Estresse no feto, no bebê, na criança, no adolescente, no adulto e na velhice

O aumento de estresse nos tempos atuais, é uma condição vivida por todas as pessoas e em diferentes idades

O estresse, por si só, não significa patologia, pois ele é condição de vida. Um nível adequado de estresse está relacionado à necessária vitalidade para nos propormos metas, objetivos e ações. Mas, um aumento de estresse, acima da possibilidade de se lidar com ele, pode significar patologia.

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As pessoas têm recursos diferentes, condições diferentes para administrar situações de aumento de estresse. Uma mesma situação estressora, de aumento considerável de estresse, pode ser vivida por umas pessoas sem causar nelas uma perturbação ou um desequilíbrio importante. Outras pessoas, entretanto, com recursos menores, frente à mesma situação podem se sentir abaladas, podem ficar paralisadas e desorganizarem-se a ponto de apresentarem sinais de ansiedade e depressão.

Pessoas resilientes têm mais capacidade de enfrentar situações com aumento de estresse

Assim, o enfrentamento às situações de aumento de estresse varia de pessoa para pessoa e isso é verdade para todas as idades. Esse enfrentamento está ligado à capacidade de superação, à capacidade de resiliência.

Resiliência é definida, nas ciências humanas, como a capacidade de enfrentar uma adversidade com maestria e aprender com ela. A resiliência é um potencial presente em todos os seres humanos desde a sua concepção, mas, como todo potencial, precisa ser atualizado ao longo de toda a vida. A atualização desse potencial no decorrer da superação dos conflitos presentes nas diferentes etapas da vida do ser humano, pode fazer uma diferença muito positiva no enfrentamento aos aumentos de estresse.

O aumento de estresse da atualidade, constitui um fator de risco considerável à saúde mental e física. Podem ser descritas, ao longo da vida, algumas condições responsáveis pelo aumento de estresse, e que se tornam fatores muito prejudiciais:

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No feto e no bebê

O aumento do nível de cortisol no útero da mãe determina a neuro vulnerabilidade adquirida no útero, a qual leva à prejuízos importantes no decorrer da vida. O aumento do cortisol no útero advém de um estresse elevado vivido pela mãe durante a gravidez. O recém-nascido nasce já com um aumento de estresse, que faz dele alguém mais difícil de ser acalmado, alimentado e cuidado. A relação mãe-bebê não consegue se estabelecer da forma mais desejável.

Na criança

Dentre os fatores que causam aumento de estresse pode-se citar doenças da criança, as internações, a depressão materna, a morte de mãe, a viuvez da mãe, a existência de uma família disfuncional, a violência conjugal, a negligência, o abandono, a precariedade social.

Além deles, devem ser considerados, a falta de um apego seguro, as dificuldades de adaptação à escola, as dificuldades escolares, o convívio com professores ineficientes, a orientação escolar fraca, as dificuldades da sociabilidade, o bullying, a instabilidade econômica das escolas…

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No adolescente

Sendo a adolescência um período sensível, em função das alterações significativas do comportamento, determinadas pelo rearranjo dos circuitos neuronais e pelas mudanças hormonais, conflitos na relação com pais e professores, frequentes, criam aumento importante de estresse no jovem. Tais conflitos estão relacionados à busca de maior autonomia, aos ensaios de comportamentos mais assertivos, às posturas de afirmação, aos desejos que nem sempre podem ser satisfeitos, à dificuldade de lidar com limites e interdições, às dificuldades de tolerar frustração, de adiar satisfação de necessidades, entre outros aspectos.

No adulto

No nosso tempo, é possível que um desafio importante da pessoa na vida adulta seja o exercer várias atividades ao mesmo tempo. É preciso equilibrar as demandas da família, do trabalho, gerenciar o processamento das informações que se recebe e se manter consciente das próprias necessidades e emoções em meio às essas inúmeras demandas. O aumento de estresse e, também, a experiência de um estresse crônico são fatores de risco importantes à saúde do adulto. Acrescem-se outros fatores de risco importantes na elevação do estresse como doença crônica, doença de familiares, morte de familiares, abuso e violência, separações e litígios, dependência química, discriminação e exclusão social.

Na velhice

A terceira idade constitui um período de vulnerabilidade à saúde física e mental. Fatores de risco biológicos, socioeconômicos, psicológicos podem se sobrepor. O nível de estresse é aumentado por morte de familiares, doenças, acidentes, incapacidades físicas e mentais, conflitos familiares, perda de prestígio, pobreza, abandono… Pode ser considerada também como condição que pode causar aumento de estresse, o isolamento do contexto profissional, social e afetivo, determinado por uma aposentadoria indesejada ou mesmo desejada.

Finalmente, cumpre ressaltar o papel da Pandemia do COVID-19, até agora, a grande adversidade vivida pela humanidade, em termos globais, nesse século. O isolamento, o convívio familiar restrito à família e intenso demais, o medo da morte, o estado prolongado de confinamento e restrições, as medidas de prevenção, as novas variáveis do vírus, a Pandemia que não termina, geraram e continuam gerando aumentos progressivos de estresse.

Essa infecção viral pandêmica deixou sequelas percebíveis em muitos que estiveram doentes. Porém, possivelmente, as sequelas econômicas e psicológicas serão vividas por todos os seres humanos nos próximos tempos. Isso significa aumento do aumento de estresse com o qual já se convivia.

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.