por Ricardo Arida
Na década de 90, pesquisadores mostraram que o exercício físico afeta positivamente o cérebro. Foi mostrado que camundongos com acesso à corrida em roda, produziam muito mais células em uma área do cérebro relacionada à memória (hipocampo) que animais que não faziam exercício físico.
Os animais exercitados apresentavam melhor desempenho em testes de memória em comparação com os animais sedentários.
Desde então, os cientistas trabalham para entender os mecanismos pelos quais os exercícios físico melhoram a memória, assim como a ação de diferentes tipos de exercício, como exercício aeróbio e de força (com pesos) afetam beneficamente o cérebro.
Dois novos estudos, um envolvendo humanos e outro animais, sugerem que o exercício regular pode melhorar significativamente a memória. Essas informações podem oferecer um incentivo para o crescente número de pessoas que estão entrando na faixa etária (idosos) de maior risco para o declínio cognitivo. Entretanto, parece que diferentes tipos de exercício, como o exercício aeróbio ou de força afetam o cérebro de forma diferente.
Os recentes estudos fornecem alguns esclarecimentos adicionais e inovadores sobre essas questões. No estudo com humanos, publicado no "The Journal of Aging Research" (1), foram recrutados mulheres idosas (70 a 80 anos) com comprometimento cognitivo leve, considerado como fator de risco para demência. Voluntárias que participavam de atividade aeróbia (caminhada) ou de resistência muscular (pesos) duas vezes por semana durante seis meses apresentaram melhores resultados nos testes de memória. Embora ambos os grupos de exercício apresentassem melhora em testes de memória espacial, as mulheres do grupo de exercício aeróbio (caminhada) apresentaram maiores ganhos nos testes de memória verbal do que as mulheres do grupo de força (pesos). Esses resultados sugerem que o treinamento aeróbio e de musculação podem exercer diferentes efeitos fisiológicos no cérebro e causam melhorias em diferentes tipos de memória.
Esses resultados estão de acordo com achados de outro estudo recente no qual ratos foram submetidos à atividade aeróbia ou de força (2). Após seis semanas de treinamento, os animais de ambos os grupos de exercício mostraram melhor desempenho em testes de memória.
O grupo de pesquisadores mostraram que os animais que faziam atividade aeróbia apresentaram níveis elevados de uma proteína BDNF, ou fator neurotrófico derivado do cérebro, que exerce vários efeitos no sistema nervoso central, como crescimento, diferenciação e reparo dos neurônios. Animais submetidos à atividade com pesos não mostraram aumento dos níveis de BDNF, entretanto, tinham níveis significativamente mais altos de um outro fator de crescimento no cérebro e no sangue (IGF-1- Fator do Crescimento do Tipo Insulina 1) que também promove a divisão e crescimento celular.
Esses dados sugerem que a utilização de exercícios leves aeróbios e com pesos são aconselháveis para a melhora da função cerebral. Esses resultados mostram que diferentes tipos de exercício ativam seletivamente diferentes proteinas e mecanismos moleculares no cérebro. Considerando que existem várias formas para melhorar a condição física, esses estudos sugerem que as pessoas podem obter benefícios cognitivos a partir de uma variedade de opções de atividades físicas.
1- Nagamatsu LS, Chan A, Davis JC, Beattie BL, Graf P, Voss MW, Sharma D, Liu-Ambrose T. Physical activity improves verbal and spatial memory in older adults with probable mild cognitive impairment: a 6-month randomized controlled trial. J Aging Res. 2013;2013:861-893.
2- Cassilhas RC, Lee KS, Fernandes J, Oliveira MG, Tufik S, Meeusen R, de Mello MT. Spatial memory is improved by aerobic and resistance exercise through divergent molecular mechanisms. Neuroscience. 2012;202:309-17.