por Ceres Alves Araujo
Nos dias de hoje, morar em cidades grandes é viver sob um estresse crônico. Existem problemas sérios com a mobilidade dentro da área urbana. Enfrenta-se, diariamente congestionamentos, tráfego carregado, ônibus e metrô lotados. Pais vivem uma correria para deixar os filhos na escola e irem para o trabalho e depois para sair do trabalho e buscar os filhos na escola.
Há filas para almoçar em restaurantes ou lanchonetes, filas e mais filas para as atividades de lazer.
As noites são maldormidas, em função do barulho e da claridade excessiva. A criminalidade assusta e faz com que as pessoas vivam em estado de alerta e trancadas em suas casas e em seus carros.
Paga-se um preço considerável por viver em grandes centros urbanos. Sabe-se que moradores de metrópoles desenvolvem uma hipersensibilidade em áreas do cérebro associadas ao estresse. Os circuitos neuronais, responsáveis pelo autocontrole, são muito vulneráveis ao estresse. Assim, transtornos de ansiedade e depressão passam a ser patologias comuns.
Entretanto, apesar desse cenário ser pouco agradável e pouco saudável, morar em cidades grandes possibilita muitas vantagens. Tem-se o acesso a bons colégios e universidades, cinemas e teatros, hipermercados, sofisticados shoppings, melhores oportunidades de trabalho e um sem-número de serviços.
Muitas vezes, as vinte e quatro horas do dia são insuficientes para todos os afazeres e para satisfazer todos os desejos, ficando a agenda de adultos e crianças sempre apertada. Na verdade, vive-se sob um paradoxo onde, por um lado, se quer fazer tudo para se obter uma boa qualidade de vida, mas, por outro, acostumar-se a uma rotina com um nível de estresse elevado, pode prejudicar a boa qualidade de vida almejada.
Alguns acreditam que viver com ansiedade se tornou um estado psíquico inerente ao ser humano que vive nas grandes cidades, na nossa época. É exigido dele uma considerável capacidade de adaptação. Vale dizer que a adaptação não é só precisa em relação às exigências impostas pelo mundo externo, mas também em relação ao mundo interno de necessidades e desejos do indivíduo. Conflitos entre essas demandas são frequentes.
Estratégias resilientes (de autossuperação) são necessárias para se viver nos grandes centros urbanos. Tratam-se daquelas que buscam soluções criativas frente aos problemas de se viver em cidades grandes e elas vão variar de família para família. É importante, por exemplo, uma logística para os deslocamentos da família.
Oito dicas para não estressar as crianças:
1ª) A escola dos filhos precisa ser próxima da moradia da família. Uma criança não pode ser deixada por horas em uma condução escolar para ir e voltar da escola.
2ª) As atividades extraescolares das crianças não podem ser em pontos distantes das casas e nem devem ser numerosas, com risco de sobrecarregá-las demasiadamente.
3ª) Quanto mais jovens as crianças, mais elas apreciam e aproveitam a atmosfera da própria casa e devem ser permitidas a isso.
4ª) Crianças quanto mais jovens, menos tolerância têm com filas a aglomerações. Por melhor que seja o programa ou a atividade, nada justifica esperas longas para os pequenos.
5ª) É importante eleger prioridades, sabendo-se que nem todos os desejos dos elementos da família, criados pelas ofertas atraentes da cidade, poderão ser satisfeitos, dada a dificuldade de mobilidade.
6ª) Deve-se criar o hábito de recorrer a serviços, necessários para o abastecimento da casa, daqueles que são ofertados no próprio bairro, perto da moradia.
7ª) Aos poucos, a família precisa ir se adaptando ao e-commerce. Servir-se das compras nas lojas "tradicionais", apenas para produtos emergenciais.
8ª) Quando a família for viajar nos finais de semana ou nos feriados, os pais devem lembrar do absurdo trânsito que terão de enfrentar nas marginais para sair das grandes cidades, como, por exemplo, na cidade de São Paulo. Faz-se necessário planejar a saída em um horário que terá menos congestionamento. Mesmo que esse horário resulte em menor tempo de lazer no local de destino. Esse menor tempo será compensado por uma melhor qualidade na viagem como um todo. Com certeza as crianças que ficam entediadas dentro do carro, no trânsito absurdo, serão poupadas, pelo planejamento adequado.
Essas e outras estratégias resilientes devem agora fazer parte do cotidiano dos citadinos das grandes metrópoles. As imensas aglomerações urbanas são um fato. Não dá para fugir delas. O estresse, consequente a elas também é um fato, mas dele é possível fugir, se souber planejar melhor o seu dia a dia.