por Marta Relvas
Ao apreciarmos uma criança aprendendo a engatinhar, uma bailarina ou um acrobata realizando movimentos precisos e certeiros, ficamos perplexos diante de tanta destreza e facilidade na quantidade de movimentos rápidos realizados em segundos, não é?
Toda essa habilidade se dá a um intenso treinamento dos músculos e também a um reforço repetitivo que o cérebro cognitivo precisa realizar para memorizar essas atividades.
O cérebro cognitivo não trabalha sozinho para marcar o ritmo, o tempo da dança, a marchar do deambular. Junto a ele tem uma estrutura denominada cerebelo, conhecido também como cérebro primitivo, que fica localizado abaixo do encéfalo e durante muito tempo foi considerado apenas o coordenador encefálico dos movimentos corporais. Porém, sabe-se hoje que essa área do cérebro também participa ativamente de várias atividades cognitivas e perceptivas.
Descobriu-se através de exames de imagem que o cerebelo fica ativado durante uma grande variedade de atividades não somente relacionados aos movimentos. Ele é formado por uma superfície enrugada e possui dois hemisférios que abrigam extraordinária quantidade de circuitos em um pequeno espaço, formando convoluções (reentrâncias) menor que o córtex cerebral.
Estudos demonstraram que lesões em áreas específicas do cerebelo podem causar impedimentos inesperados em processos não motores, afetando, em especial, a rapidez e precisão com que as pessoas percebem as informações sensoriais. E mais: a incapacidade enfrentada por pessoas com lesão no cerebelo pode ir além de aspectos linguísticos, visuais e auditivos. Alguns estudiosos como Rod I Nicolson e colegas da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, relacionam o cerebelo com a dislexia – descobriram que disléxicos e portadores de lesão nessa área têm atividade cerebelar reduzida durante certas tarefas.
Estudos recentes sugerem que o cerebelo possa também estar envolvido na memória de trabalho, na atenção, em funções mentais como planejamento e organização temporal, além do controle dos atos impulsivos. Isto, segundo Xavier Castellanos, Judith L. Rapoport e seus colegas do National Institute of Mental Health. Crianças com transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, caracterizado pela incapacidade de controlar atos impulsivos apresentam cerebelos reduzidos. Importante também informar que o cerebelo sempre é ativado durante os processos sensoriais como audição, olfação, sede, fome, consciência dos movimentos corporais e percepção da dor.
Então, se o cerebelo é antes de tudo uma estrutura de apoio e embora todo o exposto ainda seja uma teoria das várias propostas para se explicar outras novas e surpreendentes funções, fica cada vez mais claro que a forma como pensamos essa estrutura encefálica – na verdade, a forma como se concebe o encéfalo como um todo – está pronta para mudar. Por isso, vale umas dicas:
Perceba atentamente seus movimentos: dance, realize exercícios físicos, ande mais, evite as escadas rolantes, os controles remotos ou tudo que deixe você parado. Use mais seu cerebelo, pois seu cérebro agradece!
Referências consultadas:
The cerebellum: recent developments in cerebellar research – Org. Stephen M. Highstein e W. Thomas Thatch. New York Academy of Science, 2002.
Cerebellar contributions to cognition and imagery. Richard B. Ivry e Julie A. Fiez, em New Cognitive Neurosciences. Org, por Michael S. Gazzaniga. MIT Press, 2000.