por Jocelem Salgado
A sala iluminada pela árvore de bolinhas coloridas, as meias aguardando os presentes, as espigas de milho esperando para alimentar os cavalos-renas do Papai Noel. No pé da árvore, o presépio com os reis magos barbudos e as vaquinhas aquecendo o pequeno Jesus na manjedoura que virou berço. Um coro de crianças cantando "noite feliz".
E pronto, não vamos conseguir segurar as lágrimas, voltando num tempo em que nossos Natais eram assim mesmo. Quem se recorda? Tentávamos manter os olhos abertos, ouvidos atentos aos passos do Papai Noel, mas o sono vinha e nos levava embora. No dia seguinte, os presentes estavam lá, dentro das meias, embaixo da árvore iluminada.
Viramos adultos, veio a Internet, nem perguntamos mais se nossas crianças acreditam em Papai Noel. Não importa em quem elas acreditem, a verdade é que o Natal continua fascinando as nossas pequenas criaturas, e mexendo com todos nós.
Para muitos, o período de Natal e fim de ano transformou-se num momento de balanço. Há quem faça as contas e ache que a vida ficou em débito com eles. É tempo de refazer os projetos e no próximo ano cobrar o que não recebeu. Fazer planos já é uma forma de reverter a situação, de transformar o balanço negativo em comemoração.
Para a maioria de nós o saldo foi positivo e o momento é de agradecimento. Merece ser comemorado. Eu e minha equipe nos incluímos nesse grupo. Para todos nós, o ano de 2007 foi maravilhoso e precisa ser festejado.
Estoque de sonhos
Nesta época do ano as pessoas costumam me perguntar qual a receita ideal para passar o Natal com saúde e começar um ano novo cheio de disposição.
Quem deixou planos pendentes ao longo deste ano que acaba terá outra chance agora. E terá outras e outras, porque os Natais e os finais de ano têm sempre esse poder de renovar em nós nossos estoques de sonhos e projetos. Alguns podem dizer que são apenas datas de consumo, mas a verdade é que o ser humano necessita de referências, tanto no tempo como no espaço. É assim que acontece na natureza, com seus ciclos de estações, suas luas, a época das cheias e a época das estiagens.
Na verdade, comecei esta conversa pensando em receitas natalinas, nas calorias do cardápio do Réveillon, na nutrição, na reeducação alimentar, pois essa é minha especialidade. Mas achei melhor falarmos à vontade sobre nossas condutas, nossos propósitos de uma vida mais saudável e nossos limites, temas que costumam vir às nossas mentes em épocas como essas. Mudar hábitos requer persistência e informação. Não se pode exagerar no rigor e nas cobranças, assim como é preciso admitir recaídas.
Essa época do ano é certamente a mais indicada para fazermos projetos, mas com certeza é a menos acertada para começarmos qualquer prática que lembre dieta ou regime. Privar-se da mesa quando ela está mais farta e enfeitada, quando todos festejam o prazer de comer, é submeter-se a um duplo castigo, que só nos deixará deprimidos, tristes e insatisfeitos. São sentimentos que mais colaboram para desequilibrar nosso organismo do que para manter uma silhueta saudável.
Não seja rigoroso demais
É natural que as festas de final de ano sejam um desafio para aqueles que se debatem com o excesso de peso. Aos olhos de quem se dedica à ciência da nutrição, como eu, a preocupação deve ser menos com os quilos ganhos nesse período, e mais com as práticas alimentares ao longo das semanas e meses seguintes. O equilíbrio do organismo não vai ser alterado com uma ou outra refeição, mas sim por hábitos cotidianos que incluem o que chamamos de educação ou reeducação alimentar.
Os especialistas lembram que todos nós somos descendentes de grupos que sobreviveram aos grandes períodos de fome porque tinham uma reserva extra de gordura no corpo. Por isso mesmo, temos mais fome. Mas passada essa fase da seleção natural, o desafio hoje está justamente no oposto, na redução do consumo. Os estudos mostram que vivem mais tempo aqueles que consomem menor quantidade de calorias e proteínas.
Essa regra de conduta vale certamente para nossas refeições ao longo do ano, quando as comidas gordurosas, os empanados e hambúrgueres costumam sobrepor-se aos pratos de salada, legumes e peixes. O importante é que as refeições saudáveis predominem sobre as nossas eventuais recaídas. Uma feijoadinha só não vai estragar nosso verão. Assim como os excessos de fim de ano não comprometem a conduta de boa alimentação que adotamos ao longo do ano, ou que pretendemos adotar. O organismo sabe compensar os descuidos ocasionais quando o cotidiano é mantido com alimentação balanceada. Por isso mesmo, não seja rigoroso demais com você diante da ceia de Natal e de Réveillon.
Costumo dizer que comer é um prazer que ilumina a alma e traz bom humor. Se você estiver bem com você mesmo, saberá como equilibrar o prazer e o excesso. Não faça como muita gente que só enxerga na mesa farta algo de perigoso. Ou como aqueles que prometem começar regimes na segunda semana do ano. A relação com a comida deve ser a mais natural e agradável possível. Sofrimentos não fazem perder peso, apenas aumentam nossa cota de insatisfação.
No meu trabalho de anos lidando com pessoas que querem perder peso, aprendi que o rigor excessivo não é uma boa prática. Eu e minha equipe já preparamos cardápios de Natal e Ano Novo com 1.200 calorias, muito abaixo da média de até 3.000 calorias consumidas normalmente em refeições como essas. Devo dizer que não obtivemos resultados nem respostas significativas. Em muitos spas conceituados, a regra é compor pratos que não passem das 600 calorias, mesmo nesse período do ano, como se esses dias de festa fossem como quaisquer outros.
A receita é comemorar
Não concordo com esse rigor. A pessoa que está querendo ou necessitando perder peso deve adotar um programa que combine com o seu dia a dia e suas condições metabólicas. Tem gente que sofre demais com uma redução do volume de alimento por porção ingerida, como se estivesse atravessando um período de privações muito grande. Em geral, quando sai do spa ou deixa o regime, nunca mais vai querer se submeter àquela dieta, pois estará sempre associada ao sofrimento.
Portanto, a palavra de ordem para o próximo ano é felicidade. E nunca é tarde para começar a cuidar da alimentação, retomar as atividades físicas, do modo que seja possível e não impraticável. Quando estabelecemos metas possíveis, mesmo que aparentemente mínimas, nossa satisfação em conseguir cumpri-las nos impulsiona a estabelecer novos objetivos, até que se consiga atingir o ideal.
Para aqueles que adotam ou pensam em adotar tais práticas, a ceia do Natal e as festas de Ano Novo não representam risco algum para sua silhueta e para sua saúde. A melhor receita é comemorar! Desejo a todos boas festas e feliz 2016!