Estresse infantil: qual o limite da agenda formal de uma criança?

por Elisa Kozasa

Existe um dilema em relação à educação infantil. Pergunto.

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Como lidar com a inquietude, ansiedade e sobrecarga sofridas pelas nossas crianças?

Parece um absurdo, mas uma temática que ganha notoriedade é o estresse infantil. Em um período em que os seres humanos deveriam brincar e se divertir, cada vez mais eles se ocupam de atividades que deixam de ser lúdicas para se tornarem motivo de estresse: aulas dos mais diversos tipos, competições, videogames, horas em frente aos estímulos incessantes da televisão. Chega-se até mesmo ao ponto em que é necessário medicar essas crianças com psicotrópicos.

Em uma sociedade competitiva dizem que só sobrevivem os mais fortes e preparados. Preparados para quê? Preparados como? É claro que uma boa educação formal é parte disso.

Qual o limite da agenda formal de uma criança?

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Afinal, ela quer e precisa brincar.

Uma vez que não é possível dar um passo completo para trás e retornar a uma vida bucólica, é importante trazer recursos cognitivos e afetivos para que a criança possa em primeiro lugar aprender a reconhecer os seus próprios limites e a gerenciar suas emoções, dentro das possibilidades de sua faixa etária. E principalmente para os pais, pois são eles quem determinam boa parte da agenda dos filhos e muitas vezes não param e escutam os pequenos e suas reais necessidades. Existem hoje escolas de diferentes linhas pedagógicas que podem se adequar melhor ou pior ao perfil de uma determinada criança.

Mas alguns recursos que podem ajudar a criança a se centrar, encontram-se em práticas contemplativas como o yoga, artes marciais (desde que não priorizada a competição), além de práticas de relaxamento e períodos curtos de meditação.

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Hoje em dia existem diversas academias especializadas no ensino dessas práticas para os pequenos que aprendem a canalizar sua energia de maneira sadia. Existem até mesmo experiências no ensino público. Por exemplo, em escolas públicas de Araçatuba (SP) e Birigüi (SP), é ensinado o centramento, que consiste em exercícios respiratórios realizados na sala de aula antes do início do período letivo e após o retorno do intervalo. É também abordada a mediação de conflitos, baseadas em princípios de não violência e cooperação. Há ainda uma experiência relatada em um artigo no Journal of Pediatric Health Care sobre a introdução de práticas de Tai Chi adaptadas a práticas de *Plena Atenção que aumentaram o bem-estar, qualidade de sono, autoconsciência, dentre outros fatores, em estudantes de 11 a 13 anos, em uma escola pública de Boston.

É importante que além de levar a criança a novos e novos estímulos, possamos também ensiná-las a desacelerar e relaxar e a mostrar a elas o prazer que existe também nesses momentos.

*São práticas que auxiliam a nos trazer a atenção para o presente momento sem julgamento, como é o caso das práticas de meditação, yoga, tai chi e outras.

Dicas de leitura:
Mantovani F. Escolas públicas usam técnicas de mediação. Folha Equilíbrio. http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4049.shtml.
Wall RB. Tai Chi and Mindfulness-Based Stress Reduction in a Boston Public Middle School. Journal of Pediatric Health Care, (2005). 19, 230-237.