por Renato Miranda
O esporte quando é eleito como atividade principal na vida de uma pessoa, especialmente a partir da adolescência, período em que muitos talentos são revelados, é natural que o treinamento e as demandas competitivas impõem dedicação especial dos jovens que passam a ser considerados atletas.
O sistema imposto pela continuidade de treinamentos diversos, é reconhecido como sistema de treinamento, ou seja, a composição de uma rotina planejada e com variadas interseções dos aspectos físicos, técnicos, táticos e psicológicos que orientam a vida desses jovens atletas.
A perenidade dos estímulos diversos e progressivos com o tempo (especialmente por muitos anos!), tanto nos aspectos físico e mental como emocional, denominados, portanto, psicofisiológicos, produzem o pretenso desenvolvimento dos atletas.
São as sucessivas adaptações psicofisiológicas que geram melhores resistências e forças atléticas às exigências do esporte, tanto nos treinamentos como nas competições. Nesse processo contínuo de esforço para ficar mais resistente aos diversos estímulos é que se verifica a evolução do treinamento.
Pode-se dizer que este processo descrito acima é um fenômeno conhecido como estresse do treinamento. Ao considerar que tais estímulos psicofisiológicos se caracterizam como estresse que por sua vez proporcionarão desenvolvimento funcional e eficaz, portanto, nós estamos diante de um fenômeno positivo do estresse.
Decorre que nem sempre tal estresse provocado pelo sistema de treinamento ou esportivo acarreta uma adaptação positiva ao estresse.
A relação entre estímulos, reações e adaptações que formam a estrutura do estresse no treinamento, por vezes, por muito tempo e por variados motivos, notadamente os relacionados às pressões excessivas por melhorias de desempenho, acarretam adaptações negativas e em muitos casos, extremas, provocando com isso reações negativas. Como por exemplo: dores musculares constantes suscetíveis a lesões, fadiga crônica, distúrbios importantes no humor e sono, irritabilidade interpessoal e outras reações negativas.
Quando o atleta experimenta por muito tempo tais demandas excessivas e contínuas, possivelmente surgirá uma exaustão psicofisiológica, como resposta a esse estresse crônico. Tal exaustão provoca reações negativas multidimensionais, como desgaste físico e emocional excessivos, insatisfação pessoal, introspecção demasiada, afastamento social e conflitos internos (inconscientes) em relação ao próprio esporte.
O conjunto de tais reações negativas ao estresse do treinamento é conhecido como burnout, expressão consagrada do inglês que significa em uma tradução livre, esgotamento ou exaustão psicofisiológica como resposta ao estresse crônico, provocado por exigências (demandas do treinamento) excessivas.
Por mais que os esforços frequentes do atleta na tentativa de se adaptar a essas demandas excessivas do esporte, a fim de superar as exigências do treinamento e competições, em burnout, tais esforços são geralmente ineficazes. Tais demandas são de origem física, psicológica (particularmente emocional) e social (frequentemente relacionada à expectativa da melhoria do desempenho e resultados de outras pessoas).
Especialmente o burnout é um fenômeno que se manifesta após um período relativo de vivências na atividade. Portanto, as dimensões físicas, psicológicas associadas às sociais devem ser frequentemente observadas por aqueles profissionais que convivem com os atletas, pois são os sintomas de origem física e psicológica que observados constantemente podem prevenir o burnout.
Como a manifestação do esforço humano no esporte pode ser referenciado como em qualquer atividade ou profissão, é fácil observar que o burnout está associado ao trabalho e particularmente àqueles que lidam com pessoas diariamente, por muito tempo; e a exigência do alto desempenho é constante.
No texto a seguir falarei dos estágios do burnout, do aspecto social e dos sintomas desse fenômeno que parece ser um dos grandes desafios da saúde física e mental de muitos atletas e trabalhadores.