Da Redação
“Pela gravidez ser um período em que a mulher tem um contato maior com os profissionais da saúde, ela está mais propensa a revelar fatos como o de violências…”
Pesquisa aponta que 17,6% das gestantes de Ribeirão Preto sofreram Violência por Parceiro Íntimo (VPI) na gestação e que as chances delas apresentarem pensamentos suicidas são 6,29 vezes maiores do que as que não passaram por esse transtorno.
Os resultados do estudo, realizado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, também mostram que as grávidas que foram violentadas fisicamente, psicologicamente ou sexualmente por seus parceiros têm 4,43 vezes mais chances de apresentar sintomas depressivos e 5,25 vezes de apresentar indícios de transtorno de estresse pós-traumático.
Segundo a pesquisadora Mariana de Oliveira Fonseca Machado, a prevalência do pensamento suicida durante a gestação foi de 7,8%. “O suicídio e as lesões autoinflingidas estão entre as principais causas de morte e incapacidade das mulheres durante a gravidez. Isso ocorre, especialmente em países em desenvolvimento, devido às normas e aos valores socioculturais, como, por exemplo, a desigualdade de gênero”, diz Mariana.
Com 358 gestantes vinculadas ao Centro de Referência da Saúde da Mulher de Ribeirão Preto, entrevistadas entre 2012 e 2013, foi possível traçar o perfil dessas mulheres, bem como evidenciar quais são os desafios da saúde pública em casos de VPI na gestação. “A coleta de dados foi feita a partir de aplicação das ferramentas Escala de Depressão Pós-Parto de Edinburgh (EPDS), Post-Traumatic Stress Disorder Checklist – Civilian Version (PCL-C), Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI) e Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE)”, afirma a pesquisadora.
Estudo envolveu 358 gestantes vinculadas ao Centro de Referência da Saúde da Mulher
Sintomas provocados pela VPI (Violência por Parceiro Íntimo)
Com os resultados dos questionários foi possível constatar que as mulheres que sofreram VPI possuem mais chances de apresentar:
– sintomas ansiosos;
– depressivos;
– estresse pós-traumático e ideias suicidas.
Essas mulheres têm em média 25 anos de idade e a maioria — cerca de 70% — são solteiras. “Apesar de serem solteiras, 80% delas moravam com o parceiro, 55,3% já tinham filhos e 57,3% não exerciam nenhuma atividade remunerada”, conta a pesquisadora, que ressalta que 62,2% das entrevistadas não planejou a gestação. “Mesmo sem a gravidez programada, a maioria das mulheres não fumou e nem consumiu bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas.”
Pela gravidez ser um período em que a mulher tem um contato maior com os profissionais da saúde, ela está mais propensa a revelar fatos como o de violências, portanto, “torna-se necessário que, especialmente os enfermeiros, atentem-se para a ocorrência de sintomas de transtornos mentais neste período, bem como para os fatores de risco relevantes, como a violência por parceiro íntimo.”
A pesquisadora alerta que o comportamento suicida durante o período perinatal (gestação e pós-parto) é um problema de saúde pública que está entre as principais causas de morte materna. “Apesar das taxas serem menores no período gestacional, o suicídio neste período é preocupante e caracterizado pelo uso de métodos violentos, o que sugere a presença de elevado nível intencional e sofrimento intenso.”
A tese de doutorado Violência na gestação e saúde mental de mulheres que são vítimas de seus parceiros, orientada pela professora Flávia Gomes Sponholz, foi financiada pela FAPESP e defendida no primeiro semestre de 2014.
Marcos Santos/USP Imagens
Mais informações: (16) 3351-9446 / 3351-8334
Fonte: Agência USP de Notícias