por Danilo Baltieri
"Quando fumo maconha, fico com um enorme tesão e uma ótima ereção. Mas queria acabar com esta dependência."
Resposta: Substâncias psicoativas, como álcool, maconha, cocaína, ecstasy são utilizadas por muitos jovens a partir da presunção de que as mesmas têm efeito “afrodisíaco”.
De fato, em baixas doses, devido principalmente à redução da inibição provocada por essas drogas, o consumo de determinadas substâncias pode dar a sensação de aumento do interesse e excitação sexual.
No entanto, é bem reconhecido na literatura científica que todas essas substâncias, além dos seus efeitos subjetivos de excitação sexual, afetam negativamente as fases da resposta sexual normal principalmente através do consumo prolongado.
O álcool, por exemplo, tem efeitos tóxicos diretos sobre as gônadas (testículos e ovários) e sobre o fígado (aumentando o *catabolismo da testosterona); a cocaína pode induzir disfunção erétil através de vários mecanismos biológicos (por exemplo, induzindo **hiperprolactinemia), e a maconha, em altas doses, pode alterar o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal que é responsável pela resposta hormonal sexual.
No entanto, apesar de fatos como esses, muitos jovens mantêm o consumo dessas substâncias como uma forma de “melhor apreciar o sexo”.
Substâncias psicoativas e desempenho sexual
Sempre quando nos fazemos a pergunta “qual o relacionamento entre consumo de substâncias psicoativas e desempenho sexual”, temos que levar em consideração dois aspectos: o efeito farmacológico da droga usada e o efeito da perspectiva do usuário diante do consumo.
No caso da maconha, por exemplo, a sensação de redução da ansiedade e as alterações sensoriais podem favorecer que alguns indivíduos se aproximem das suas parceiras e se sintam mais “confortáveis” com isso; quanto ao efeito da “perspectiva”, alguns indivíduos acreditam que a partir do consumo da droga, o seu desempenho sexual será melhor, bem como terá mais coragem para se aproximar de possíveis parceiras.
Substâncias psicoativas e sexo desprotegido
Existem alguns casos onde o consumo de substâncias psicoativas é realizado em conjunto com atividades sexuais incomuns e, por vezes, perigosas ou arriscadas. É bem descrito na literatura especializada que o consumo de substâncias está associado com atividades sexuais desprotegidas, por exemplo.
Além disso, cerca de 30 a 40% dos indivíduos com comportamentos sexuais impulsivos (dependentes de sexo) têm problemas com o consumo de substâncias psicoativas; cerca de 30 a 55% dos indivíduos que cometeram atos sexuais criminosos têm problemas com o consumo de substâncias. Trata-se, portanto, de matéria extremamente complexa que envolve inúmeros aspectos psicobiológicos.
A sua preocupação com o consumo de maconha é louvável. Você deve procurar um especialista no assunto, expor a sua história completa e começar um tratamento adequado. Existem várias formas de tratamento para o abuso ou dependência de cannábis. Em algumas situações, além do consumo problemático de maconha, podem existir outros problemas que precisam ser corretamente avaliados e tratados por especialistas adequadamente formados nesta matéria. Portanto, mãos à obra!
Por se tratar de assunto bastante denso, forneço abaixo algumas recomendações de leitura:
Saso, L. (2002). [Effects of drug abuse on sexual response]. Ann Ist Super Sanita, 38(3), 289-296.
Baltieri, D. A., & de Andrade, A. G. (2008). Drug consumption among sexual offenders against females. Int J Offender Ther Comp Criminol, 52(1), 62-80.
*Catabolismo: Processo metabólico destrutivo por meio do qual células do organismo transformam substâncias complexas em outras mais simples (Dicionário Aurélio)
**Hiperprolactinemia: aumento da produção do hormônio Prolactina pela hipófise