por Ricardo Arida
A literatura científica mostra que indivíduos com diagnóstico de esquizofrenia apresentam saúde física comprometida.
A saúde física reduzida está relacionada a múltiplos fatores de risco, tais como o sedentarismo, má alimentação, sintomas psiquiátricos e efeitos colaterais da medicação antipsicótica, muitos dos quais estão associados com menor condição física.
Indivíduos com esquizofrenia praticam menos atividades físicas em relação à população saudável.
Neste contexto, estudos mostram que o exercício físico exerce efeitos benéficos sobre a saúde física e mental e portanto, pode servir como tratamento complementar para pessoas com esquizofrenia. Por exemplo, estudo recente mostrou que o exercício físico, quando realizado uma a duas vezes por semana, durante uma hora, diminuiu os sintomas de esquizofrenia e depressão e melhorou a condição cardiovascular em pacientes com esquizofrenia em comparação com a terapia ocupacional (1).
Apesar desses resultados serem animadores, não existe informações consistentes sobre os efeitos neurobiológicos do exercício físico em pessoas com esquizofrenia. Nesse sentido, um estudo de revisão publicado recentemente na revista Disability and Rehabilitation (2) analisou os estudos que avaliaram os efeitos do exercício em indivíduos com esquizofrenia. Apenas poucos estudos têm abordado este tópico. O aumento no volume do hipocampo (região relacionada à aprendizagem e à memória) foi observado em indivíduos com esquizofrenia que praticavam exercício regular (3).
Em outro estudo, uma melhoria na aptidão cardiorrespiratória foi associada com menor atrofia do córtex (4). Ainda, o aumento no volume do hipocampo após o exercício físico foi associado com uma melhora na memória (5). Essa melhora na memória é clinicamente relevante, pois déficits cognitivos já ocorrem em uma fase inicial da doença.
Estes estudos sugerem algumas hipóteses para um aumento do volume cerebral resultante da melhoria da aptidão física como um aumento da produção de fatores *neurotróficos, melhora da vascularização cerebral e da neurogênese (produção de novos neurônios).
Novas pesquisas são necessárias para esclarecer os mecanismos neurobiológicos associados ao exercício e explorar com mais detalhes quais regiões do cérebro são mais influenciadas pelo exercício físico.
*Os fatores neurotróficos constituem um grupo heterogêneo de peptídeos que regulam os processos de proliferação, desenvolvimento e diferenciação de neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios, permitindo a comunicação entre as células.
1 – Exercise therapy improves mental and physical health in schizophrenia: a randomised controlled trial. Scheewe TW, Backx FJ, Takken T, Jörg F, van Strater AC, Kroes AG, Kahn RS, Cahn W. Acta Psychiatr Scand. 2013;127(6):464-73.
2- Vancampfort D, Probst M, De Hert M, Soundy A, Stubbs B, Stroobants M, De Herdt A. Neurobiological effects of physical exercise in schizophrenia: a systematic review. Disabil Rehabil. 2014.
3- Pajonk FG, Wobrock T, Gruber O, et al. Hippocampal plasticity in response to exercise in schizophrenia. Arch Gen Psychiatr 2010;67:133-43.
4- Scheewe TW, van Haren NE, Sarkisyan G, et al. Exercise therapy, cardiorespiratory fitness and their effect on brain volumes: a randomised controlled trial in patients with schizophrenia and healthy controls. Eur Neuropsychopharmacol 2013;23:675-85.
5- De Herdt A, Wampers M, Vancampfort D, et al. Neurocognition in clinical high risk young adults who did or did not convert to a first schizophrenic psychosis: a meta-analysis. Schizophrenia Res 2013;149:48-55.