Por Ricardo J.A. Leme
Para o materialista, o humano é o topo da cadeia evolutiva, não há nenhuma forma de vida superior à forma humana. É uma escolha, portanto uma escola e, portanto, uma parcialidade. Saúde é inteireza, doença é parcialidade. Toda pessoa que adoece se transforma após o processo quando sobrevive. Que possamos continuar a sobreviver até que possamos transcender o tempo e suas intempéries. Transcender o tempo é entrar em paz. Estar em paz é estar inteiro e, portanto, saudável. Para ser saudável é imprescindível a clareza conceitual entre desejo, necessidade e vontade – assunto para o próximo texto. Se tudo isso é a mesma coisa para mim, sou sociopata, careço do discernimento fundamental para o ser saudável.
Vivemos a idade mídia, momento delicado para os interessados em aprofundamento, autoconhecimento e sentido. Essa escolha atual de desfrontalização (deixar de usar os lobos frontais do cérebro – sede da razão e do pensamento abstrato) não deve em absoluto ser vista de forma preconceituosa ou pejorativa, mas de forma alguma deve passar despercebida ao humano em busca da saúde. Isso pois, sentido existencial interior e saúde caminham de mãos dadas.
Parte considerável dos alimentos disponíveis são inflamatórios e parte considerável dos estímulos aos quais estamos submetidos são desorganizadores mentais, não se excluem os noticiários! As doenças crônicas como diabetes e hipertensão aliadas aos distúrbios do humor decorrem em grande parte da forma insana como nos alimentamos na atualidade. Um processo irreversível decorrente da péssima qualidade das escolhas que fizemos em passado recente.
Por outro lado, sejamos otimistas, não sejamos preconceituosos, experimentemos estabelecer uma relação viva com conceitos emancipadores. Não se revolte, senão apenas volte a si e reconheça o porquê do ambiente à sua volta ser como é. Reflexões simples, mas que nos esquivamos da responsabilidade diariamente.
Diminuir o uso de antidepressivos, moduladores de humor, sedativos do ser, talvez seja opção a ser considerada com certa urgência. Parar de apontar fora e reconhecer dentro aquilo que cabe apenas a mim realizar. Tornar-se pílula de saúde individual.
É possível ser saudável dentro dessa sociedade! Mas é preciso atenção às fórmulas, respostas prontas e receitas, pois cada vida é única. Não nos esqueçamos que o contrário de algo é a mesma coisa ao contrário e que para que a integralidade seja alcançada, os opostos devem ser integrados em um todo, ou seja compreendidos. Oposição é parcialidade, integração é saúde. Uma sociedade partida é uma sociedade condenada, onde tudo o que muda visa apenas fazer com que tudo permaneça como está!
O caminho para a vida saudável é o caminho das perguntas, das possibilidades e raras vezes o das respostas e do tic-tac dos relógios. O poeta cantou que temos nosso próprio tempo. Entrar em relação com esse tempo interno, que é único para cada ser, é o primeiro passo solitário e certeiro para a possibilidade da vida saudável.
Não é preciso ficar doente para habitar uma sociedade doente. A pessoa com vida interior pode frequentar a sociedade e reconhecer seus equívocos, pois pensa, tem membrana seletiva. A pessoa desfrontalizada responde aos desafios sociais à semelhança dos animais na floresta. E tudo isso é muito belo de se observar. Observar é um grande passo para o humano. Observemos!