por Joel Rennó Jr.
Hoje muito se fala de Síndrome do Pânico (SP) ou Transtorno do Pânico (TP), porém, em muitos meios isso passa despercebido, levando todos a procurarem cardiologistas, clínicos gerais e outros profissionais na tentativa de buscar-se uma explicação lógica para uma série de sintomas físicos, que ocorrem associados a esse transtorno mental.
Repentinamente, o coração dispara vindo acompanhado de tontura e falta de ar. Um terrível sentimento de morte iminente sufoca o âmago do paciente. Cerca de 20 a 30 minutos depois, tal estado de extrema ansiedade pode desaparecer. As pessoas ficam atormentadas apenas pela expectativa de que uma outra crise aterrorizante possa ocorrer sem avisar e com a pessoa totalmente indefesa ou vulnerável. É como se ela se sentisse ameaçada o tempo todo, com algo terrível e preste a acontecer, sem que ela possa se prevenir.
A prevalência ao longo da vida, segundo dados do National Comorbidity Survey (NCS) dos EUA, é de cerca de 3,5%. Tal estudo detectou também, nas pessoas com pânico, que 71% delas eram do sexo feminino, enquanto 29% eram do sexo masculino. A idade de início da sintomatologia se concentra entre os 15 e 19 anos, sendo raro os casos que se iniciam após os 40 anos.
No Brasil, deve haver entre quatro a seis milhões de pessoas que sofrem com esse distúrbio. Segundo a pesquisadora norte-americana Yonkers, da Universidade de Yale (EUA), ao longo de oito anos, após a completa interrupção dos sintomas, as mulheres têm uma chance de recaída de 64%, enquanto os homens de 21%. Já a remissão (diminuição ou interrupção) dos sintomas, neste período é de 76% para as mulheres e de 69% para os homens.
Sintomas
Os sintomas de pânico mais associados ao gênero feminino são respiração curta, náusea e sensação de sufocamento. Já no sexo masculino, os sintomas mais comuns costumam ser sudorese profusa e mal-estar ou dor estomacal. As mulheres costumam ter mais associação com quadros fóbicos e até transtorno do estresse pós-traumático ou depressão. Geralmente, os pensamentos catastróficos também são mais típicos no sexo feminino, segundo as diversas pesquisas.
O Transtorno do Pânico é caracterizado pela presença repetitiva de ataques de pânico: crises espontâneas, súbitas, de mal-estar e sensação de perigo ou morte iminente, com vários sintomas e sinais de alerta como suor, tremores, rubor facial, taquicardia ("batedeira no coração"), taquipnéia (respiração rápida e superficial), sensação de sufocamento ou "nó na garganta", tonturas, formigamentos, náuseas, vômitos, diarréias e outros, atingindo o pico máximo em cerca de 10 minutos.
As crises de pânico podem levar ao comportamento desadaptativo e congelamento ou busca de fuga ou ajuda (ida a um pronto-socorro) que denominamos pânico.
Geralmente a pessoa está bem, quando percebe que algo indefinido a ameaça. Ocorre uma sensação inesperada de falta de ar, tonteira, flutuação que indicam um risco de vida ou perda da razão que nunca chegam a ocorrer. As mãos gelam e ficam úmidas, a respiração fica difícil, o coração acelera e a pessoa sente-se sufocada. Formigam as extremidades, adormecem os lábios e ondas de calor ou frio ocorrem também. Tudo ocorre em segundos ou minutos. O indivíduo procura ajuda e pode se desesperar. A crise pode passar em cerca de 20 a 40 minutos e é seguida de sensação de cansaço, fraqueza, pernas bambas. No auge da crise, a pessoa pode tomar atitudes de risco como descer do carro em locais de risco, abandonar afazeres domésticos sem os devidos cuidados (como apagar o fogo por exemplo).
Síndrome do pânico e gravidez
Com relação à gestação, há dados científicos interessantes e importantes. Segundo os autores Northcott e Stein, constatou-se que 43% dessas pacientes apresentaram melhora dos sintomas ansiosos na gestação, 33% piora e 24% não apresentaram nenhuma alteração. Portanto, quanto ao curso da doença na gestação, não há um único padrão estabelecido.
O alto nível de estresse gerado pelas sucessivas crises de pânico na gravidez pode ser prejudicial pelo nível de cortisol aumentado. Isso pode levar a um risco maior de retardo de crescimento intrauterino, antecipação da data de parto (parto prematuro) e em casos extremos até a abortamentos espontâneos (define-se abortamento espontâneo, aquele que ocorre até a vigésima semana de gestação). Portanto, o médico obstetra que faz o pré-natal, em contato com um psiquiatra especializado, deve fazer uma avaliação do risco e benefício envolvidos no tratamento.
Para a instituição de um possível tratamento medicamentoso, com antidepressivos (deve-se evitar "calmantes"), devemos levar em conta fatores relativos ao nível sintomatológico do transtorno do pânico e prejuízos associados à mãe e ao feto. A escolha do antidepressivo deve ser realizada apenas pelo psiquiatra. Já que os antidepressivos possuem diferentes níveis de riscos entre si quando administrados para gestantes. Posso dizer, com toda a certeza, que quando há conhecimento clínico e científico adequados, há sim possibilidade de tratamento/medicamento dos casos mais graves, mesmo na gestação.
Nos casos leves e moderados, a psicoterapia cognitivo-comportamental costuma ser muito eficaz e gera resultados rápidos, em média em torno de 6 a 12 semanas de tratamento. Embora isso seja variável de pessoa para pessoa e dependente do nível de gravidade e incapacitação da doença.