por Sandra Vasques
“Terei de enterrar a vontade de transar? Poderia nesse pouco tempo de viuvez arranjar um outro alguém sem ser criticada por isso”
Resposta: A história da vida sexual de quem ficou viúvo ou viúva deveria ser escrita apenas por eles, mas, como se percebe com esta pergunta, não é bem assim.
O julgamento dos que fazem parte do seu círculo social pode interferir bastante e tornar ainda mais difícil a reorganização da vida como um todo, e em especial da vida sexual.
A vontade de transar geralmente volta a fazer parte da vida dos viúvos. Toda perda leva a um período de luto, mas esse vai depender da ligação afetiva com a pessoa perdida, com os valores e crenças e do contexto em que tudo se deu. O luto é um processo que começa com a negação do que está acontecendo, é seguido por raiva, depressão e finalmente aceitação. Se a viúva já está sentindo desejo por outras pessoas, é sinal que já conseguiu lidar com a perda e já está disponível para se reconectar com a vida de maneira positiva e com espaço inclusive para voltar a viver plenamente a sexualidade. E o fato de já estar disponível após cinco meses não quer dizer que não tivesse respeito, carinho, desejo por quem morreu.
Mas, será que alguém vai criticar? Com certeza!
Sempre há pessoas que ao invés de olhar para o que é preciso cuidar e mudar em suas vidas, preferem fazer isso com a dos outros. Mas, afinal, vivemos em sociedade e não podemos esquecer disso, sabendo que teremos que lidar com as diferentes opiniões e posturas das pessoas que fazem parte de nossa vida. Por isso, que ao tomar a decisão de retomar a vida sexual, a viúva precisa estar segura que é o melhor para si, que isso não tem nada a ver com sua lealdade ao parceiro que morreu, mas também saber que terá de enfrentar o contexto.
As histórias de vida das pessoas e dos casais são diferentes umas das outras e o modo como vivem a sexualidade durante a vida, também interfere para como se vai vivê-la depois da morte de um dos pares. Um casal, por exemplo, cujo principal motivo de união é a amizade, e o sexo não é importante para eles, se um deles morre, a grande falta será da parceria amiga. A vivência da sexualidade, nesse caso, fica mais protegida da falta e pode ser logo retomada. Pessoas cujos parceiros estiveram por longo tempo doentes, também ficam muito desgastados pela vivência do sofrimento e, em geral, já estão há muito tempo sem vida sexual ativa. A morte, nesses casos, já é algo esperado, o luto é vivido mesmo antes dela acontecer, e a dor é diluída durante todo o processo de doença. Dessa maneira, o tempo do luto, após a morte do par tende a ser mais curto e o viúvo, então, fica disponível para retomar a vida sexual.
Por ouro lado, se a morte do ser amado vem de forma repentina, inesperada, trágica, o tempo de luto tende a ser bem maior e portanto a reorganização da vida e a disposição para viver a sexualidade pode demorar mais, em geral de um a dois anos. É claro que há excessões. E também deve-se lembrar que há perdas que não são lamentadas, pois a relação era muito ruim. Por outro lado, há pessoas que nunca conseguem superar a perda e escolhem continuar sozinhos e, inclusive não retomar a vida sexual.
Assim, se a viúva já se sente pronta para viver a sexualidade, ela deve fazer o que tem vontade. Afinal, o que havia para se viver com quem morreu já foi vivido e não há como retomar. Se a relação era boa, a saudade vai permanecer, mas não deve imobilizar ou inviabilizar a retomada da vida, além do período do luto. É necessário seguir em frente e reorganizá-la de um jeito novo, saudável e prazeroso. Pode ser que algumas pessoas falem mal, ou questionem as atitudes. É por isso que ao tomar a decisão de ficar com alguém, tenha claro para si que é um direito e não um sinal de desrespeito e deslealdade a quem já morreu.