por Patricia Gebrim
Perfeição só existe em filmes e em contos de fadas. Quanto tempo ainda levaremos para compreender isso?
Os relacionamentos são um espaço de crescimento, existem para trazer à tona, em cada um dos parceiros, aquilo que precisa ser transformado, melhorado, curado. Assim, pressupõe-se que um relacionamento precise ser necessariamente imperfeito para cumprir sua função.
Uma relação perfeita, sem atritos, sem discordâncias, de nada serviria no sentido de proporcionar um espaço evolutivo onde cada um dos parceiros acabará por se transformar em alguém melhor.
Parece óbvio, mas não é o que se observa no dia a dia. Olho ao redor e vejo nos casais o desejo imaturo de encontrar no relacionamento um espaço feito unicamente de leveza, prazer e divertimento. É verdade que no começo costuma ser assim. Mas na medida em que a relação se aprofunda, começam a vir à tona aspectos mais profundos, muitas vezes sombrios, de cada um dos parceiros.
Não é difícil amar nossa luz, nossa alegria, nossas partes mais belas. Difícil mesmo é amar uma pessoa por inteiro. Luz e sombra. Qualidades e defeitos. Amar o SER, de verdade, a carne nua e crua, que é o material de que somos feitos, todos nós. Não há um único ser humano perfeito circulando por aí. Somos todos falhos, com áreas a serem transformadas, com desafios que os relacionamentos trazem à tona. O momento do surgimento da sombra é quando a maior parte dos relacionamentos entra em uma espiral autodestrutiva.
A boa qualidade de um relacionamento é diretamente proporcional à capacidade de seus integrantes de aceitarem, acolherem e lidarem com os aspectos sombrios que, cedo ou tarde, aparecerão. É aí que podemos ver se o tão alardeado amor existia de verdade.
Não é fácil lidar com a sombra. “Nossa sombra é feita de pensamentos, emoções e impulsos que julgamos excessivamente dolorosos, constrangedores ou desagradáveis de aceitar. Portanto, em vez de lidar com eles, nós os reprimimos — e os lacramos em alguma parte de nossa psique (mente), para que não seja preciso sentir o peso e a vergonha que carregamos por conta deles.” fonte: o livro O Efeito da Sombra, Deepak Chopra.
No entanto, não há como estabelecer um relacionamento profundo e duradouro sem que esse espaço onde moram as sombras seja tocado. Inevitavelmente, cedo ou tarde, as sombras surgirão, como fantasmas, a assombrar o relacionamento. Nesse momento há que se fazer uma escolha. Ou os parceiros se unem na tarefa de exorcizar a sombra, ou se permitem ser afastados por ela. Uma relação profunda e verdadeira precisará, necessariamente, passar pelo enfrentamento dessa etapa.
Assim, afirmo que o verdadeiro amor não é para todos. Há que se ter coragem e força para enfrentar a nossa própria escuridão. Há que se ter olhos capazes de atravessar a escuridão alheia em busca da luz que mora dentro desse ser humano, divino e imperfeito, com o qual nos relacionamos. Há que se ser capaz de atravessar as ilusões e, aceitando a realidade, só assim nos tornaremos capazes de encontrar o verdadeiro amor.
“Somente quando temos coragem para enfrentar as coisas exatamente como elas são, sem qualquer autoengano ou ilusão, é que uma luz surgirá dos acontecimentos, pela qual o caminho do sucesso poderá ser reconhecido.”
I Ching