por Carlos Hilsdorf
Todos nós, independente da nossa religião, deveríamos ler Eclesiastes. As grandes reflexões e as grandes verdades são patrimônio da humanidade, não pertencem a esta ou aquela escola religiosa.
A questão da vaidade é uma das grandes questões a serem resolvidas em nossa jornada de espiritualização. Uma imensa variedade das ações, sonhos e anseios da humanidade não passam de delírios do ego e resultam somente em "correr atrás do vento".
Nós achamos graça de um cachorro correndo atrás do próprio rabo e nos esquecemos que estamos correndo atrás do vento. Nesta época de culto às "celebridades" nunca se correu tanto atrás do vento.
A verdade é que precisamos de pouco, muito pouco, para sermos felizes, mas a vaidade nos faz acreditar que é preciso muito. Somos todos pequenos aprendizes na arte de viver, mas a vaidade nos faz acreditar sermos grandes Ph.Ds.
Deixar a vaidade no comando nos conduz a desastres existenciais por uma razão muito simples: ela nos afasta da nossa essência para nos iludir com um mundo de aparências.
Não falo da vaidade que é sinônimo de cuidar de si mesmo, de procurar estar bem, de bem com a vida, sentir-se em harmonia estética. Isso, dentro dos limites do bom senso e da moderação, é sinal de saúde emocional, não de patologia.
A vaidade perigosa é aquela que caminha paralelamente à ignorância, arrogância e orgulho. Essa vaidade cega e ensurdece as pessoas. É uma força magnética com tal atratividade, frente às pessoas menos preparadas para reconhecer ilusões, que não espanta o número de vidas que destrói todos os dias. Essa vaidade te coloca no alto e depois retira a escada: o tombo e as consequências são inevitáveis…
A vaidade faz você acreditar ser quem você não é, e faz de você o centro do universo. Ora, o universo não possui centro e se possuísse, seria, no mínimo, megalomaníaco acreditar que ele se organizaria ao redor de nós.
A vaidade e a arrogância não são existências reais, são delírios causados pela ausência da humildade.
Quanto mais patologicamente vaidosa é uma pessoa, mais vazia é na realidade. Pessoas assim fazem do "correr atrás do vento" uma maneira de fugirem de si mesmas, fugirem do encontro que não querem ter com a realidade de suas existências comuns, absolutamente comuns, como de fato é a existência de todos nós, e isso inclui as pessoas verdadeiramente geniais.
Os gênios autênticos, os verdadeiros mestres e artistas são humildes, sequer se sentem possuidores das virtudes, habilidades, talentos e capacidades que os caracterizam. A genialidade vaidosa é caminho para a loucura, e não faltam na história da humanidade os exemplos de suas consequências (Van Gogh, Nero, Hitler, apenas para citar alguns).
A vaidade oculta o canteiro de obras da alma humana e apresenta a maquete de um edifício que não entregará jamais…
Enquanto corremos atrás do vento, das coisas que não têm importância, das conquistas irrelevantes e de "maquiagem para as olheiras da alma", a vida passa, o tempo passa, passam as oportunidades, os amigos passam…
Vida é o que acontece enquanto corremos atrás do vento. Crescemos, abandonamos os brinquedos da infância, mas os substituímos por brinquedos perigosos, brinquedos que destroem: uma vida de sensualidade, uma vida materialista, uma vida de aparências.
Nos brinquedos da sensualidade as pessoas buscam aventuras efêmeras para sanearem o vazio de corações que não aprenderam a amar. Nos brinquedos de uma vida materialista, as pessoas buscam na roupa cara e no carro luxuoso disfarçar o modelo antiquado do ser "empobrecido" por falta de alimento para a alma. Na vida de aparências as pessoas embarcam em uma viagem que as distancia cada vez mais de onde querem chegar.
Nada poderá suprir suas carências, preencher seu vazio interior e conduzi-lo aonde você quer chegar, enquanto a vaidade estiver no comando.
A vaidade mente, ilude e distorce – essas são as suas artimanhas – faz você pensar que é o máximo para te ver reduzido ao mínimo…
Vença a vaidade e você começará a "correr" atrás de coisas que valem a pena serem conquistadas. Alias, não precisará correr, porque elas estão ao alcance do pensamento e do coração, todas as outras conquistas autênticas são consequências do despertar da consciência e da capacidade de amar.
Corações vaidosos não amam sequer a si próprios! Corações vaidosos e mentes vaidosas apenas enganam, primeiro a si mesmos, depois aos outros…
Pare de correr atrás do vento, até os loucos desistem de alcançá-lo…
Por que você insiste?
No exato momento em que você se libertar da ilusão da vaidade, verá a sua real imagem refletida no espelho da existência: não se assuste! O fato de não ser quem você achava que era é irrelevante. O importante é o fato de que você pode tornar-se alguém pleno, desperto e humilde e, então o vento soprará a seu favor e você não precisará mais persegui-lo…
Aqueles que puderem entender, que entendam… Assim é o Eclesiastes, assim é a vida…
Ah, a propósito, a maior das vaidades é acreditar não possuí-la!