Por Renato Miranda
Possivelmente uma das melhores teorias para a compreensão do fenômeno do estresse no esporte e na vida ordinária é o estudo da Síndrome de Adaptação Geral ou simplesmente denominada SAG, na forma abreviada.
Idealizada por Hans Selye no início do século XX, a SAG nos auxilia a ampliar o conceito de estresse. Entendido como fenômeno de reação do organismo a quaisquer cargas, com uma amostra estereotipada de reações inespecíficas de adaptações às situações de exigências exercidas sobre o corpo, o estresse é explicado por Selye através de suas fases.
Primeiramente é bom explicar que as expressões “quaisquer cargas” e “reações inespecíficas de reações” significam que desde o estímulo químico, como por exemplo, uma xícara de café, um exercício físico, uma atividade intelectual ou qualquer experiência humana, tudo isso é considerado estresse e embora o ser humano reaja e “lute” para se adaptar aos estímulos de maneira semelhante todas as pessoas absorverão os impactos dos estímulos conforme seus limites, habilidades, resistências à sua maneira.
Por exemplo, se uma atleta der 30 pequenos saltos verticais sua freqüência cardíaca ficará alterada, mas não terá um impacto dramático. No entanto se uma pessoa destreinada fizer o mesmo exercício, embora tenha reações generalizadas idênticas, neste caso aumento da frequência cardíaca, terá um impacto em seu corpo bem dramático em termos fisiológicos, ou seja, sua frequência cardíaca terá uma alteração de aceleração muito intensa. Portanto para Selye o estresse se manifesta em fases, que representam a SAG (Síndrome de Adaptação Geral).
A primeira fase dita de alarme é a tentativa inicial do corpo humano de assimilar o impacto do estímulo vivenciado. No caso do esporte, um bom exemplo é identificado quando de uma resposta aos exercícios físicos de um treinamento (estímulo!). Em alarme a um novo treinamento (novas cargas de volume e intensidade!) o atleta tende a sentir-se mais cansado, apresenta dores musculares, pequenas dores de cabeça e/ou outras reações inespecíficas. O atleta então sai de um determinado padrão (norma ou adaptação normal/padrão) de funcionamento corporal (nível de manutenção ou resistência psicofisiológico) e vivencia um “choque” na tentativa de se adaptar ao estímulo.
A segunda fase da SAG é a fase da resistência. Em nosso exemplo, nessa fase o atleta depois de vivenciar um “declínio” de resistência geral, absorve (considerando que o treinamento é bem planejado e com medidas de recuperação, como alimentação adequado e descanso), o impacto desse novo estímulo (treinamento físico), providencia novas compensações de energia (aquisição de forças, por exemplo) e se adapta aos exercícios de treinamento, providenciando um novo patamar de resistência.
A terceira fase da SAG é considerada quando não há um controle ideal das cargas de treinamento e tampouco uma recuperação satisfatória. Com isso se tal carga de treino persistir o atleta apresentará sinais de fadiga (cansaço excessivo, exaustão) e se não houver medidas recuperativas o atleta entrará em esgotamento, caracterizando, com isso, a terceira fase da Síndrome de Adaptação Geral.
Observe então, que o estresse não precisa ser sempre considerado negativo. O que importa é a fonte estressora (estímulo) e o controle do mesmo. Considerando o exercício físico benéfico para atletas e não atletas, resta controlar como o treinamento será realizado bem como suas cargas de volume (período do tempo de treino), sua intensidade (impacto das exigências) e medidas de recuperação.
O fenômeno da adaptação ao estresse é tão importante para a existência do homem que talvez essa seja a experiência que mais determinou nossa sobrevivência ao longo dos milhões de anos de transformação que o planeta terra passou e ainda passa. O esporte é só um exemplo, mas para qualquer atividade da vida notaremos que a adaptação ao estresse (novos e sucessivos estímulos!) é que nos impulsiona à frente!