. Quantos de nós já não passamos horas em frente ao computador e perdemos a noção do tempo, seja trabalhando ou até mesmo navegando pela Internet ou entrando em um chat?
Quanto tempo você fica por dia em frente ao computador? Talvez algumas horas ou até mesmo o dia todo? O que acontece durante esse tempo? Será que você já chegou a perder a noção do tempo nessa atividade?
Será que estamos biologicamente preparados para tudo isso?
Certa vez, em uma conferência que acompanhei em Washington, uma mesa-redonda abordava a questão do déficit de atenção, um transtorno que tem afetado muitas crianças em idade escolar e uma especialista levantou uma questão: “Até o início do século sabíamos pouco sobre o que ocorria no mundo; em meados do século passado, surge a televisão, pouco tempo depois o computador e de repente nos vemos bombardeados por uma quantidade infindável de informações e por uma ansiedade em saber mais. Será que estamos biologicamente preparados para tudo isso?”
Bem, essa não é uma questão simples de ser respondida, afinal, não conhecemos ainda os limites de armazenamento de informações do cérebro humano e a quanta informação ele pode ser exposto.
Atualmente nossas crianças são submetidas desde muito cedo a uma variedade de estímulos, muitas vezes caóticos para elas. Quando precisam por outro lado sentar-se para estudar utilizando livros, ou ter a disciplina de fazer a tarefa da escola, há uma dificuldade em mantê-las quietas e concentradas, e na primeira distração já estão na frente da TV ou do computador.
Lembro-me de que havia no início da popularização dos computadores uma promessa de que eles tornariam nossa vida mais simples e menos estressante. Sou da geração que ouviu frases como esta por mais de uma dúzia de vezes. Cheguei até mesmo a estudar processamento de dados, uma das profissões promissoras na época. Mas o que percebemos é que se não tomarmos cuidado, com o avanço da tecnologia dos computadores, associada às facilidades da Internet, ao invés de conseguirmos simplificar nossa vida, acabamos tendo mais trabalho e até mesmo levando-o para casa. Sem dúvida nenhuma, para alguns profissionais, poder trabalhar em casa pode ser uma vantagem, mas que pode trazer o caos para a vida, se não tivermos o discernimento e a disciplina de separar o que é trabalho, do que é vida familiar e pessoal.
Já vi cenas ao visitar amigos como esta: a mãe trabalhando no computador, tentando dar atenção à criança, e com o feijão na panela de pressão… Será que isso dá certo? Acho que ou o trabalho não ficará muito bom, ou a criança não será atendida nas suas necessidades de carinho e afeto, ou o feijão vai queimar…
Com a “facilidade trazida pelo computador”, vemos nas empresas, um funcionário fazendo o que antigamente fariam dois (ou mais…) e sendo cobrados rigidamente pelas tarefas. Se é uma tarefa mais rotineira, ainda vem o estresse de ter um trabalho pouco desafiador, e em geral o empregado nesse caso está ainda sujeito às lesões por esforços repetitivos.
O computador, sem dúvida nenhuma pode trazer uma série de benefícios, mas precisamos ter a consciência de conseguir parar quando necessário, dar atenção a nossos filhos, conversar pessoalmente com nossos amigos ao invés de virtualmente, e entrar em contato com o mundo real.
Dicas de leitura:
Hudiburg RA, Pashaj I, Wolfe R. Preliminary investigation of computer stress and the big five personality factors. Psychol Rep. 1999 Oct;85(2):473-80.
Smith MJ, Conway FT, Karsh B-T. Occupational stress in human computer interaction. Industrial Health, 1999, 37, 157-173.