por Angelo Medina
O que seriam os mistérios da alma? Quais são? Existe um principal? Quem responde essas questões é o médico psiquiatra e psicanalista Luiz Alberto Py. Nesta entrevista exclusiva, Py revela os Mistérios da Alma nome de seu novo livro, onde comenta em suas páginas frases pinçadas de um livro, da sabedoria popular, de um pensamento.
Py colabora no Vya Estelar e revisita aqui verdades que ainda buscamos – os eternos mistérios que a alma humana carrega desde tempos imemoriais.
Vya Estelar – Por que o livro se chama Mistérios da Alma? Aliás, o que seriam esses mistérios?
Luiz Alberto Py – O título do livro é o mesmo da coluna que assinei semanalmente, durante quase dez aos no jornal O Dia. Criei este título porque na coluna eu tratava de questões emocionais, da alma, e procurava solucionar os mistérios que os leitores me traziam, por carta ou por e-mail.
Vya Estelar – Na sua opinião, qual seria o maior anseio da alma?
Luiz Alberto Py – Penso que estamos no mundo para sermos felizes. Muitas coisas contribuem para a felicidade, mas não se pode perder de vista o fato de que a felicidade é um estado de espírito interno, que nada tem a ver com o que se passa ao redor. Acho que um dos elementos da felicidade é o desenvolvimento da espiritualidade, em um sentido amplo da palavra. Vejo a espiritualidade relacionada com caráter, atitude, anseios, realizações, algo como a necessidade de responder à pergunta; “Qual é o sentido de minha vida”.
Vya Estelar – O viciado é uma alma em busca de uma religião. Sobre essa frase do livro, o senhor acha que o ponto em comum entre religião e drogas seria a busca da felicidade?
Luiz Alberto Py – Na verdade o que caracteriza o viciado é a existência de uma depressão subjacente. A religião, no sentido dessa frase, é a esperança de uma cura para a depressão. Muitas drogas têm efeitos sobre a percepção e a ideação, o encadeamento do pensar. Algumas delas são usadas em rituais religiosos, desde algumas ervas comuns em culturas americanas até o álcool usado em rituais cristãos.
Vya Estelar – Para o senhor o que é felicidade, existe diferença entre alegria e felicidade?
Luiz Alberto Py – Felicidade, como eu disse antes, é, para mim, um estado de espírito interno que independe do que acontece à nossa volta. Vejo uma diferença fundamental e instrutiva entre felicidade e alegria. Podemos ser felizes mesmo quando estamos tristes, pois a tristeza é causada pelo que acontece enquanto que a felicidade está dentro de nós, pelo fato de estarmos vivos e usufruindo – do jeito que for possível – a vida. A tristeza é provisória e a felicidade é permanente e certamente possível para todos nós. Ser feliz é um aprendizado. Para mim, o objetivo mais importante de uma terapia – e também das coisas que escrevo – é ajudar as pessoas a se encontrar com a sua felicidade.
Vya Estelar – Somos o que pensamos?
Luiz Alberto Py – Somos o que pensamos além de sermos muitas outras coisas, inclusive o que os outros pensam de nós. Maus pensamentos nos fazem mal, assim como os bons nos fazem bem. Alguém já disse que ter raiva é tomar veneno na esperança de matar o inimigo.
Vya Estelar – É possível mudar o modo de agir (atitudes) a partir de uma frase bem elaborada. Ou teoria e prática são muito distantes?
Luiz Alberto Py – Acredito nessa possibilidade de mudança. Isto me leva a trabalhar como terapeuta e a escrever. Mas minha crença não é gratuita, ela nasceu da experiência de ver as pessoas melhorarem a partir de uma frase, algumas palavras.
Vya Estelar – Experiência não é o que nos acontece, mas o que fazemos com o que acontece. Que lição podemos tirar dessa frase?
Luiz Alberto Py – Acho que a importância dessa idéia reside na possibilidade que a vida nos oferece de aprender a partir do que vivemos e experimentamos, desde que a gente esteja atento para as lições que podem ser tiradas de cada situação vivida.
Vya Estelar – Já vivi muito e sofri muitos problemas; mas a maioria deles nunca aconteceu. Creio que a grande lição dessa frase seja viver o momento presente, estar com a mente voltada para o dia de hoje e, se possível, concentrada em cada ação que você estiver fazendo. O que o senhor acha?
Luiz Alberto Py – Nós somos culturalmente induzidos a nos preocupar excessivamente com o futuro, quase que tentando viver nele, o que me parece um erro terrível. Esta frase é um bom toque: deixe de ser bobo e de sofrer com coisas que não existem e não vão acontecer. Aí entra sua interpretação: viva e saboreie o presente, cada dia por sua vez. Embora nós, como humanos, tenhamos a possibilidade de focalizar o futuro como nenhum outro animal neste planeta, o que nos possibilita antever, preparar e até por vezes prever o futuro, fazendo dele algo melhor do que seria se não fossemos capazes de pensar nele.
Vya Estelar – A forma como vivemos a vida determina o modo como encaramos a morte?
Luiz Alberto Py – Penso que sim. A vida vivida com plenitude nos permite ter uma atitude muito mais tranqüila e serena em relação à morte do que quando nos sentimos em dívida com nós mesmos por não termos feito o que queríamos, poderíamos e deveríamos. Tudo o que deixamos para depois vira uma dívida para nós mesmos que a morte nos impede de quitar.
Vya Estelar – Dentre as diversas frases do livro, se o senhor fosse escolher uma para pautar o dia-a-dia no sentido de se buscar bem-estar, qual o senhor escolheria?
Luiz Alberto Py – As diferentes frases respondem a estados de espírito muito diversos entre eles. Algumas servem como conselhos, outras como advertências. De todas elas eu escolheria aquela que nos estimula a imaginar que tudo o que nos acontece, principalmente as coisas que consideramos ruins, nos leva ao crescimento espiritual.