por Ivanir Ferreira
Similaridades físicas e de personalidade estão presentes nas preferências e escolhas afetivas estáveis de homens e mulheres homossexuais. A constatação faz parte de pesquisas interculturais com indivíduos homo e heterossexuais feitas pela antropóloga Jaroslava Varella Valentova, do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia (IP) da USP. Os estudos, que tiveram entre outros a participação do biólogo Marco Antonio Corrêa Varella, incluem dados da população brasileira e da República Tcheca, país de origem da antropóloga.
Segundo Varella, a proposta da pesquisa foi “investigar não só preferências ideais, mas também escolhas reais, para traços físicos e psicológicos, entre héteros e não héteros, brasileiros e tchecos. A falta de pesquisas interculturais sobre a vida amorosa de minorias e a necessidade de se ter uma visão global integrada da variação natural humana motivaram a série de pesquisas”, afirma.
A altura humana é um fator desejável e socialmente importante, pois pessoas mais altas são geralmente percebidas como mais dominantes e assertivas. Na média, uma das pesquisas tcheco-brasileira revelou que, enquanto héteros buscam parceiros afetivos com estaturas diferentes, os homossexuais, em geral, preferem parceiros mais ou menos da mesma altura. Dos 1.709 participantes, que tinham entre 18 e 50 anos (379 homens eram heterossexuais, 311 não heterossexuais, 853 mulheres heterossexuais e 166 não heterossexuais), os heterossexuais demonstraram preferências pela altura relativa em que o homem é um pouco mais alto do que a mulher. Ao contrário, nas relações homoafetivas, as pessoas demonstraram mais interesse por parceiros com alturas semelhantes.
Embora houvesse essa diferença, uma semelhança geral foi encontrada: aquelas pessoas que preferiram ser a mais alta do par também preferiram ser a mais dominante. Esse resultado foi o mesmo nas duas populações estudadas, o que apontou para uma universalidade nessas preferências, afirma Jaroslava.
Assim como a altura, outros traços físicos – como barba em homens e seios e nádegas em mulheres – também diferem segundo o sexo do indivíduo. Realizado com 1.577 participantes da mesma faixa etária e grupo sexual de ambas as nacionalidades, outro estudo mostrou que os homens homossexuais preferem mais barba e pelo corporal do que as mulheres héteros.
Neste caso específico, um componente cultural ligado à regionalidade interferiu no resultado, afirma Jaroslava. Na República Tcheca, por não ser muito comum o uso de barba cheia, as preferências foram para barbas menores. Já no Brasil, que tem mais pessoas usando barbas, o ornamento em maior tamanho teve mais preferência. Os homens homossexuais preferiram parceiros com barbas e pelos corporais similares aos deles próprios. Já as mulheres héteros tchecas preferiram nível de barba semelhante ao nível que seus pais tinham durante sua infância, indicando, neste caso, que as relações familiares influem nas preferências amorosas.
Tanto para mulheres héteros quanto para homens homossexuais, a propensão foi por barbas medianas. Isso ocorreu possivelmente porque sem barba o homem tende a ser associado à imaturidade e, com barba cheia, à agressividade, afirma Jaroslava. Ainda na linha do equilíbrio, outra pesquisa mostrou que seios e nádegas medianos agradam mais aos homens héteros e mulheres homossexuais. Porém, quando é feita comparação entre eles, homens héteros preferiam seios e nádegas maiores do que as mulheres homossexuais, o que, segundo Varella, demonstra novamente as especificidades nas preferências de cada orientação sexual.
O estudo ainda revelou que as mulheres homossexuais preferem parceiras com tamanhos de seios e nádegas semelhantes aos delas próprias; e os homens tchecos, as preferências por tamanhos de seios foram similares ao do busto materno quando eram crianças.
Características psicológicas
Quanto aos aspectos psicológicos, os pesquisadores verificaram características como extroversão, amabilidade, abertura para novas experiências, conscienciosidade (honestidade) e estabilidade emocional. Neste estudo, foi observado que havia preferências mais altas por personalidades mais sociáveis (pró-social) e que as mulheres heterossexuais se mostraram mais exigentes, seguidas por mulheres e homens homossexuais e, por último, homens heterossexuais.
Embora houvesse especificidades diferentes das preferências homossexuais e heterossexuais, Jaroslava e Varella encontraram uma semelhança que se repetia em todas as pesquisas: os parceiros atuais eram diferentes dos que consideravam ideais. Jaroslava afirma que “os parceiros reais não alcançaram os padrões ideais em nenhum dos grupos e a diferença era mais pronunciada nos homossexuais”. Ela explica que isso possivelmente ocorreu por eles serem minoria na população, o que torna mais difícil achar parceiros com o nível de similaridade desejada.
Os resultados destas pesquisas podem ser conferidos na íntegra nos artigos que já foram publicados:
“Preferred and actual relative height are related to sex, sexual orientation, an dominance: evidence from Brazil and the Czech Republic”;
“Personality of ideal and actual romantic partners among heterosexual and non-heterosexual men and women: A cross-cultural study”;
“Mate preferences and choices for facial and body hair in heterosexual women and homosexual men: influence of sex, population, homogamy, and imprinting-like effect.
Mais informações: e-mail jaroslava@usp.br , com Jaroslava Varella Valentova, e macvarella@usp.br, com Marco Antonio Correa Varella