Da Redação
Jovens que não chegaram a conhecer ou não tiveram relação próxima com seus pais biológicos ficam mais propícios a criar um laço paternal com seus padrastos.
Além disso, a perspectiva que o filho tem do relacionamento de sua mãe com seu padrasto é a variável que, frequentemente, é levada em conta na avaliação de sua relação com o novo parente, definindo-a como positiva ou negativa. Avaliando esse tipo de estrutura familiar, o psicólogo Felipe Watarai percebeu que pela natureza em geral exclusivista do vínculo parental (só se tem um pai, assim como uma só mãe), chamar um padrasto de ‘pai’ não está associado apenas à relação que o enteado tem com o padrasto, mas também a que ele tem com seu pai biológico.
Entrevistando 11 jovens com idade entre 14 e 20 anos, o pesquisador avaliou como era a relação desses adolescentes com seus padrastos, assim como com demais parentes. Em três dos casos analisados, as mães não tiveram uma relação estável com o genitor dos filhos. O psicólogo explica que morar em uma mesma casa, de modo geral, tem a força simbólica de criar relações de parentesco próximas. “A vida e a relação ao lado do padrasto gera uma proximidade que pode destituir o pai biológico do seu papel original”, diz Watarai.
Um dos aspectos visto pelo pesquisador que oferece maior complexidade nos relacionamentos dessas novas famílias é a dificuldade em definir o parentesco entre as pessoas. Os filhos do padrasto também podem passar a conviver com os filhos de sua nova companheira. “O vínculo criado por essa convivência, entre esses ‘quase-irmãos’ pode ser equiparado ao vínculo fraternal, como entre irmãos consanguíneos. Apesar de não haver um nome que defina o relacionamento ‘de fato’ entre esses irmãos de criação, eles se chamam de ‘irmãos’, em geral quando moraram juntos em uma mesma casa. Chamar um ‘quase-irmão’ de ‘irmão’ acontece mais frequentemente e mais facilmente do que chamar um ‘padrasto’ de ‘pai’, pelo fato de a natureza do vínculo fraternal não ser exclusivista: chamar um ‘quase-irmão’ de ‘irmão’ não destitui um outro irmão de sua posição.”
O padrasto
Em suas entrevistas, Watarai percebeu que a descrição que os enteados fazem do padrasto não foi homogênea e linear ao longo dos relatos. Assim, num momento os enteados podem avaliar o padrasto como um parente sem importância, especialmente quanto à autoridade que ele não tem sobre eles. Porém, ao serem perguntados sobre a relação do padrasto com sua mãe, a percepção de que, em boa parte dos casos, ela é positiva, faz com que os adolescentes reavaliem o que disseram anteriormente, o que mostra a dificuldade em compreender o papel desse novo parente na família.
Fonte: Agência USP de Notícias