por Danilo Baltieri
Resposta: O crack, que é uma mistura de pasta-base de cocaína com bicarbonato de sódio ou amônia, água, e vários outros compostos (incluindo querosene, cal, cimento etc), tem-se disseminado vertiginosamente no nosso meio desde a década de 90.
Cocaína e crack têm sido consumidos por cerca de 0,3% da população mundial, e cerca de 70% do total de usuários concentra-se nas Américas. A grande popularidade dessa droga deveu-se inicialmente a fatores como baixo custo, alta potência e rápido início de ação.
Geralmente, os usuários buscam efeitos como euforia, sensação de possuir maior energia, poder e excitação. Após fumada a "pedra" de crack, os efeitos duram poucos minutos, conduzindo o usuário a buscar mais droga. Infelizmente, tendo em vista a sua alta potência para induzir dependência, é bastante incomum encontrar algum usuário esporádico ou casual dessa droga.
Sintomas como notável dificuldade para cessar o consumo da substância, persistente desejo de usar, pensamentos recorrentes sobre a droga, tendência para priorizar o consumo da substância, fumar a droga apesar das perdas diversas decorrentes (amorosas, financeiras, familiares etc), irritabilidade quando na falta do consumo, necessidade de usar maior quantidade, são denominadores comuns nesse contexto.
Também, após o consumo, sintomas físicos como taquicardia, hipertensão arterial, insônia, pupilas dilatadas (midríase), inquietação ou agitação psicomotora, inibição do apetite e contrações musculares involuntárias fazem parte do quadro.
À medida que o consumo progride, o usuário pode sustentar pensamentos disfuncionais, acreditando, por exemplo, que não tem quaisquer condições para modificar sua situação vigente, mantendo, então, seu estilo de vida inadequado. As falhas terapêuticas e as recaídas frequentes podem fomentar tais pensamentos.
É verdade que os efeitos provocados pelo crack são intensos, tanto após o consumo quanto na sua interrupção. Sintomas depressivos, irritabilidade, fissura intensa, ansiedade, pensamentos sobre o uso costumam aparecer quando o usuário tenta deixar de fumar. Além dos efeitos significativos e, por vezes, devastadores do crack, até o momento não existem medicações comprovadamente eficazes para o manejo farmacológico dessa condição.
É claro que o tratamento das dependências químicas, como eu tenho reiteradamente comentado no Vya Estelar, não inclui apenas o manejo farmacológico. No entanto, medicações eficazes e seguras para a redução da fissura, por exemplo, são ferramentas bastante úteis quando disponíveis, como ocorre com as síndromes de dependência de álcool, nicotina e opioides.
Tratamento é complexo
O tratamento da síndrome de dependência de cocaína-crack é bastante complexo e, muitas vezes, difícil. A gravidade da dependência varia, e recursos terapêuticos respaldados cientificamente devem ser utilizados para aliviar o problema. É importante destacar aqui que, frequentemente, o usuário de crack também consome outras drogas concomitantemente, como o álcool e a maconha.
Na prática clínica diária, é bastante comum encontrar portadores dessa síndrome de dependência que, de fato, acreditam que não conseguirão recuperar-se. As recaídas frequentes, por vezes, ajudam a fomentar essa crença que, por sua vez, pode prejudicar ainda mais o prognóstico.
Você precisa procurar uma equipe especializada no manejo desse problema. Existem diferentes formas de tratamento que, seguramente, serão oferecidas para você baseadas no seu quadro clínico atual e pretérito.
Estratégias de tratamento podem ser eficazes para alguns portadores, mas não para outros. Portanto, a individualização do manejo clínico é necessária.
Realmente, não é fácil; no entanto, é possível viver sem a necessidade de consumir essa e outras substâncias.
Abaixo, indico passos que podem ser úteis para você:
a) Entre em um programa de tratamento. O tratamento dos problemas relacionados ao uso do crack têm sido prioridade dos governos dos Estados e Municípios;
b) Procure compreender como o processo do uso dessa substância iniciou e perpetuou;
c) Examine seu estilo de vida;
d) Recuperação implica na identificação do problema, no aprendizado dos fatores associados ao uso e recaídas, e no treinamento de técnicas para evitar o consumo;
e) Estilo de vida e hábitos precisarão ser urgentemente revistos;
f) A desintoxicação é apenas o primeiro passo de uma longa batalha;
g) Lembre-se: recaídas serão sempre um fator de preocupação na sua vida. Todavia, é você quem deve fazer as suas escolhas e organizar a sua vida.
Não perca tempo, nem a coragem.
Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.