por Elisandra Vilella G. Sé
Com a correria da vida cotidiana, com os afazeres da vida moderna, vivemos num constante processo de aceleração existencial. Uma verdadeira adoração pela velocidade de realizar as coisas impondo nosso ritmo para não nos sentirmos deslocados, para sentirmos que andamos juntos com a evolução científica, tecnológica, gastronômica, econômica, social, etc.
Sentimos como se o presente fugisse das nossas mãos. Quase não desfrutamos dos prazeres particulares, como por exemplo, ouvir música. Na maioria das vezes ouvimos música no rádio do carro a caminho do trabalho. E quase não paramos para questionar o sentido da vida. Por outro lado, os afazeres e concretizações de metas são os sentidos das nossas vidas.
Quando chega o fim de mais um ano e perto da data natalina, as pessoas parecem exercer mais sua espiritualidade. Tornam-se mais sensíveis à existência humana.
Na verdade, em todo o curso de vida, existem momentos que indagamos mais sobre o sentido da nossa existência, dependendo do que vivenciamos em um determinado momento. Nas transições da vida, cada uma com seus marcos principais, existem épocas que estamos mais sensíveis às perguntas como: Para que vivemos? Quem sou? De onde venho? Para onde vou? E existem diversas propostas de respostas que são encontradas em diferentes religiões e filosofias. Sabe-se que não há respostas universais para todas as questões existenciais, o desafio é saber o que fazer frente às variedades de respostas.
Sentido da vida
Essa busca de sentido e propósito na vida tem ocorrido desde o início da humanidade. Sabe-se que desde os primeiros registros da história ela está presente. Em cada fase da vida nos deparamos com um tipo de pergunta sobre o sentido de vida. Assim então é na infância, na adolescência, na juventude, na vida adulta e na maturidade e não é diferente na velhice. Estamos sempre construindo nossa identidade, na busca do caminho pessoal.
Na velhice, a espiritualidade tem uma sensibilidade maior por ser uma fase que surgem maiores percepções sobre a própria existência e sobre a finitude, já que nos mostramos como um ser finito. Com o processo de envelhecimento, com as modificações físicas e psicológicas com os ganhos e perdas ao longo da vida, com o acúmulo de experiências é inevitável o questionamento profundo do sentido existencial.
É a espiritualidade que nos empurra para o exercício de orientação na busca de um sentido para nossa vida. A palavra espiritualidade vem de “spiritus” que quer dizer o sopro da vida que anima a matéria. A espiritualidade baseia-se em aspectos básicos da condição humana. Dar um sentido e uma orientação à vida. Refletir sobre o sentido da nossa vida. Um sentido que vai além da própria vida.
Exercício da espiritualidade traz saúde mental
Exercitar a espiritualidade, questionando e refletindo sobre o sentido de vida é uma força motivadora para o ser humano. Ajuda o indivíduo a manter sua saúde mental positiva e sua integridade mesmo em condições adversas. Esses foram os dados encontrados nos estudos de Viktor Frankl (1973) um psiquiatra que desenvolveu uma técnica terapêutica centrada no sentido, a partir de sua experiência de prisioneiro num campo de concentração.
Nos campos de concentração ele observou que os prisioneiros mais aptos a sobreviver eram os que estavam voltados para o futuro, para uma tarefa, um objetivo a ser realizado ou para uma pessoa que o esperava. Só mais recentemente que este assunto tem sido preocupação de cientistas e profissionais de saúde, dada sua importância na avaliação da saúde psicológica e na qualidade da existência da pessoa.
E o ser humano está sempre à procura de algo, em busca de alguém para amar, de um emprego, de uma profissão, de coisas para fazer, algo que torne suas vidas significativas, plenas e completas. Não nascemos com um elemento único nos genes que nos determinam a nos tornarem seres humanos completos, precisamos de outros elementos que mesclam com nossa vida biológica. Elementos estes que construímos ao longo da vida. A vida é um grande exercício de busca de sentidos. Do nascimento até a morte, vivemos um contínuo de transformações.
O ser humano é um ser de participação, um ser coletivo, social e histórico. Dessa forma, o ser humano é um ser de cuidado, ou seja, sua essência se encontra no cuidado. No cuidado da própria vida, com as coisas no mundo, com o habitat, com as outras pessoas, cada um a seu grau e singularidade. Está presente no ser humano a vocação para a transcendência, porque somos seres capazes de realizar a reflexividade, fazer questionamentos, capazes de aprender e ir além desse aprendizado. Talvez seja por isso que existem épocas de maior sensibilidade para a espiritualidade, para compartilhar seu cuidado. E a busca de sentido na vida está na transcendência, na dimensão espiritual, em algo que vai além da sua consciência.
Seja seguindo o caminho da fé pela religião ou por alguma experiência que lhe fez superar limites, exercite sua espiritualidade sempre. A espiritualidade revela a liberdade, a essência da busca de significados, a grandiosidade do homem e de sua dramaticidade. O que distingue o ser humano de outras espécies animais é porque somos criativos, simbólicos e sonhadores e a explicação para tudo isso é de difícil resposta.
O sentido que damos à nossa vida é fruto de nossas decisões, de nossas escolhas.
O exercício da espiritualidade através da fé da religião ou pelas experiências fará bem para todos aqueles que escolherem suas crenças de acordo com seus princípios e convicções. Não podemos escravizar os outros aos nossos pontos de vista. Cada um acredita naquilo que é verdade para si.
Entretanto, medite por algumas horas, a meditação lhe traz paz interior. Escute e cante música, ela pacifica o coração. Podemos aprender com as experiências de outras pessoas, mas não podemos viver das experiências que são dos outros. Cuide da sua dimensão espiritual.