Da Redação
Proibido recentemente em Nova Iorque, o fumo em locais públicos, ainda que abertos, pode ser tão prejudicial quanto em ambientes fechados.
A câmara de vereadores de Nova Iorque aprovou um projeto de lei que veta o fumo em locais abertos como praias e parques. Para Paula Johns, diretora executiva da Aliança de Controle ao Tabagismo (ACT), o fato é mais uma demonstração de grandes mudanças de paradigma em relação ao tabagismo. “Se antes os não fumantes eram obrigados a conviver com a fumaça de cigarro em qualquer ambiente, hoje eles se sentem à vontade para lutar contra isso”.
A situação é delicada, pois do outro lado da lei estão seres humanos, dependentes de nicotina, que assistem à diminuição da tolerância ao tabagismo, muitas vezes sentindo-se discriminados.
“A medida foi acatada pelo fato dos parques, apesar de abertos, serem locais onde há muita prática de atividade física e também grande circulação de crianças. Já nas praias, existe o problema de resíduos e bitucas de cigarro, que poluem a areia e o mar”, explica.
Para o dr. Alberto José Araújo, presidente da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a proibição do fumo nesses locais representa uma importante política social para o bem da saúde das crianças, dos atletas e das pessoas doentes que vão a esses locais justamente em busca de ar puro.
“Como os parques e praias são bastante frequentados por jovens, a proibição acaba favorecendo um modelo de comportamento social positivo, evidenciando que o tabagismo realmente não é bom para a saúde”, ressalta o especialista.
Liberdade de expressão
Alberto acredita que a questão do tabaco deve estar, antes de tudo, relacionada a uma política de defesa do bem mais precioso do cidadão: sua saúde. Por conseguinte, o patrimônio humano de um país não deve se submeter aos interesses econômicos das grandes companhias de tabaco.
“A nossa posição não é contra o fumante, pois o vemos como uma vítima fisgada, ainda na juventude, pela indústria do tabaco em suas ardilosas, agressivas e enganosas propagandas. Somos, na verdade, contra o tabaco, pois também conhecemos a fundo os danos provocados na saúde de nossos pacientes”.
Segundo ele, os ambientes livres de tabaco impedem a exposição à fumaça, protegendo as pessoas dos efeitos do tabagismo passivo. Assim, eles não cerceiam a liberdade de quem fuma, mas zelam para que não haja prejuízos à saúde de familiares, escolares, pacientes, clientes, passageiros, trabalhadores ou pessoas em atividades de lazer. O especialista lembra que apesar de legais os fumódromos não impedem de forma alguma a propagação da fumaça nos ambientes fechados.
E no Brasil?
Não se sabe ainda se a aprovação ocorrida em Nova Iorque servirá de exemplo para outros países, como o Brasil. Mas não é impossível. Em dezembro de 2010, a prefeitura de Vitória (ES) também aprovou uma lei proibindo o fumo nas praias.
Tabagismo passivo
O tabagismo passivo é a 3ª maior causa de adoecimento e morte evitável no mundo. “No Brasil, sete pessoas acima de 35 anos de idade, a cada dia, perdem a vida precocemente – 2655 óbitos por ano devido ao câncer de pulmão, doenças isquêmicas coronarianas e acidente vascular cerebral – pelos efeitos tóxicos dos 4740 constituintes da fumaça do tabaco”, informa dr. Alberto.
Para ele, os maiores beneficiados pela política de promoção de ambientes livres de tabaco são as crianças, gestantes, trabalhadores (particularmente garçons e garçonetes) e também os próprios fumantes, pois a restrição ao tabaco incentiva o abandono do vício.