por Roberto Goldkorn
A natureza do meu trabalho de terapeuta me leva a profundidades na busca da Alma humana que fatalmente deságua em descobertas ou redescobertas. Há muito tempo identifiquei um padrão de semelhanças interpessoais que me chamou muito a atenção. Com o tempo passei a brincar com esse achado.
Na semana passada examinando a assinatura de uma cliente, percebi um padrão, mas resolvi extrapolar. Comecei a fazer afirmações sobre ela que conscientemente tangenciavam a vidente de lenço na cabeça e bola de cristal. A cada pergunta-afirmação ela ia respondendo: “sim, sim, sim, é verdade, isso mesmo”, etc.
Ao mesmo tempo em que fazia esse jogo perigoso ia me alumbrando. Mas ela certamente faz parte dessa geração que não se espanta com nada, e que acha qualquer milagre banal, sem maior necessidade de espanto.
Esse fato me levou a outro. Conheci há cerca de dois anos um casal. As “coincidências” dos caminhos percorridos por eles e por mim, causou-me uma estranheza do tipo …estranha. Eles procuraram as mesmas empresas que eu, conversaram com as mesmas pessoas e propuseram projetos quase idênticos aos que propus. O livro que escreveram é praticamente igual ao livro que estou escrevendo secretamente há cinco anos e que não me animo em terminar, com a diferença que a história deles se passa na Índia e a minha nos Andes. A cada encontro nosso mais “coincidências”, mais caminhos em comum, muitos eu os aponto com a alegre euforia da criança que descobre algo pela primeira vez, outros apenas mordo levemente os lábios e guardo para mim.
Sósias
Acreditem são “coincidências” demais e muitos paralelismos que não resistiriam a uma confrontação estatística para relegá-las ao simples acaso. Isso e os modelos de pessoas-padrão, só me levam a uma conclusão: da mesma forma que existem sósias fisionômicos, existem também sósias mentais. Talvez a genética já tenha uma resposta para isso, talvez haja alguma respostas mística ou oculta em algum templo, ou sociedade secreta, mas se existe não chegou a mim. Por enquanto apenas a constatação de que temos clones mentais e espirituais andando pelas ruas do mundo, pensando os seus pensamentos, sentindo os seus desejos, e sonhando os seus sonhos.
Não atino para a complexidade dessa constatação, se ela for verdadeira é claro, e o que poderíamos tirar de concreto, de útil disso. Mas de uma coisa eu sei, esses seres de espelho são fortemente aparentado conosco, o que acontece a eles pode de uma forma ou de outra acontecer conosco e vice-versa obviamente.
Acredito também que uma observação mais minuciosa das pessoas a nossa volta poderia eventualmente detectar um sósia mental. Não acho que seja fácil encontrar um sósia por aí por dois motivos: Primeiro que se nem mesmo nos conhecemos, não podemos identificar nossos eus-nos-outros andando por aí. Segundo que esses sósias mentais não abundam, são raros como pude constatar ao encontrar o meu dividido em dois depois de 58 anos de olhar (mais ou menos) atento.
De qualquer forma para as mentes inquietas e fuçadoras esse pode ser um campo de pesquisas de possibilidades assustadoramente fantásticas. Por que existem pessoas com caminhos de vida assemelhados? De onde vem essa destinação tão afim? O que isso significa para a ciência? O que significa para o conhecimento humano? Quais as implicações espirituais? Qual a utilidade ou o perigo de encontrarmos os nossos clones mentais? Essas perguntas se respondidas poderiam trazer por via do corolário informações tão preciosas que talvez mudassem o rumo da vida humana na Terra. Ou talvez não, e apenas sorriríamos e tomaríamos um gole de refrigerante como a minha cliente de quem “adivinhei” particularidades muito além da simples especulação.