Da Redação
Com 120 anos de existência, a Avenida Paulista é conhecida por ser um dos principais lugares de São Paulo.
Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), uma recente dissertação de mestrado investigou as relações de afetividade que as pessoas têm com a avenida, seus prédios e atrativos. “Costumamos ver a Paulista de cima e de longe, como se vista de um satélite ou de um helicóptero. No meu trabalho, tentei mostrá-la do ponto de vista de dentro e de perto, exibindo o que acredito ser o elemento mais instigante do lugar: as pessoas”, explica o turismólogo Leandro Forgiarini de Gonçalves, autor da pesquisa O estudo do lugar sob o enfoque da geografia humanista: um lugar chamado Avenida Paulista.
Diversidade
Para Forgiarini, a Paulista é uma avenida “monumental nos prédios, mas também é extremamente complexa, plural e diversa no que diz respeito às pessoas”. Ele recorda a primeira vez que esteve nela: “Desci no Metrô Consolação, num turbilhão de sons, imagens, pessoas, tudo. Fiquei atordoado”, descrevendo uma sensação que acredita ser a de muitas pessoas nos primeiros contatos. “Depois de um tempo você acaba se acostumando com a arquitetura, com a presença dos prédios, do tráfego intenso de carros e com o fluxo de pedestres, e para de ficar encolhido. Entretanto, a Paulista continua a surpreender quem passa por ela, através das relações que se travam no dia a dia, com sua diversidade de tipos, tribos e atores”, afirma o pesquisador.
Ele próprio explica que essa sensação de diversidade é recorrente. “É na avenida que acontecem as passeatas e protestos, que caracterizam a liberdade de expressão, e a Parada Gay, simbolizando a liberdade de gênero”. Segundo ele, essa noção é interessante, uma vez que parece criar um paradoxo com a origem do logradouro: “A Paulista foi concebida para as elites, estava destinada a abrigar as mansões da parcela enriquecida com o negócio do café, e dos imigrantes que prosperavam na indústria e no comércio”, diz.
A observação do cotidiano da Avenida foi parte importante para a pesquisa
Boas histórias
Em seu trabalho, Leandro utilizou-se da observação participante na Paulista – ele chegou a morar na região – e de entrevistas feitas em pontos que ele definiu como estratégicos, de interesse comum das pessoas, como o Conjunto Nacional, a Casa das Rosas, as calçadas e o vão livre do MASP. “Não me preocupei com a quantidade de entrevistas, mas sim com o aspecto qualitativo delas. Eram conversas sobre a avenida, não um questionário fixo, embora algumas perguntas tenham aparecido bastante. Acredito que qualquer pessoa que estivesse passando pelas calçadas da Paulista teria algo interessante para me contar”, diz o pesquisador. No apêndice do trabalho de Forgiarini, estão transcritas dez dessas entrevistas, em agosto e setembro de 2010.
A vista da janela de Mafalda Marchetti, que foi entrevistada por Leandro
Embasado na Geografia Humanista, que lida com os conceitos de topofilia – isto é, a relação de afetividade que se tem com um lugar – e topofobia – par de contrapeso ao termo anterior -, o pesquisador colheu relatos muito interessantes sobre a Avenida. “Entrando, no campo da percepção, perguntei às pessoas sobre a cor da Paulista: alguns me disseram que era cinza, outras que era colorida. Uma senhora me disse que era creme”, diz, ressaltando “o olhar plural” dos frequentadores. Outras referências também foram usadas para descrever o local: “Muita gente disse, especialmente quem é daqui de São Paulo e vive a avenida diariamente, que ela tinha ‘monumentalidade’ e ‘valor histórico’. Outros apontaram que ela era um polo cultural, e um centro financeiro”, lembra.
Contato com as artes
Como um complemento de sua dissertação de Mestrado, que foi orientada pela professora Adyr Apparecida Balastreri Rodrigues, Forgiarini entrevistou quatro artistas que também retrataram o lugar em suas obras. Foram eles: o escritor José Arrabal, autor do livro O Lobisomem da Paulista, o repórter fotográfico Jefferson Coppola, responsável pelas imagens que ilustram a matéria especial da Folha de São Paulo intitulada “Paulista 24 horas”, o artista plástico Maramgoní e a desenhista Carla Caffé, autora de Av. Paulista. “Cada um, em seu trabalho, expôs experiências muito peculiares com o lugar. Carla, por exemplo, exibiu uma sensibilidade em relação aos prédios, rompendo com a rigidez da forma e atribuindo a cada desenho um toque íntimo e pessoal”, conta o turismólogo.
Imagens: 1 e 2 por Diego Carbone. 3: cedida pelo pesquisador.
Mais informações: e-mail: leandro_forgiarini@yahoo.com.br
Fonte: Agência USP de Notícias