por Ricardo Arida
A epilepsia é considerada a condição neurológica crônica mais comum no mundo, afetando aproximadamente 50 milhões de pessoas de todas as raças, sexos, condições socioeconômicas e regiões.
Terapias não farmacológicas, incluindo a medicina alternativa e complementar são frequentemente usadas por pessoas com epilepsia, muitas vezes sem o conhecimento de seus médicos. O exercício físico é raramente citado como uma terapia complementar, ainda que os efeitos benéficos do exercício sejam cada vez mais documentados na literatura, tanto para o controle das crises como para a melhoria da qualidade de vida.
Pessoas com epilepsia são frequentemente aconselhadas a evitar exercícios físicos supondo que a atividade física possa causar crises epilépticas. No entanto, muitos estudos da literatura científica têm mostrado que a atividade física pode diminuir a frequência de crises, bem como levar à melhoria da saúde cardiovascular e psicológica em pessoas com epilepsia (Arida et al., 2010). Por exemplo, as alterações eletrencefalográficas (EEG) diminuem durante ou imediatamente após o exercício na maioria dos pacientes estudados.
Tem sido observado que um menor número de crises ocorre durante a atividade física e mental em comparação com períodos de descanso, sugerindo que uma maior atenção e vigilância durante a atividade física pode reduzir sua ocorrência – esportes indicados e contraindicados veja aqui.
Apesar dos efeitos benéficos do exercício físico na epilepsia, não existe informação consistente na literatura se esses benefícios são totalmente aplicados ao sexo feminino.
Levando em consideração a população geral de pessoas com epilepsia, merece destaque o contingente feminino, por esse apresentar particularidades referentes ao sexo, como o ritmo hormonal cíclico e a gestação.
Vários estudos têm indicado uma grande influência dos hormônios sexuais nos fenômenos ligados a epilepsias. Em mulheres com epilepsia são comuns disfunções reprodutivas e os distúrbios endócrinos. Fertilidade reduzida, diminuição do desejo sexual e da resposta sexual também já foram descritas. Esses distúrbios são particularmente comuns em mulheres com epilepsia do lobo temporal.
Alterações endócrinas e reprodutivas são frequentemente relatadas na mulher com epilepsia do lobo temporal, assim como em ratas nos diferentes modelos experimentais de epilepsia. Nota-se que as constantes mudanças hormonais em fêmeas torna o estudo da epilepsia algo ainda mais complexo, e dessa forma, fica difícil inferir qualquer comentário referente a benefícios ou prejuízos da atividade física no sexo feminino.
O único estudo com humanos que avaliou a influência do exercício físico na epilepsia com a atenção voltada ao sexo feminino mostrou uma diminuição da frequência de crises em mulheres com epilepsia intratável após 15 semanas de treinamento (Eriksen e col., 1994).
Dessa forma, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo publicaram um trabalho que verificou o efeito de programas de treinamento físico na frequência das crises epilépticas em ratas Wistar com epilepsia (Vannucci e colaboradores, 2017).
Foi realizada uma avaliação da frequência de crises antes (30 dias) e após um programa de atividade física (30 dias) (atividade voluntária em roda). Ratas com epilepsia submetidas ao exercício físico apresentaram uma redução do número de crises em comparação com o primeiro que não praticaram atividade física. Estes achados apontam uma efetividade do programa de exercício físico em reduzir a frequência de crises. Futuros estudos são necessários para melhor elucidar os mecanismos envolvidos nesta resposta, assim como para investigar os efeitos dos diferentes tipos de atividade física em mulheres com epilepsia.
Eriksen HR, Ellertsen B, Grønningsaeter H, Nakken KO, Løyning Y, Ursin H. Physical exercise in women with intractable epilepsy. Epilepsia. 1994;35(6):1256-64.
Vannucci Campos D, Lopim GM, da Silva DA, de Almeida AA, Amado D, Arida RM. Epilepsy and exercise: An experimental study in female rats. Physiol Behav. 2017;171:120-126.