Exercício físico pode ajudar a controlar o estresse na gravidez

Nosso organismo mantém um complexo e dinâmico equilíbrio nos níveis sistêmicos, teciduais e celulares que são regulados pelo sistema de controle homeostático, responsável por estabelecer uma estabilidade para que o organismo realize suas funções vitais adequadamente. Um desequilíbrio na homeostase, comumente conhecido como estresse, gera uma resposta do organismo que envolve um eficiente e complexo sistema em que ocorre a modulação de vários níveis no sistema endócrino, no sistema imunológico e no sistema nervoso central, incluindo alterações no aprendizado, na memória e na tomada estratégica de decisão para reagir frente àquele estímulo estressor (Goldstein e Kopin, 2007).



Eventos estressantes: aborrecimentos e chateações crônicos, com o tempo, podem se transformar em angústia   

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É bem conhecido que ao longo da vida, as pessoas estão constantemente expostas a eventos estressantes. De certa forma existem pessoas que com frequência passam por uma série de pequenos eventos estressantes agudos como, aborrecimentos e chateações, que vão se tornando mais tardiamente crônicos, manifestando-se em angústia, fadiga, perda de energia, aumento da irritabilidade e ansiedade. Por outro lado, existem pessoas em que estes pequenos eventos estressantes são percebidas como ameaças severas, levando por um curto período de tempo a alterações psicológicas e fisiologicas (Deak et al., 1999).

Estresse e gestação

Assim, situações estressantes podem ocorrer em qualquer momento na vida do indivíduo. Estudos mostram que durante o período gestacional, situações como problemas financeiros, de relacionamento, luto, dificuldades cotidianas, viver em grandes centros, problemas de saúde, tabagismo assim como o convívio em ambientes que ocorram conflitos, contribuem de forma considerável nas complicações na gestação e/ou durante o parto em aproximadamente 18% (Marteau e Bekker,1992; Rubertsson et al., 2011). Por exemplo, filhos expostos a situações estressante durante a gestação, apresentaram um risco aumentado que envolve desequilíbrios físicos e psicológicos, bem como relacionados a doenças psiquiátricas e neurológicas ao longo da vida, como, o transtorno bipolar (Kleinhaus et al., 2013), esquizofrenia (Fineberg et al., 2016) psicoses (Betts et al., 2014), depressão e ansiedade (Brown et al., 2000), e epilepsia (Thébault-Dagher et al., 2017).

Exercício físico: estratégia terapêutica no controle do estresse na gravidez 

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Em contrapartida, o exercício físico é apontado como uma estratégia terapêutica benéfica auxiliando no controle do estresse durante o período gestacional. Gestantes praticantes de exercício físico apresentam prevenção e redução de lombalgias, melhora do sistema cardiovascular, fortalecimento da musculatura pélvica, redução de partos pré-maturos e cesáreas, controle do ganho de peso e elevação da autoestima (Hartmann e Bung, 1999).

Filhos


Em relação aos filhos, as evidências científicas sugerem que o exercício físico pré-natal pode gerar benefícios na cognição. Por exemplo, Clapp e colaboradores (1996), mostraram melhor desempenho em testes de inteligência e habilidade na linguagem em filhos com 5 anos de idade de mães que exercitaram durante a gravidez.

Estudo mais recente mostrou que filhos (6-18 anos de idade) de mães fisicamente ativas durante a gestação apresentaram maiores escores em matemática e linguagem em relação aos filhos de mães inativas (Esteban-Cornejo et al., 2016). Estes resultados indicam que um estilo de vida ativo durante o período pré-natal pode ter maiores benefícios para o desempenho acadêmico dos filhos.

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Estudo recente 

Uma pesquisa recente que analisou a severidade de crises convulsivas febris em filhos de mães que vivenciaram situações de estresse durante a gravidez mostrou um aumento na intensidade e duração das crises, bem como, um aumento no nível de cortisol sanguíneo nos filhos das mães estressadas (Gholippor et al., 2017). Ainda, em outro estudo, a ansiedade materna no segundo trimestre de gestação mostrou estar diretamente relacionada com a idade da primeira crise febril em relação aos filhos de mães que não relataram situações de estresse durante o período gestacional (Thebault-Dagher et al., 2017).

Estudo inédito UNIFESP

Estudo inédito conduzido no Laboratório de Neurofisiologia/Departamento de Fisiologia da  Universidade Federal de São Paulo por Lopim e colaboradores (2019), publicado na revista Developmental Psychobiology, utilizou um modelo animal de estresse e/ou exercício físico durante o período gestacional para verificar os efeitos do exercício físico pré-natal em ratas gestantes que foram estressadas no mesmo período. Os resultados desse estudo mostraram que o estresse em ratas durante toda a gestação, causou déficits comportamentais negativos nos seus filhotes, quando submetidos a um insulto convulsivo cerebral. Porém, o exercício físico durante o mesmo período foi capaz de reduzir esses danos (Lopim et al., 2019). Esses dados tornam-se importantes pois estudos demonstram que o estresse durante o período gestacional pode atuar como um fator convulsivo na prole (Hashemi et al., 2013).

Dessa forma, o exercício físico, quando praticado com regularidade age favoravelmente no neurodesenvolvimento, desde o momento da concepção até fases mais tardias da vida pós-natal. Estratégias preventivas podem ser efetivas para a redução dos filhos a predisposição a doenças neurológicas e psiquiátricas.

Referências   

Goldstein DS, Kopin IJ. Evolution of concepts of stress. Stress. 2007;10(2): 109-120. 

Deak T, Nguyen KT, Fleshner M, Watkins LR, Maier SF. Acute stress may facilitate recovery from a subcutaneous bacterial challenge. Neuroimmunomodulation. 1999;6: 344–354.

Marteau TM, Bekker H. The development of a six-item short-form of the state scale of the Spielberger State-Trait Anxiety Inventory (STAI). Br J Clin Psychol. 1992;31(Pt 3): 301-306.

Rubertsson C, Borjesson K, Berglund A, Josefsson A, Sydsjo G. The Swedish validation of Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) during pregnancy. Nord J Psychiatry. 2011;65: 414–418.

Kleinhaus K, Harlap S, Perrin M, Manor O, Margalit-Calderon R, Opler M,Friedlander Y, Malaspina D. Prenatal stress and affective disorders in a population birth cohort. Bipolar Disord. 2013;15(1): 92-99.

Fineberg AM, Ellman LM, Schaefer CA, Maxwell DS, Shen L, Chaudury NH, Cook AL, Bresnaham MA, Susser ES, Brown AS. Fetal exposure to maternal stress and risk for schizophrenia spectrum disorders among offspring: Differential influences of fetal sex. Psychiatry Research. 2016;236: 91-97. Betts KS, Williams GM, Najman JM, Scott J, Alati R. Exposure to stressful life events during pregnancy predicts psychotic experiences via behaviour problems in childhood. J Psychiatr Res. 2014;59: 132-139. 

Brown AS, van Os J, Driessens C, Hoek HW, Susser ES. Further evidence of relation between prenatal famine and major affective disorder. Am J Psychiatry. 2000;157(2): 190-195. 

Thébault-Dagher F, Herba CM, Séguin JR, Muckle G, Lupien SJ, Carmant L, Simard MN, Shapiro GD, Fraser WD, Lippé S. Age at first febrile seizure correlates with perinatal maternal emotional symptoms. Epilepsy Res. 2017;135: 95-101.

Hartmann S, Bung P. Physical exercise during pregnancy: physiological considerations and recommendations. J Perinat Med 1999; 27: 204-15.

Clapp JF, Litlle KD. Effect of recreational exercise on pregnancy weight gain and subcutaneous fat deposition. Med Sci Sports Exerc 1995; 27: 170-177.

Esteban-Cornejo I, Martinez-Gomez D, Tejero-González CM, Izquierdo-Gomez R, Carbonell-Baeza A, Castro-Piñero J, Sallis JF, Veiga OL; UP & DOWN Study Group. Maternal physical activity before and during the prenatal period and the offspring’s academic performance in youth. The UP&DOWN study. J Matern Fetal Neonatal Med. 2016;29(9): 1414-1420.

Lopim GM, Gutierre RC, da Silva EA, Arida RM. Physical exercise during pregnancy minimizes PTZ-induced behavioral manifestation in preantally stressed offspring. Dev Psychobiol. 2019; Sept. 20.

Hashemi P, Ebrahimi L, Saboory E, Roshan-Milani S. Effect of Restraint Stress during Gestation on Pentylenetetrazol-Induced Epileptic Behaviors in Rat Offspring. Iran J Basic Med Sci. 2013;16(9): 979-984.