por Dulce Magalhães
Você já parou para pensar como é abstrato o conceito de felicidade?
Afinal o que é isso? Um sentimento? Uma sensação? Uma situação? É difícil dizer o que é felicidade e, normalmente, a gente sai com a resposta de que felicidade é uma medida individual. Que cada um determina o que é felicidade para si mesmo.
Talvez seja de fato assim, entretanto, há alguns sinais comuns de felicidade que podem servir de roteiro básico para todos nós. A face da felicidade pode ser reconhecida sempre, independente de termos ou não a experimentado antes. Por exemplo, ao olharmos a face de uma mãe que segura seu filho nos braços, pela primeira vez. Do desempregado que consegue, finalmente, um trabalho. Do estudante, no dia em que passa no vestibular. Do apaixonado que beija pela primeira vez o seu amor.
São exemplos em que mesmo não se tendo vivido a situação, é possível reconhecer o sentimento. Ou seja, a felicidade é uma capacidade que todos possuímos, mas que só é acionada a partir de alguma situação.
Pelos exemplos dados anteriormente, podemos perceber que a felicidade deriva de alguma conquista pessoal. Porém, mesmo se relacionando a uma conquista, não tem a ver com o objeto alvo da satisfação, mas com o sentimento que proporciona.
Sendo assim, a felicidade é algo que diz respeito a quem somos, e não ao que possuímos. Tem a ver com a forma como valorizamos, respeitamos, entendemos e vibramos com determinada situação, circunstância ou resultado. Na medida que percebemos as dádivas que nos são oferecidas pela vida, criamos mais condições para um ambiente de felicidade.
Valor atribuído e satisfação
Quando nos referimos ao valor dado ao objeto de nosso afeto, estamos nos referindo a uma escala interior, intrínseca, não ao tamanho do investimento. Caminhar uma quadra pode ser tão importante como caminhar todo o caminho de Santiago de Compostela, dependendo da situação. Assim como uma criança pode ficar mais feliz com o humilde brinquedo feito à mão, do que outra criança que tenha recebido um brinquedo de última geração tecnológica. À medida da satisfação é dada pelo valor que atribuímos, não pelo custo ou preço do objeto ou da ação.
Sendo assim, o nível de expectativa e as ambições de uma pessoa representam a medida de sua capacidade de gerar felicidade. Ao esperar muito de algum acontecimento, poderemos nos frustrar. Ao exigirmos demais das coisas, estamos estabelecendo um limite muito alto para vivermos o sentimento da felicidade.
Isso não significa que podemos estar isentos de expectativas, ou que devemos ser pouco ambiciosos. Porém, é válido afirmar que é mais feliz quem possui expectativas razoáveis em relação à vida e ambições mais simples.
Isso porque a expectativa nunca atendida e a ambição nunca satisfeita são insatisfações permanentes, o que impede um sentimento de plenitude, que é o ambiente básico da felicidade.
Muitas vezes o foco que elegemos para gerenciar nossa vida é que está mal direcionado. Podemos estabelecer expectativas em relação ao nosso próprio amadurecimento, e temos poder pessoal para crescer nesse sentido. Contudo se nossas expectativas estão voltadas para as decisões do governo, para o movimento da economia, para o desempenho de outra pessoa, então não temos poder sobre o tema e a possibilidade de frustração é quase certa.
O mesmo se dá com a ambição. Um forte desejo de ser alguém melhor é mais possível de realizar do que um desejo de ter mais coisas. O Ter é muito etéreo, muito impalpável. Ter um bom cargo, ter uma casa, ter um carrão, ter um avião, ter um iate… Enfim, ter é apenas temporário, tudo isso pode nos ser retirado, em algum momento, de um modo ou de outro.
Entretanto, Ser é uma posição mais sólida e permanente. Ser é uma condição íntima, uma conquista pessoal, derivada de progressos diários e constantes, sem retorno. A sabedoria de uma vida bem vivida não se perde nunca, mesmo que se percam todas as posses.
É muito difícil escrever sobre um tema tão abstrato como a felicidade. Todavia, é fundamental que estejamos dispostos a falar, também, sobre questões que estejam além das lutas diárias pela sobrevivência e pelo sucesso. Essas questões não são de menor valor, mas não podem ocupar todo nosso interesse. Ampliar nossa visão das coisas e refletir sobre temas mais profundos é fundamental para que possamos tomar decisões que espelhem, verdadeiramente, nossas aspirações na vida.
Se não pensarmos sobre o que é felicidade, talvez a gente tropece nela sem a reconhecer. Ou se esforce muito para chegar onde não se quer estar.