por Patricia Gebrim
Olho ao redor, é bom estar em casa. Nas últimas semanas tenho colocado muita energia em deixar esse espaço mais aconchegante, mais agradável, mais bonito.
Arrumei cada cantinho, joguei metade de tudo fora, limpei, fiz pequenos ajustes, plantei flores nos vasos que antes só tinham terra seca, e eis que olho ao redor e sinto minha casa me abraçando… Que deliciosa é essa sensação. Sinto paz, e alegria. Apenas por estar aqui, escrevendo, nesse espaço que é um lar. Todos precisamos de um lar.
Agora tente tirar de sua mente a parte física de um lar. O lugar físico, feito de paredes, alguns móveis e vasos de plantas. E tente sentir a si mesmo como seu lar. Feche os olhos e sinta, o seu Ser, o seu lar. Você gosta dele? Sente-se acolhido? Acha-o belo? Sente-se em paz quando se senta silenciosamente no centro do seu Ser?
Eu lhe digo algo que tem se tornado mais e mais claro, na medida em que os anos se passam. Precisamos aprender a conviver e desfrutar de nossa própria companhia. Precisamos criar uma convivência pacífica e amorosa com nosso próprio Eu. Precisamos tornar nosso lar um lugar de profundo acolhimento. Dentro de nós existe um mundo vasto, de infinita beleza, e se não formos capazes de descobrir sua existência, nossa vida se tornará uma espécie de atividade ansiosa, uma tentativa de correr atrás de algo que não sabemos o que é, para tapar um buraco que nada parece preencher. Seguiremos pela vida tentando sempre nos agarrar nas pessoas, nos programas sociais, em qualquer coisa que nos ajude a não sentir o vazio, esse vazio que é um vazio de nós mesmos.
Quando ficamos afastados de nós mesmos, deixamos de expressar o nosso melhor. Nos tornamos adultos carentes, cobrando dos outros o que deveríamos dar a nós mesmos. Estou certa de que você já encontrou alguém assim.
Eu entendo que às vezes seja mais fácil afastar-se de si mesmo, fugir, pensar em outra coisa, ver TV, comer, jogar… Nem sempre o que encontramos dentro de nós é agradável. Muitas vezes encontramos, em nossos porões, objetos antigos e teias de aranha. Encontramos sentimentos assustadores e quartos escuros. Olhar para dentro às vezes é sinônimo de trabalho pesado. Dá uma preguiça danada, uma vontade de fechar a porta daquele quarto e viver como se ele não existisse. E é assim que nossa vida vai ficando limitada, e muito menor do que poderia ser. Não ganhamos nada agindo assim, posso garantir.
Imagine agora que você tenha sido corajoso o suficiente para mergulhar em si mesmo, limpar o que precisava ser limpo e tenha descoberto o tesouro que tem dentro de si. Isso só não vai bastar. Você também terá que ser capaz de bancar sua descoberta. Sim. O mundo tentará lhe dizer que isso que você encontrou sequer existe. E tentará levar você de volta àquilo que lhes parece mais familiar. Uma pessoa que fique feliz com coisas pequenas, ou que aprecie ficar sozinho, que não se force a participar das convenções que todos seguem será, no mínimo, considerada um pouco estranha.
Num primeiro momento as pessoas irão estranhar você. E depois, talvez, comecem a se incomodar. Não entendem o que veem. Você não mais agirá de acordo com as regras a que estão acostumadas. Existem grandes chances de que você seja mal interpretado, julgado e até atacado. Na visão das pessoas que ainda não encontraram a si mesmas, tudo que você faz está relacionado a elas. Seu egocentrismo faz com que pensem que se você quer ficar só é porque as está rejeitando; se gosta de silêncio, é por que não gosta das palavras que elas dizem; se diz sim a você, elas interpretam como dizer-lhes não. E será assustador. De repente todos parecem estar contra você, culpando-o ou criticando o que quer que faça. E se você não for forte o suficiente, talvez negue a si mesmo para se adequar, para se sentir querido e aceito novamente.
Entenda, tudo isso é parte do processo. Não ceda. Não traia a si mesmo. O que as pessoas sentem, ou como interpretam suas atitudes não é responsabilidade sua. Você tem o direito de existir, de ser exatamente quem é. Tem o direito de dizer SIM e de dizer NÂO. Tem o direito de ser diferente. Tem o direito de existir, isso não deve, nunca, ser negociável. Se, para estar em um relacionamento, seja amoroso, profissional ou de amizade, você tiver que deixar de existir, eu lhe digo, o preço é alto demais!
Banque a si mesmo, seja lá quem for.
E um dia, quando todos tivermos chegado lá, em nossos próprios lares, em união com nosso verdadeiro Ser, os mal-entendidos cessarão e viveremos como deveria ser, aceitando uns aos outros, em paz.