por Dulce Magalhães
Nas pesquisas de educação hoje sabemos que conhecer um conceito não é suficiente para incorporá-lo, se acrescentarmos a experiência do conceito podemos aumentar o potencial da aprendizagem.
Contudo, a experiência por si mesma não significa que estamos aprendendo. Muitas vezes repetimos erros sucessivamente, mesmo com a experiência nos mostrando que determinado comportamento ou método não é adequado.
Aqui temos um paradoxo, para aprender precisamos experimentar, porém a experiência por si só não significa aprendizagem. Essa é a questão central do processo de perceber, conhecer e saber. A experiência é o meio pelo qual podemos viver este processo, entretanto não é aprendizagem em si, é possibilidade de aprendizagem.
Aliás, por vezes, por termos um longo tempo de experiência em determinado assunto ou contexto, temos a ilusão de dominar determinado conhecimento e nos fechamos para a possibilidade de novas aprendizagens. A experiência, neste caso, acaba sendo um impedimento para novos saberes e não um meio.
Experiência é fundamento, mas não garantia de aprendizagem, então qual a ponte que pode nos levar a incorporar novos conhecimentos? A resposta é a base de todo processo de aprendizagem, a atenção. Colocar um olhar atento que nos permite refletir e compreender o processo. Sair dos modelos automáticos e enxergar através do véu espesso de nossos condicionamentos para ver o momento tal qual ele é e não através de nossas premissas antigas e padrões do passado.
Estar atento significa, essencialmente, estar desperto no momento, aberto para enxergar tudo como algo novo e desfrutar do fluxo do instante sem aprisionamentos em olhares do passado. A experiência é rica e transformadora quando é vivida com atenção e é irrelevante quando passamos por ela inconscientes da realidade presente.
Assim, experiência só gera sentido quando é acompanhada de consciência, esse estado de perfeita atenção. A soma de experiência com consciência é que gerará conhecimento, base onde faremos novas escolhas que pode nos levar à sabedoria.
Nossa sabedoria, portanto, começa com um estado de atenção, que nos proporciona a oportunidade de aprender com a experiência vivida e gerar conhecimento para que novas experiências possam ser vividas num nível superior de performance.
Em outras palavras, podemos dizer que nossa excelência é fruto da qualidade de atenção que colocamos sobre cada experiência, em toda nossa ação, de forma a aprender com ela e ser capaz de obter conhecimento e afetar resultados.
Sendo assim, nossa excelência não depende de nenhum fator externo, mas da qualidade de interação com todos os aspectos externos, criando novas percepções internas, a fonte básica do conhecimento.
Tudo que vemos e vivemos, se feito com atenção, passa pelo ambiente interno modificando-o e promovendo uma expansão de nossa visão e, tendo como consequência uma nova forma de ação. É assim que a experiência nos ensina, quando nos permite fazer diferente, melhor e mais adequadamente.
A métrica que nos garante a aprendizagem é a mudança que alcançamos. Se houver mudança, então significa que aprendemos, do contrário a experiência não foi acompanhada devidamente e perdemos a oportunidade que ela carrega em si de nos transformar.
Contudo, tendo um olhar atento, desperto, antenado com o instante, podemos aprender com a própria experiência e com a alheia. Assim, amplificamos nosso potencial de aprendizagem, pois podemos incorporar as lições vivenciadas por outros, mesmo quando esses mesmos não as incorporam.
É interessante notar que nada está atrelado a nada, a única base de transformação está mesmo calcada na atenção e em sua qualidade e profundidade. Uma atenção que zapeia pela realidade sem se aprofundar em nada, tocando apenas a superfície das coisas também não gera aprendizagem.
A melhor metáfora que talvez possa nos mostrar o verdadeiro e mais completo estado de atenção é "respirar o instante", lembrando que foi da primeira inspiração que surgiu a oportunidade de uma vida autonôma, independente e peculiar.
Nossa atenção tem que ter a qualidade de uma respiração completa. Abrir-se para se deixar inspirar, recebendo as informações e deixando entrar as novas possibilidades existentes, tornar-se pleno do que vê, do que ouve, do que sente naquele instante, depois esvaziar-se totalmente do que se viu e do que se sabe, deixar ir o que já foi e estar totalmente vazio, sem certezas nem conceitos para poder ser novamente inspirado por mais um ciclo de abundante experiência. Esse é método que nos permite estar em sintonia fina com o momento e viver para melhor aprender, aprendendo a viver melhor.