Estudo da USP: trabalho informal é visto como vadiagem e preguiça

Da Redação

Homens que costumam deitar-se ou sentar-se nas muretas e chão da Praça da Sé, na cidade de São Paulo, são vistos como vadios e preguiçosos.

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É o que aponta estudo recente realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP. A dissertação de mestrado Tem gente que não quer saber de trabalhar: apontamentos acerca do discurso sobre a vadiagem na Praça da Sé (SP), de autoria da psicóloga Beatriz Ferraz Diniz, mostra que a presença desses homens na praça é vista, por quem frequenta o espaço, como fator de degradação e perigo.

Beatriz esteve presente na Praça da Sé de julho de 2012 a outubro de 2013, com a missão de observar a dinâmica do local e se integrar a ela. A análise levou em conta mais de 80 anos de acervo de notícias de jornais que tivessem relação com o termo “vadiagem”. Além disso, a mestranda fez uso de observações semanais, em dias e horários comerciais, e conversas com os transeuntes e frequentadores da praça.

O levantamento mostrou que, diferente do que se imagina , os “vadios” fazem uso das ruas e, principalmente, da praça para seu sustento. “Para a sociedade, o indivíduo não pode estar apenas ocupado, ele precisa estar empregado formalmente. Socialmente, o trabalho informal não tem o mesmo valor do trabalho formal.” De jornaleiros e engraxates regulamentados a vendedores da “feira do rolo”: o ambiente, no entanto, se mostra dono de uma riqueza ímpar de ocupações.
Pobreza é criminalizada

Beatriz atenta para o fato de os marginalizados na Praça da Sé serem, majoritariamente, homens pobres, negros ou mulatos. Para a maioria dos que usam a praça como passagem, a culpa da situação precária em que vivem os frequentadores é, principalmente, apenas deles. A pesquisadora discorda. “Há uma tendência a culpabilizar o indivíduo e criminalizar a pobreza”, analisa.

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Sentido histórico da vadiagem

Durante a análise documental, Beatriz realça o sentido histórico da vadiagem. Segundo ela, o trabalho informal e a ocupação dos espaços públicos são características que se mantêm ao longo de décadas para fazer referência aos “vadios”.

Era prática comum as chamadas “operações de limpeza”, realizadas pela polícia. “A operação policial, nas décadas passadas, acabou por oficializar o preconceito”. De acordo com a pesquisa, a rua como lugar de “maloqueiros”, “pilantras” e da violência faz parte de um imaginário social muito forte.

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Caleidoscópio social

Apesar de manterem certos estigmas, os discursos sobre a Praça da Sé são heterogêneos. Devido à enorme complexidade social do local, as falas variam: o trabalhador formal aponta o acomodamento; o suposto acomodado se explica sobre suas ocupações informais e, muitas vezes, ilegais.

Orientada pela professora Leny Sato, Beatriz esmiúça os subjetivos discursos sobre a vadiagem. A pesquisa procura contextualizar, social e psicologicamente, as construções que dão base para tais discursos, assim como dar visibilidade a um entendimento divergente dos estigmas sobre a vida nas ruas do centro de São Paulo.

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Mais informações: e-mail biafdn@gmail.com, com Beatriz Ferraz Diniz

Fonte: Agência USP de Notícias