por Patricia Gebrim
Eu estava pensando outro dia no quanto estamos vivendo um momento muito especial e histórico. Tenho observado um número cada vez maior de pessoas tendo a coragem de sair das caixinhas onde todos fomos colocados ao nascer. Sim, porque a gente nasce e já cai numa caixinha, que de certa forma tenta modelar o mundo e o deixar bem quadradinho ao nosso redor. A tal caixinha é feita de regras sobre como devemos agir. Em geral nos diz para estudar, ter um bom emprego, depois casar, ter filhos, comprar uma casa maior, e por aí vai.
Muita gente ainda leva a vida lá, dentro da caixinha, essa caixinha que segue por trilhos, como uma locomotiva criada há tanto tempo que até esquecemos quem a criou. E lá que vão todos, apertados como sardinha em lata na tal locomotiva, conduzidos por trilhos ancestrais, longe da liberdade de escolher o próprio caminho.
Por outro lado, cada vez mais, tenho visto gente pular da tal caixinha. Às vezes se lançam como malucos de cima da locomotiva em movimento, esses heróis dos tempos modernos que já não acreditam tanto assim na prometida felicidade, nas instituições, naquilo que nos disseram que tínhamos que fazer para sermos felizes.
Saltam em meio ao nada e, talvez com os joelhos esfolados, se veem de um momento para outro olhando a locomotiva passar. A primeira sensação é de alívio, talvez venha da alma essa sensação boa de estar vivo novamente, de sentir o ar fresco preenchendo os pulmões cansados de respirar por tanto tempo um ar pesado e cheio de regras.
Mas em seguida – isso é o que eu tenho observado – vem uma certa angústia.
– E agora? Para onde vou? Que sentido darei à minha vida?
Fora das caixinhas, as pessoas olham ao redor e encontram a vastidão de um mundo desconhecido. Como desbravadores de novas terras não existem trilhas abertas, modelos a ser seguidos. É natural que se sinta um pouco de medo. É natural que se questione a própria sanidade.
– Será que eu não deveria ter ficado lá e seguido como fazem todas as outras pessoas?
Há que se ter coragem para enfrentar a liberdade da vida fora dos trilhos. Há que se resistir à tentação de entrar em outra caixinha, pois existem caixas por toda a parte, querendo nos condicionar, mutilando a liberdade alada de nosso ser.
Se você é uma dessas pessoas, se acabou de saltar da locomotiva em movimento, não tenha pressa demais em encontrar o seu caminho. E resista à tentação de buscar, fora de você, indicações ou direcionamentos. Tudo tem que ser novo. Abra mão dos mapas. Simplesmente fique em contato consigo próprio até que consiga ouvir sua própria voz. Às vezes demora um pouco, principalmente se você ficou sem ouvi-la por muito tempo. Mas não tenha pressa. Sustente o seu movimento, não volte atrás. Confie e tente relaxar. A resposta virá, a cada instante. Você saberá criar uma nova vida para você. Com mais verdade, mais ar e mais alegria. Apenas não desista. Não volte atrás.
Com sorte, e persistência, você encontrará outros como você. E se forem mesmo como você, eles não lhe dirão o que fazer. Pelo contrário, eles incentivarão você a seguir o caminho que lhe fizer mais bem, que tornar seu coração mais leve e sua alma mais visível. Ah, como são valiosas essas pessoas que nos permitem a liberdade de ser. A presença dessas pessoas na nossa vida são como um oásis no deserto. Alimentam nossa sede e permitem que continuemos nosso caminho em direção à verdadeira felicidade.
Não desista, e faça uma boa viagem!