por Danilo Baltieri
Resposta: O surgimento da síndrome do estresse pós-traumático (PTSD), caracterizada por intensa ansiedade, pesadelos, revivescência das experiências traumáticas, sintomas psicológicos e fisiológicos intensos desencadeados pela lembrança do estímulo traumático, comumente interfere de forma decisiva com as atividades da vida diária do portador.
Muitos desses indivíduos poderão abusar de substâncias psicoativas como uma forma de driblar a dor provocada pelas experiências negativas pretéritas, angariar um senso, mesmo que falso, de controle sobre si mesmo, ou tentar evitar a revivescência das memórias traumáticas intrusivas.
De fato, muitas pessoas vítimas de agressão sexual, ataque criminoso, desastres naturais ou provocados, guerra, ou outros eventos traumáticos, podem abusar de substâncias psicoativas como uma tentativa de melhorar o sono e diminuir as sensações de vergonha, culpa, ansiedade e as experiências de verdadeiro terror.
Essas tentativas disfuncionais poderão colocar o indivíduo em risco de vivenciar ainda mais experiências traumáticas, em um circuito vicioso devastador. Além disso, o consumo de sustâncias psicoativas prejudicará a capacidade do indivíduo para adquirir habilidades sociais e pessoais para lidar com o trauma, diminuirá a capacidade laborativa e a concentração, interferindo com a capacidade para manter o foco.
Vários estudos têm mostrado uma significativa prevalência da síndrome do estresse pós-traumático (PTSD) entre indivíduos com problemas com o uso de substâncias psicoativas. A prevalência de PTSD na população geral varia entre 3 e 7%. Já entre portadores de problemas com o uso de substâncias, a prevalência corrente de PTSD varia entre 20 e 50%.
Quanto maior a gravidade do problema relacionado ao uso de substâncias, maior a chance da coexistência de PTSD. Seguindo esta linha de pensamento, dada a maior gravidade do quadro relacionado ao uso de substâncias, piores serão os resultados terapêuticos quando ambas as condições estão presentes. Também, cerca de 50% dos indivíduos portadores de ambos os problemas padecem de outros transtornos mentais, como depressão e ansiedade.
Dessa forma, um evento traumático suficientemente grave a ponto de causar sintomas de estresse psicológico recorrente pode aumentar a chance de consumo de substâncias psicoativas e piorar o padrão do consumo pretérito. Naqueles sujeitos já dependentes de substâncias psicoativas, eventos traumáticos poderiam disparar alterações químicas cerebrais já existentes, favorecendo a reinstalação do quadro de uso abusivo de drogas.
O tratamento daqueles que portam ambos os problemas deve ser adequadamente realizado. Uma avaliação rigorosa e pormenorizada do paciente e dos seus sintomas deve ser desempenhada, objetivando o planejamento terapêutico. Um time de especialistas poderá ser necessário para o manejo de ambos os problemas.